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Antero Greco

Nem parada forçada vai brecar o Fla

Jogadores do Flamengo celebram virada sobre a Portuguesa-RJ - Thiago Ribeiro/AGIF
Jogadores do Flamengo celebram virada sobre a Portuguesa-RJ Imagem: Thiago Ribeiro/AGIF

24/04/2020 13h52

Sei lá quando o futebol retomará, mais ou menos, vida normal. Aliás, não sei sequer quando nossas vidas poderão seguir seus cursos sem maiores sobressaltos. Tudo vai depender do ciclo do vírus maldito e do bom senso de governantes, equilíbrio que falta a alguns.

Mas sei que, assim que a bola começar a rolar de novo, um clube continuará a dar as cartas por aqui e alhures. Pedra cantada, resposta fácil e que aparece já no título desta crônica: o Flamengo. Isto mesmo, o campeão brasileiro e sul-americano tem tudo para ser um dos menos afetados pela parada forçada provocada pela pandemia do coronavírus.

Não me refiro, evidentemente, a aspecto financeiro. O aperto será para todo mundo - a queda de receitas já é fato. Até nisso, talvez, o rubro-negro possa sentir um pouco menos os efeitos do desastre. Em função do caixa folgado que apresentava, antes da interrupção de atividades, e pela perspectiva de boas arrecadações e publicidade tão logo coloque o time em campo.

O interesse do público vi manter-se quase intacto. Se não for ao vivo, pois estádios estarão vetados ainda por bom tempo, ao menos na audiência nos meios de comunicação, nos pay-per-view e, por extensão, no interesse dos anunciantes e patrocinadores. Estará uns degraus acima de quase todos os concorrentes, seguido de perto pelo Palmeiras.

O predomínio evidente do Fla ocorrerá nos gramados, que é o que vale. Por vários motivos, e os principais deles são elenco, time titular e esquema de jogos definidos, ensaiados, azeitados, testados e comprovados. Tudo sob a batuta de Jorge Jesus, provavelmente reconfirmado no cargo. Conversas para renovação estão em andamento.

Ou seja, ao Flamengo bastará reconquistar a forma atlética ideal da trupe. De resto, os jogadores esbanjam qualidade, sabem o que têm de fazer durante as partidas e conhecem as preferências e os cacoetes do Mister. Questão de algumas rodadas para a máquina voltar a derrubar barreiras e levantar taças.

Rodadas do que é que não se sabe, por ora. Podem ser no Campeonato Carioca, no Campeonato Brasileiro, na Libertadores. Seja lá onde forem, é moleza cravar que o Flamengo manterá favoritismo. Claro, caro amigo, surpresas podem acontecer, zebras costumam soltar-se e fazem parte da magia do futebol. Falo do pouco de lógica que tem o joguinho de bola - e esta indica menos estragos para o time da moda por estas bandas do que para os outros.

Coloco o Grêmio em segundo lugar, por raciocínio semelhante ao desenvolvido para o Flamengo. O tricolor gaúcho tem um grupo já formado (com algumas mudanças em relação a 2019) e um treinador com várias temporadas de casa. E, por conseguinte, maneira definida de encarar os desafios. A retomada tende a ser mais rápida, por exemplo, do que a do Inter, que começava a captar o que pretende o argentino Eduardo Coudet.

Dá para acrescentar o São Paulo a essa lista, com ressalva. Antes da suspensão geral, dava sinais de engrenar, sob o comando de Fernando Diniz, ensaiava deslanchar no Campeonato Paulista e mostrava um jeitão de distribuir-se em campo. A restrição a que me referi deve-se ao fato de que o esquema não está claro e provado, como nos casos de Fla e Grêmio.

As demais equipes de primeira linha sustentam pontos de interrogação. Vanderlei Luxemburgo fazia testes para chegar ao Palmeiras ideal. Como será agora? Vai precisar de quanto tempo para tirar conclusões? Jesualdo Ferreira acostumava-se com seus pupilos, enfim parecia entender o que é o Santos e vencia resistências. Inicia do zero?

E Tiago Nunes no Corinthians? Havia pressão, antes da pausa, por causa de resultados ruins e desempenho oscilante. Por declarações recentes do presidente, depreende-se que não deve ter muito sossego e será cobrado por mais eficiência. E logo. Tiago é o treinador que volta com três pontos de interrogação. Retorna com a nuvenzinha densa sobre a cabeça. Fica a dúvida pertinente: aguentará o tranco até aprumar-se no cargo e colocar o time no rumo certo?

As incertezas prevalecem também em Vasco, Botafogo, Fluminense, que devem acusar mais os reveses técnicos e econômicos provocados pela falta de atividade. Idem o Atlético Mineiro, que mandou o venezuelano Rafael Dudamel passear, apostou em Jorge Sampaoli, mas mal teve tempo de vê-lo em ação. O argentino terá de ser rápido no gatilho para mudar o Galo.

Por isso, amigo que chegou até aqui no nosso papo semanal, é fácil vislumbrar o Flamengo nadando de braçada, como ocorreu a partir do segundo semestre do ano passado. Ou você discorda de mim?

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