Esporte Interativo compra Liga, mas tem problema a resolver na TV fechada

O Esporte Interativo, em parceria com a gigante norte-americana Turner, comprou os direitos de transmissão da Liga dos Campeões do próximo triênio (2015/2016 a 2017/2018) para a TV paga. É muito cedo para saber, no entanto, quem vai transmitir a competição. Sem espaço nas principais operadoras a cabo atualmente, o canal pode brigar com Net e Sky para encontrar seu lugar, retransmitir o torneio pelo parceiro Space ou até negociar com emissoras rivais. Neste momento, nada está definido.

Para ter os direitos, a parceria E+I/Turner venceu uma negociação acirrada. Os favoritos eram Sportv e ESPN, que formaram uma dupla inusitada para derrotar a Fox Sports que, por “questões estratégicas”, decidiu não participar da disputa em cima da hora. Restaram as outras duas e a quantia oferecida pelos vencedores pesou na avaliação da Uefa, que faz a venda por meio de envelope fechado.

Os vencedores não podem, por força de contrato, comentar o assunto nem as estratégias futuras. De acordo com pessoas que acompanharam a negociação de perto, porém, é possível estabelecer um panorama do que está por vir e um caminho para o telespectador, que a partir de 2015 provavelmente não verá mais a Liga na tela da ESPN, dona dos direitos há mais de uma década. E o acordo foi selado há tão pouco tempo que mesmo as pessoas diretamente envolvidas não sabem dizer o que acontecerá. 

No jargão do mercado, “envelope fechado” é um modelo em que as propostas de cada participante são sigilosas, e vence quem atender às demandas (no caso da Uefa, número mínimo de transmissões e exibição de um programa semanal, entre outros pedidos menores) de quem vende pagando o maior valor. A proposta de E+I/Turner, especula-se, era consideravelmente superior a de Sportv/ESPN.

O problema é que o Esporte Interativo, em tese, não está tão presente na TV fechada. O canal se define atualmente como produtor de conteúdo multimídia, mas foca sua ação em TV aberta (sistema UHF), parabólica e internet. A emissora está em algumas operadoras menores ou regionais na TV paga e negocia há anos sua entrada nas gigantes Net e Sky, sem sucesso. Por que, então, ela venceu a disputa pelos direitos da Liga?

Antes da explicação, um adendo: a Turner não é parceira do Esporte Interativo somente para a compra dos direitos da Liga. No ano passado, o grupo norte-americano, dono de canais como TNT e CNN, investiu R$ 80 milhões e tornou-se sócio majoritário do canal esportivo.

Nesse cenário, a Turner, valendo-se dessa relação, apresentou à Uefa seus 12 canais de entretenimento (estes sim, espalhados pelas principais operadoras) como garantia de que atinge a maior parte dos brasileiros usuários de TV fechada. O principal ativo desse leque é o Space, conhecido entre os fãs de basquete pelas transmissões da NBA.

O canal já vem retransmitindo atrações do Esporte Interativo desde o início da parceria. Neste ano, por exemplo, o Space exibiu as finais de Copa do Nordeste, Copa Verde, Copa Centro-Oeste e, principalmente, a Copa do Rei, entre Barcelona e Real Madrid. Todas essas transmissões foram feitas pela equipe do Esporte Interativo, que com a parceria fez seu conteúdo atingir mais gente de uma só vez.

Tendo isso em vista, o Space pode ser, sim, a possível “casa” da Liga dos Campeões a partir do ano que vem. Nesse cenário, o Esporte Interativo exibiria a competição em suas plataformas tradicionais e também pelo canal da Turner, atendendo ao contrato com a Uefa. Seu foco, como explicou o jornalista Erich Beting, em seu blog no UOL Esporte, poderia ser as transmissões próprias na internet –o canal já tem um sistema de compra sob demanda chamado EI Plus, que funciona como uma espécie de Netflix próprio.

O outro caminho é parecido com o que a Fox Sports trilhou há dois anos, quando transmitiu a Libertadores com exclusividade pela primeira vez. Na época, o canal estava fora das principais operadoras, mas a pressão pelos jogos dos principais times brasileiros fez com que as gigantes Net e Sky cedessem e incluíssem a Fox em sua programação. Com a Liga dos Campeões na mão, a Turner poderia fazer pressão nas operadoras para que elas aceitassem a presença do Esporte Interativo.

A última possibilidade é uma combinação com as rivais. Hoje, os direitos na TV fechada são exclusivos da parceria E+I/Turner, mas nada impede que eles sejam revendidos a Sportv ou ESPN, por exemplo, que também estavam interessadas. Essa hipótese, porém, depende de fatores mercadológicos, já que o valor da revenda muitas vezes não compensa a perda da exclusividade.

Tudo isso deve começar a ser definido somente nos próximos dias, quando o acordo deixar de ser sigiloso. Só que a negociação, que é delicada e envolve vários fatores, pode se arrastar durante meses, possivelmente até o início da Liga dos Campeões de 2015. 

Globo e Band na TV aberta

Se na TV fechada os direitos de transmissão da Liga dos Campeões mudaram de mãos, na TV aberta a Globo continua como emissora oficial, repassando os direitos também para a Band.