Topo

Melhor time da Libertadores é argentino de novo. E Milito é o "Papa" da vez

Após passagem marcante pela Inter de Milão, Milito voltou ao Racing para ser protagonista do time do coração - EFE/ALESSANDRO DI MARCO
Após passagem marcante pela Inter de Milão, Milito voltou ao Racing para ser protagonista do time do coração Imagem: EFE/ALESSANDRO DI MARCO

Guilherme Costa

Do UOL, em São Paulo

10/03/2015 06h00

Esqueça o Corinthians, único brasileiro com 100% de aproveitamento até aqui. Esqueça também o tradicional Boca Juniors, outro que venceu seus dois primeiros jogos. O melhor time da Copa Libertadores de 2015 também é argentino, mas é o Racing. E assim como o San Lorenzo, campeão do torneio sul-americano no ano passado, a história do time de Avellaneda tem uma série de contornos dramáticos, com direito a uma ressurreição e um protagonista. O papel que na temporada anterior foi do Papa Francisco hoje é do atacante Diego Milito.

Nascido na Argentina como Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco foi eleito ao posto atual em conclave realizado no dia 13 de março de 2013. Em dezembro, o San Lorenzo encerrou jejum vigente desde 2007 e conquistou o Campeonato Argentino. Em agosto do ano seguinte, numa campanha emocionante e cheia de lances milagrosos, o time de Almagro ergueu pela primeira vez na história a taça da Libertadores. E o pontífice, torcedor fanático da equipe, virou uma espécie de símbolo de tudo isso.

Milito é mais do que um símbolo do Racing. O atacante começou a carreira no time de bairro Viejo Bueno, mas chegou ao profissionalismo na equipe de Avellaneda. Foi promovido em 1999 e fez sucesso por lá até 2003, quando assinou com o Genoa.

Depois disso, Milito acumulou passagens por Zaragoza, Genoa (de novo) e Inter de Milão. Na equipe milanesa, brilhou nas conquistas da Liga dos Campeões e do Campeonato Italiano da temporada 2009/2010. Foi reserva da Argentina na Copa do Mundo de 2010, na África do Sul.

A trajetória de Milito na Inter de Milão acabou após a temporada 2013/2014. Ao saber que o contrato do atacante não seria renovado, e a diretoria do Racing o procurou. “Coloquem aí as cifras de vocês”, disse o jogador ao receber a proposta. Dinheiro não o impediria de retornar ao time que o revelou. Além disso, Milito é um torcedor declarado da equipe de Avellaneda.

“Senti que, por causa da minha idade, estava na hora. É um sonho vestir mais uma vez a camisa do Racing. Desde que eu saí, minha ideia sempre foi retornar para me aposentar com essa camisa”, disse Milito ao site oficial do time argentino.

Com Milito como referência, o Racing conquistou em dezembro, após vitória por 1 a 0 sobre o Godoy Cruz, o primeiro título argentino desde 2001. O atacante é o único jogador que participou das duas campanhas vitoriosas.

Milito fez apenas seis gols em 19 rodadas do Torneio Transición, mas isso não o impediu de ser protagonista. Com liderança e identificação com a equipe, o atacante afastou os problemas de autoestima e forjou uma equipe que se manteve forte a despeito da saída de Centurión, destaque do ano passado, negociado com o São Paulo.

“É o atual campeão argentino, tem uma proposta definida de jogo e tem atacantes muito importantes, que podem ser mortais em contragolpes”, avaliou o jornalista Elias Perugino, secretário de redação da revista argentina “El Gráfico”.

“O funcionamento coletivo vem desde 2014, quando o Racing foi campeão. Salvo Centurión, que foi para o São Paulo, não houve mais baixas na estrutura titular. É uma equipe com uma ideia de jogo incorporada e desenvolvida. Em um futebol exportador como é o da Argentina, manter uma equipe campeã é um mérito enorme”, completou o jornalista Santiago Lucia, da “Radio Nacional”.

Com a base que havia sido campeã nacional, o Racing voltou à Libertadores após 11 anos. E nas duas primeiras rodadas, o melhor início possível: vitórias sobre Deportivo Táchira (5 a 0 no dia 17 de fevereiro, fora de casa) e Guaraní do Paraguai (4 a 1 no dia 24 de fevereiro, em Avellaneda).

O maior destaque individual do Racing até aqui é o atacante Gustavo Bou, companheiro de Milito no setor ofensivo, autor de seis gols em duas partidas. O time argentino tem o melhor ataque da fase de classificação (marcou nove vezes) e uma defesa que só foi vazada uma vez.

“Saja, o goleiro, é experiente [tem 34 anos] e um dos líderes. É seguro, sóbrio e tem voz de comando; Luciano Lollo, o primeiro marcador no meio-campo, é um dos melhores do país em sua posição; Cierra atua nas duas laterais, é bom cabeceador e tem segurança na hora de sair com a bola; Videla é a cota de sacrifício – aquele que se multiplica em campo para recuperar a bola”, explicou Lucia.

O Racing é um time ofensivo, que marca pressão independentemente de onde os jogos são realizados. E esse combate à saída de bola dos rivais tem relação direta com a presença de Diego Milito, um atacante extremamente participativo. “É o símbolo e a alma da equipe”, resumiu Perugino.

A terceira partida do Racing na fase de grupos da Libertadores está marcada para esta terça-feira (10), às 21h45 (de Brasília), contra o Sporting Cristal.