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San Lorenzo, time do papa, vence 1ª Libertadores após 106 anos de vida

San Lorenzo x Nacional-PAR
1 | 1

Do UOL, em São Paulo

13/08/2014 23h07

O futebol desperta sentimentos que nem todos sabem explicar. Um deles é a mística, outro a fé. Ambos serão muito usados pelos torcedores do San Lorenzo, campeão da Copa Libertadores de 2014. No dia 13 de março de 2013, Jorge Mario Bergoglio, fanático pelo clube argentino, se tornou o papa Francisco. No final do mesmo ano, o time se tornou campeão nacional. Oito meses depois, campeão da América do Sul. Há relação direta? Não se sabe. O que fica é a mística e toda a fé do torcedor do San Lorenzo, que viu seu time bater o Nacional-PAR por 1 a 0 nesta quarta-feira e levantar a taça do continente pela primeira vez na história.

É o fim do apelido que perseguia cada fã do clube: Clube Atlético Sem Libertadores da América, lembrando a sigla do time, CASLA. Não mais. Agora, o time tem o principal título da América do Sul em sua sala de troféus. Já o Nacional vê o fim de um sonho que parecia tão impossível para um time tão pequeno, que jamais havia passado da primeira fase da competição. Não deu. Talvez os paraguaios justifiquem da mesma maneira dos argentinos: o papa quis assim. 

Fases do jogo: É até difícil explicar como um time que acaba a Libertadores sem vencer um jogo sequer fora de casa e que perdeu nesta quarta jogou melhor que seu rival, campeão do torneio, na casa dele, com as arquibancadas completamente lotadas. Mas foi isso que o Nacional fez. O time paraguaio pressionou o San Lorenzo desde os primeiros segundos, quando Orué colocou bola na trave, até o final do duelo. Na primeira etapa, o San Lorenzo esteve nervoso, claramente sentindo a pressão de quebrar o tabu que durava 106 anos. Tanto que só chegou com perigo quando Coronel, defensor do Nacional, colocou a mão na bola na área. Ortigoza cobrou em um canto, Nacho Don em outro. Aos 35 minutos, o San Lorenzo começava a sua história mais bela.

Na segunda etapa, o San Lorenzo apostou nos contra-ataques. Mas poucas vezes passou do meio de campo, jamais levando perigo. Teve é que ver o Nacional seguir desperdiçando chances, como a de Bareiro, aos 34 minutos, da linha da pequena área. Um desvio tirou a bola do gol. Jogando como time pequeno, provou que é grande. Conquistou a taça tão sonhada em casa, para explosão de sua torcida no Nuevo Gasómetro. E do papa Francisco, tão distante dali, mas presente na fé de cada torcedor.

O melhor: Cetto e Gentilleti - Difícil eleger um melhor jogador de uma final na qual o time campeão mal atacou, mesmo jogando em casa. Assim, Cetto e Gentilleti, os zagueiros do San Lorenzo, possam ser citados, já que conseguiram não levar gol em 90 minutos de pressão. Torrico, o goleiro, não precisou fazer boas defesas, e os melhores lances do time paraguaio saíram de fora da área. Dentro, a dupla garantiu.

O pior: Coronel - Por qual motivo, no jogo mais importante da história de seu clube, um jogador abriria os braços dentro de sua própria área, sem ser para evitar um gol iminente, já em cima da linha? Talvez Coronel, defensor do Nacional, saiba explicar. Pois foi isso que ele fez em um ataque sem muito perigo do San Lorenzo. O Nacional, até os 34 minutos do 1° tempo, pressionava o rival. Quando Coronel tocou na bola com o braço, em pênalti indiscutível, facilitou o caminho do time argentino rumo à taça.

Chave do jogo: A sorte do San Lorenzo - ou, no caso, as falhas nas finalizações do Nacional. Além da bola na trave de Orué, o time paraguaio deu diversos chutes de fora da área com perigo, fazendo o goleiro Torrico dar vários saltos sem a menor chance de defesa. Mas bola sempre passava raspando a trave. E se não fosse isso, o San Lorenzo provavelmente seria vice. Pois não conseguiu jogar. Em nenhum momento colocou a bola no chão ou usou a arma com a qual humilhou o Bolívar em casa nas semifinais: a bola aérea. Mais uma vez na sorte, conseguiu um pênalti. E o título.

Toque dos técnicos: Se Edgardo Bauza, o técnico do San Lorenzo, mandou o time jogar recuado como fez nesta noite, só levantou a taça da Libertadores por milagre. Porque o time foi pressionado o jogo todo, algo não visto anteriormente no Nuevo Gasómetro na competição. E ele não soube como tirar o time desta pressão do Nacional. Já Gustavo Morinigo, técnico do Nacional, mudou seu time. Aquela equipe retrancada das outras fases sumiu. O Nacional mostrou recursos ofensivos mas, logo quando deu provas de que merecia estar na final, perdeu. O futebol, às vezes, é inexplicável.

Para lembrar:

O San Lorenzo jogou a decisão desfalcado de Ignacio Piatti. O meia, um dos melhores do time argentino durante a competição, foi negociado com o Montreal Impact, do Canadá, antes da final. O contrato foi iniciado no último dia 8, só permitindo ao jogador atuar o jogo de ida.

O clube argentino foi fundado em 1° de abril de 1908. Considerado um dos cinco grandes argentinos, ao lado de Boca Juniors, River Plate, Independiente e Racing, era o único destes sem a principal taça do continente. Até esta quarta-feira.

O Nacional foi o 2° time da história do Paraguai a alcançar a final da Libertadores. O Olimpia é tricampeão, enquanto o Cerro Porteño, o outro grande, está abaixo do Nacional nesta lista.

Sandro Meira Ricci foi o árbitro da decisão na Argentina. Ele também foi o representante do Brasil entre a arbitragem da Copa do Mundo.