Salgueiro e presidente-motorista buscam taça contra fama ligada às drogas
Um time que carrega o nome da cidade e pode ser o primeiro campeão pernambucano do interior, contra o Sport, nesta quarta-feira (28): Salgueiro. A mais de 500km da capital Recife, o município sertanejo costumava frequentar o noticiário por outro motivo, porém – como centro do polígono da maconha, conjunto de cidades de Pernambuco e Bahia situadas no baixo-médio São Francisco conhecidas pela alta produção da erva.
“Em 2005, Salgueiro era conhecido como o centro do polígono da maconha. É um polo regional, onde fica a Delegacia da Polícia Civil, Federal, Receita Federal, o presídio, hospital regional, então tudo de ruim que acontecia na região vinha para Salgueiro”, conta José Guilherme, presidente do clube, ao UOL Esporte.
Foi aí que empresários da cidade se uniram para tentar ir além do rótulo. “Os empresários ficavam incomodados e se reuniram para tentar modificar essa imagem de polígono da maconha e resgatar o nome de Salgueiro. A imagem da cidade era muito ruim no estado, na região e no Brasil.”
Dessa reunião, nasceu o Salgueiro Atlético Clube, o Carcará do Sertão, clube fundado em 1972, mas profissionalizado apenas em 2005. Em um ano, o time chegou à primeira divisão pernambucana e, uma década depois, disputou sua primeira final estadual, mas perdeu para o Santa Cruz. Agora, contra o Sport, tem nova chance de conquistar aquele que seria seu grande título - e que faria a cidade virar notícia através do esporte.
José Guilherme, 53 anos, participou deste processo desde o início. Pode-se dizer, inclusive, que ele não poupou esforços para alavancar o Salgueiro. Foi de motorista do micro-ônibus do clube à presidente.
“Quando Clebel (Cordeiro, presidente de honra do Salgueiro, hoje prefeito do município pelo PMDB) fundou o time, chamou algumas pessoas da cidade. Eu fui um deles, mas não tinha condições financeiras. Nesse tempo eu tinha um transporte alternativo que ia e vinha pra Petrolina. Então eu disse a ele que a única maneira que podia ajudar era dirigindo, que é o que eu sei fazer. Ele comprou um micro-ônibus pros jogadores disputarem a segunda divisão estadual e eu fui dirigir o ônibus. Foi aí que começou meu contato direto com o clube”, explica Zé Guilherme, como é chamado.
Interessado, sentado na cadeira de motorista, ele começou a participar das discussões do clube referentes à logística, como as viagens e hospedagens dos jogadores. Em seu primeiro ano, o Salgueiro foi terceiro colocado da segunda divisão estadual, a uma vaga do acesso. Mas contou com o acaso e deu sorte.
Uma das equipes da Série A1 não pôde disputar o torneio de 2006, e a Federação Pernambucana convidou o Salgueiro para substitui-la, já que havia sido o terceiro colocado da Série A2. Foi quando tudo começou a mudar, na vida do Salgueiro e do seu então motorista, que logo deixaria o posto.
“Já em dezembro de 2005, começamos o montar o time. Aí Clebel me chamou para participar da diretoria, contratamos um motorista, compramos um ônibus maior, e comecei a participar da diretoria cuidando da logística: viagem, hotel, alimentação…. Então ele me chamou para trabalhar direto com ele, como homem de confiança e diretor”, relembra o mandatário.
O Carcará seguiu tentando voos mais altos, firmando-se como força local do futebol pernambucano, quando em 2010 o então presidente e principal mantenedor do time resolveu disputar a eleições. Clebel Cordeiro deixou a Presidência, fazendo de Zé Guilherme seu sucessor. “Eu fiquei entre 2010 e 2012”, diz sobre seu primeiro mandato.
Eles voltaram a se alternar. Dono de uma rede funerária que se estende por várias cidades como Petrolina (PE), Juazeiro (BA) e Paulo Afonso (BA), Clebel reassumiu o comando do time, mas afastou-se novamente para disputar as eleições do ano passado, sendo eleito prefeito de Salgueiro.
Em um primeiro momento, ele indicou seu filho para presidir o clube, mas o levou à administração municipal. Resultado: José Guilherme venceu o pleito para um novo mandato e agora pode ser campeão pernambucano contra o Sport.
“Para o futebol de Pernambuco seria um rejuvenescimento, uma reciclagem um time do interior conseguir ser campeão, vai estimular outros clubes a investir no futebol e fazer frente aos times da capital”, acredita, embora a missão seja tortuosa como as árvores da região.
“Será difícil, o Sport é um time grande, tem jogador de seleção, técnico com passagem pela seleção. Um jogador paga três meses salário da gente, mas o Salgueiro está sempre aprontando nos mata-matas”, aposta Zé Guilherme, revelando que a folha de pagamento do clube não ultrapassa os R$ 180 mil - dos quais R$ 40 mil provêm de patrocínio da Prefeitura de Salgueiro.
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