O confronto desta noite entre os dois times de Ribeirão Preto (SP), Botafogo e Comercial, será o primeiro na divisão de elite do Paulista a ser visto pelos jovens torcedores dos dois clubes. O último embate entre as equipes na primeira divisão foi há 25 anos, quando parcela dos botafoguenses e comercialinos nem tinha nascido ou era apenas criança.

No último Come-Fogo pela A1, em 1986, o jogo acabou em 0 a 0, e aconteceu no mesmo estádio no qual as equipes se enfrentam neste sábado, o Santa Cruz, território do tricolor Botafogo.

“Hoje é um dia muito especial. Esperamos toda a nossa vida para ver esse jogo”, afirma Wendel Moraes, 29, presidente da torcida Mancha Alvinegra, do Comercial. Ele e outros jovens só viram o Bafo, como o Comercial é conhecido, enfrentar o arquirrival em campeonatos secundários. No ano passado, foram dois jogos e dois empates, na Copa Paulista.

André Trindade, 36, presidente da Fiel Força Tricolor, do Botafogo, concorda com a importância do clássico para os torcedores mais jovens, por se tratar de um jogo da primeira divisão, o que eles não viram antes. “Na última grande disputa dos dois times eu e muita gente aqui éramos crianças”, diz.

Ele afirma que a partida desta noite vem provocando "uma grande ansiedade” nos novos torcedores. O balconista Hugo Gabriel, 18, confirma. “Já passei por aqui várias vezes para ver o movimento”, disse o jovem, em frente à bilheteria do Santa Cruz. Na opinião dele, há risco de torcedores perderem a cabeça, tamanha a expectativa.

Mas, no que depender dos presidentes das torcidas organizadas, o derby vai transcorrer em clima de paz e amor. “Se acontecer algo, será fato isolado”, afirma Trindade. Ele e o líder da torcida alvinegra passaram a semana conversando, por telefone e pessoalmente, para evitar que ocorra violência. A Polícia Militar também participou das conversas. Cerca de 180 policiais foram escalados para garantir a segurança.

Por cautela, as torcidas vão acessar o estádio Santa Cruz por caminhos diferentes neste sábado, a partir das 17h. Os comercialinos vão circular pela região mais alta da cidade, na avenida Costábile Romano, e os donos da casa pela parte baixa, acessível pela avenida Maurílio Biaggi.

Cabem 28 mil torcedores no Santa Cruz. A estimativa dos botafoguenses é que cerca de 8 mil lugares sejam ocupados pelos adversários.

A rivalidade entre os dois clubes, apesar de grande e já ter acabado em violência no passado, não chega ao nível da existente em outros times do interior, como Guarani e Ponte Preta, por exemplo. “Existem provocações dos dois lados, mas nada que preocupe”, afirma Moraes, o presidente dos torcedores alvinegros.

Embora os líderes de torcida falem em paz e amor, os cartolas dos dois clubes fizeram exatamente o contrário durante a semana. Confiante na superioridade de seu time, o presidente do Comercial, Nelson Lacerda, previu que o Come-Fogo será, na prática, um “Come-Come”.

Silvio Martins, presidente do Botafogo, reagiu. Ele aposta que, em vez de Come-Come, será um “Fogo-Fogo”, devido aos tropeços do Comercial no campeonato. O Bafo perdeu os dois jogos que disputou: 4 a 3 para o Linense e 3 a 0 para o Paulista de Jundiaí, na última quarta-feira. O Botafogo está um pouco melhor: perdeu de 4 a 0 para o São Paulo, na estreia, mas depois venceu o XV de Piracicaba por 2 a 1.

Para os comercialinos, uma vitória na casa do adversário vai ser fundamental por dois motivos: a reabilitação no Paulista e evitar que o Botafogo faça seis pontos e se distancie na tabela.

O aposentado Eurípedes Lopes dos Santos, 68, botafoguense roxo, vai acompanhar o jogo pelo rádio porque teme um enfrentamento das torcidas. Ele levou o filho Alexandre, 36, para comprar ingressos na manhã deste sábado no estádio Santa Cruz. Alexandre acha que existe a possibilidade do enfretamento. “Mas eu não posso perder essa partida de jeito nenhum.”