Blogueiros analisam brasileiros na Libertadores: "Vexame"; "não é normal"
Em 2012, Corinthians e Santos se encaram nas semifinais da Copa Libertadores. Foi o último ano em que ao menos dois times brasileiros alcançaram esta fase da competição continental. Desde então, as semifinais da Libertadores foram alcançadas por no máximo uma equipe brasileira: o campeão Atlético-MG em 2013, o Internacional em 2015, o São Paulo em 2016 e agora o Grêmio em 2017. Na edição de 2014, o Brasil, representado pelo Cruzeiro, parou nas quartas.
Diante de tanto investimento se comparado aos clubes dos outros países, é normal que isso aconteça? É vexame por parte dos times brasileiros? Os blogueiros do UOL Esporte comentam o tema e dão suas opiniões sobre o que acontece e o que precisa ser feito. Confira:
ANDRÉ ROCHA
É vexame por não conseguir transformar o abismo de investimento no continente em equipes fortes, com desempenho que se transforma em resultados. Falta atualizar conceitos de jogo, trabalhar mentalmente da maneira certa, sem espírito bélico ou a "pilha" errada. Qualquer equipe mais organizada cria problemas para nossos times que ainda acreditam em "cegos", peso da camisa por si só e reunião de individualidades sem o devido trabalho coletivo.
Na prática, o elenco repleto de medalhões do Atlético Mineiro não conseguiu um mísero gol em 180 minutos contra o Jorge Wilstermann massacrado pelo River Plate. O Palmeiras, outro considerado favorito, só achou um gol de Mina em São Paulo aos 50 do segundo tempo. Constrangedor, por mais que se respeite o time boliviano.
JUCA KFOURI
Não é normal. É o sinal do quanto o futebol brasileiro parou no tempo e no espaço enquanto houve progressos claros nos vizinhos. Não é possível comparar o investimento do Barcelona do Equador com o do Palmeiras e do Santos e, no entanto...
Veja que no último meio de semana só o Fluminense seguiu adiante num torneio continental ao enfrentar um time estrangeiro e assim mesmo por causa do gol qualificado, porque também perdeu. Santos e Corinthians dançaram e Grêmio, Flamengo e Sport seguiram porque enfrentaram times daqui. Há um abismo entre o futebol da Seleção e o dos clubes.
JULIO GOMES
Não é normal e não é vexame. Não é normal, como já foi um dia, pelo seguinte: os clubes brasileiros têm orçamentos muito mais gordos do que os de outros países da América do Sul. E dinheiro costuma trazer resultados no futebol.
Mas por que, então, não é vexame? Porque o nível do futebol brasileiro é baixo. E, com menos dinheiro, os rivais da América do Sul tem nível pior. Mas não tão pior. Há equilíbrio, há nivelamento e há uma competição difícil, em estádios hostis, condições de jogo específicas, etc.
O que precisa ser feito: o dinheiro precisa ser gasto de outro modo. Precisa ser melhor gasto nas fundações dos clubes. Os clubes brasileiros precisam gerar melhor futebol e impor essa qualidade. Não basta ficar comprando jogador a torto e direito, este é um investimento falho.
MARCEL RIZZO
Acho que a obsessão criada no Brasil pela Libertadores atrapalha, não só a participação brasileira no torneio, como o ano inteiro das equipes. Se contrata pensando na Libertadores, se treina pensando nela, se arma times com base no torneio e, pior, se poupa atletas em outros torneios por causa da Libertadores, o que faz times não se entrosarem ou atletas perderem ritmo de jogo. Há também a pressão nas partidas do torneio, já que todos dizem ser a prioridade no ano, o que joga responsabilidade extra sobre os atletas. Quando os brasileiros entenderem que é mais um torneio a se disputar, e que é possível conciliar com o Brasileiro, principalmente, as campanhas vão melhorar.
MAURO BETING
É vexame, sim. Não é normal. Até porque em 2012 tivemos um campeão invicto que foi o Corinthians, e ainda campeão mundial. Tivemos o emocionante campeão de 2012 (Atlético-MG) e é só pegar a semifinal da Libertadores 2014, com todo respeito e, por tabela, já com devido desrespeito, parecia uma semifinal de Sul-Americana, para não dizer da antiga Conmebol dos anos 90. É um vexame, sim. O que precisa é termos mais paciência com nossos treinadores, porque se há o êxodo de pé de obra qualificada – ou nem tanto – para Europa, China, para onde for, também existe... É só ver o que acontece na Argentina. Mas não por acaso o River Plate, que tem desde 2014 um treinador campeão da Sul-Americana e campeão da Libertadores no ano seguinte como o Gallardo, faz um ótimo trabalho. Perdeu de 3 a 0 para o Wilstermann lá, mas meteu oito jogando muita bola em Nuñez. É a perpetuação, ou pelo menos a permanência de um trabalho, de uma ideia de jogo, uma filosofia, uma escola de jogo de cada equipe, e o mínimo de permanência dos jogadores. É algo sazonal, mas algo extremamente preocupante porque, afinal, desde a virada dosa 80 e início dos anos 90 a gente não ficava com um hiato tão grande de brasileiros chegando pelo menos a uma final de competição.
MENON
É preciso jogar mais que os outros. Abandonar a tese de que jogo de Libertadores é diferente, que é preciso ter cojones. É preciso jogar bem, com variedade de jogadas, é preciso estudar o rival e saber jogar duro sem ser violento. Ser malandro e não ser mané.
PVC
Vexame não é, embora esteja abaixo da expectativa. A Argentina não classificava dois times desde 2004 e, neste período, houve seis vezes com dois brasileiros classificados. Mesmo sem ser vexame, exige reflexão. Para mim, o fato de o Brasil ainda não apostar na sequência de trabalho dos times explica, em parte, a dificuldade. O River perde jogadores, mas mantém o técnico há três anos, o Atlético Nacional do ano passado tinha trocado de técnico, mas mantido o elenco. Aqui, sempre muda tudo. Acredita-se que um novo jogador que se junta ao elenco é solução. Aposta-se no talento. Na Libertadores, porque nenhum time tem os craques da Champions League, tem sido mais feliz quem tem mais jogo coletivo.
RICARDO PERRONE
Não considero vexame. Fiasco seria não ter nenhum representante nas semifinais. No caso específico desta edição, o problema maior foi que Flamengo e Palmeiras, os dois brasileiros que em tese tinham elencos mais fortes foram eliminados precocemente. E o Palmeiras saiu diante de uma das equipes que agora está nas semifinais: o Barcelona de Gayaquil.
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