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Blog da Amara Moira

OPINIÃO

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Quatro anos depois, outro Brasileirão pro Palmeiras. E o Bolsonaro?

24/10/2022 08h00

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Quatro anos do último Brasileirão vencido pelo Palmeiras, quatro anos que marcaram um mergulho profundo do Brasil na Idade Média e, naquela conquista, a figura que ora ocupa o cargo máximo da República foi convidada a entrar no gramado e levantar a taça com a equipe. A eleição havia sido ganha por ele pouco antes, com o bolsonarismo nos apresentando a um nível de fake news e desinformação inimagináveis até ali, e isso fez com que o prazer da conquista palmeirense fosse amargo para parte da torcida. Eu mesma quase não senti vontade de comemorar aquele título ao ver a nossa tão desejada taça levantada por um dos seres humanos mais odientos do planeta.

Conquistas com sabor amargo têm sido recorrentes na história do Palmeiras, não se limitando à já citada. Outros exemplos? A vitória por 1 x 0 sobre a Chapecoense garantindo o título do Brasileirão de 2016, mas entre essa vitória e a entrega da taça houve o fatídico acidente de avião envolvendo a equipe catarinense. Daí as conquistas da Libertadores e Copa do Brasil no começo de 2021, ápice da pandemia, com a vacinação ainda dando os primeiros passos, e por fim a Libertadores de novembro de 2021, momento em que a ômicron nos fez duvidar se a pandemia estava sob controle.

Diante de tudo isso, bom, motivos não faltam para a torcida palmeirense ser supersticiosa, não é? E agora, o que estamos às vésperas de assistir? Uma nova conquista do Palmeiras e justo do Brasileirão, campeonato conquistado pela última vez pouco após a eleição do Bolsonaro, com chances reais de ele repetir o feito outra vez. É um sinal de que o pior pode estar por vir? Quero crer que não, pois dessa vez seu oponente é ninguém menos que Lula, no momento talvez a única figura capaz de tirar o Brasil desse lamaçal em que nos metemos.

Não será simples, contudo. Basta observar que, mesmo diante do maior esquema de corrupção que esse país já conheceu (o Orçamento Secreto operado por Bolsonaro para a compra do apoio do Centrão), do fundamentalismo religioso ameaçando o Estado Laico, do avanço das políticas armamentistas e das milícias, da destruição da Amazônia quase chegando ao ponto de não-retorno, das quase 700 mil mortes pela covid-19, da inflação absurda, do negacionismo científico, do sucateamento das instituições de ensino, do aparelhamento da Polícia Federal, dos ataques ao STF e às urnas, em suma, mesmo diante de tudo isso e de tantas outras coisas que certamente esqueci de citar, ainda assim 51 milhões de eleitores depositaram seu voto na intolerável figura.

Não será fácil, mas confio em Lula tanto quanto confio na gordura construída pelo Palmeiras nesse Brasileirão. São 10 pontos de vantagem sobre o Inter, com apenas mais 5 jogos em disputa (15 pontos no total). Se o Palmeiras ganhar terça do Athletico (que estará com reservas e a cabeça todinha na disputa da Libertadores, a ocorrer na véspera das eleições, dia 29/10) e tanto Corinthians quanto Inter não ganharem seus jogos na rodada, já chegaremos ao dia das eleições com o título matematicamente conquistado, mas, caso Corinthians e Inter resistam a entregar os pontos, o título dificilmente passará da rodada 35 contra o Fortaleza (2/11, no Allianz Parque).

Acontecendo tudo isso, a única coisa que eu espero é, dessa vez, poder gritar campeão sem nenhum gosto amargo na boca, poder estar lá no estádio e assistir à entrega do troféu sem sentir vergonha de ser palmeirense. Em outras palavras, torço para que a presidenta Leila Pereira tenha a coragem de proibir que esse ser humano entre em campo e manche mais uma conquista da mais vitoriosa equipe brasileira. Coragem que, eu acredito, ela só terá em função de uma vitória do Lula no próximo dia 30/10.

Ontem Bolsonaro compareceu ao estádio e, diferentemente de 2018, quando a sua aclamação abafava a maioria das vaias, agora a acolhida foi bem mais dividida, um bom sinal de que seus dias no cargo máximo da nação estão contados. Correndo tudo como esperado, que essa seja a última vez que ele pisou no Allianz Parque como convidado de honra do Palmeiras. Será que o grito de "é campeão" dessa vez virá acompanhado, não de uma nova catástrofe, mas sim da derrocada da Idade Média que vem assolando o país desde o golpe de 2016? Já não era hora!