O grande enigma chamado Corinthians
Ao caro amigo que me acompanha neste bate-papo semanal, aviso que hoje não falarei do Flamengo; redundante destacar que continua a jogar o fino da bola. Para mim, é favorito no Campeonato Brasileiro. Também não abordarei o Grêmio, que passou sufoco em casa, mas está vivo na semifinal da Libertadores. Tampouco roubarei seus minutos de leitura com a interminável gangorra de trocas de técnicos na elite do nosso futebol.
A conversa desta vez é sobre o Corinthians. Fazia algum tempo que eu não escrevia umas mal traçadas linhas sobre o tricampeão paulista. Faço-o agora, e digo de cara: trata-se de um grande mistério, tremendo enigma, mais complicado de decifrar do que o problema proposto pela esfinge do antigo Egito.
Por que o espanto? Porque o time que Fabio Carille comanda tem limitações, é imprevisível, inconstante, dá sustos e cai em momentos decisivos, como na Copa do Brasil e na Sul-Americana. No entanto, de uma hora para outra, ressurge. Quando menos se espera, eis que ergue a cabeça, levanta o dedo e diz: "Pessoal, estou aqui, vivinho da silva".
Pois é isso mesmo. O Corinthians, com seu estilo feioso, com a volta das goleadas por 1 a 0, sacudiu a poeira após os tropeços diante do Independiente del Valle e está em quarto no Brasileirão. Tem os mesmos 41 pontos do Santos, terceiro colocado, e perde no critério de número de vitórias (12 a 11). Apenas cinco pontos o separam do vice-líder Palmeiras - distância pequena. Mais complicado chegar perto do Flamengo, que tem 49.
Um dos segredos da recuperação talvez esteja em aspecto manjado e já tradicional: a segurança defensiva. Com todos os problemas que enfrenta, o Corinthians é o menos vazado dentre os 20 times do Brasileirão: em 22 partidas, sofreu 13 gols, média de zero qualquer coisa por apresentação. Excelente. O São Paulo levou 15 gols, o Palmeiras 17, o Bahia 18, e o Fla 20.
Carille conseguiu equilibrar um setor que, há mais de uma década, é responsável por inúmeras conquistas, desde quando ele estava à sombra de Mano e Tite e cuidava disso. A solidez da muralha na retaguarda compensa deficiência criativa no meio e mais apetite no ataque. A propósito, são 25 gols a favor, muito aquém dos 33 do Santos, dos 38 do Palmeiras e dos notáveis 47 dos rubro-negros.
A dianteira tira a serenidade de Carille, desde o começo do ano. Ele tentou várias combinações, com Love, Boselli, Gustagol e outros menos votados. Com resultados insatisfatórios. Pedrinho, Clayson, Ramiro, Jadson e até Janderson, foram colocados para auxiliar a tropa de frente, e, a dois meses do fim da temporada, não pintou a formação ideal. Não há jeito de ver o Corinthians com voracidade nas finalizações. Rara chance de goleada.
"Formação ideal" - eis outro ponto que joga contra o Corinthians em 2019. Nas campanhas dos títulos de 2015 e 2017, com Tite e Carille respectivamente, a equipe titular ganhou corpo ao longo do Brasileirão, se consolidou e chegou à reta final consistente, firme e eficiente. O fenômeno não se repetiu até agora.
Ainda assim, com umas escorregadas, come pelas beiradas e encostou de novo nos ponteiros. O problema são os empates - oito, número alto para quem tem pretensão ainda de conquistar a taça nacional pela oitava vez. Isso mostra a dificuldade alvinegra para impor-se. Por mais que Carille prometa esquema ousado, raramente se vê algo diferente do que as habituais cadência, troca de passes e compactação defensiva.
O Corinthians é assim e fim de papo. O elenco não é badalado - embora tenha jogadores chamados por Tite e por técnicos de categorias inferiores da seleção brasileira -, o sistema não muda, o jogo não enche os olhos e... os resultados reapareceram.
Tarefa impossível projetar o que acontecerá com o Corinthians. Anda tão enigmático - e tanta vezes surpreendente - que o melhor é botar as barbas de molho e não duvidar. Se Palmeiras e Santos piscarem e cochilarem, podem ver-se superados por um time que até bem pouco tempo atrás seria visto como improvável frequentador do G-4.
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