Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Pelo fim do VAR à brasileira
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Dois meses atrás, numa partida pelo Campeonato Brasileiro Feminino, as palestrinas visitaram as sereias na Vila Belmiro e, com 11 minutos, as donas da casa abriram o placar. Lembro de ficar na torcida para que o VAR entrasse em campo e encontrasse alguma irregularidade para invalidar o tento, o que não aconteceu, pois só vai ter VAR nessa competição a partir das quartas de final. Minha mente estava já tão habituada com esse tipo de acontecimento que ficou na angustiosa expectativa de que o pessoal da cabine tivesse visto alguma infração, por mínima que fosse, para impedir que o meu alviverde saísse perdendo.
Felizmente isso não aconteceu e as sereias puderam marcar o seu tento, ter a confirmação imediata de que ele era válido e comemorar sem medo de que alguma coVARdia fosse cometida contra a bela jogada construída por elas. Há quanto tempo eu não via um gol que era marcado, validado pela arbitragem no campo e que podia ser festejado imediatamente, sem o receio de que uma pessoa mal-amada fosse atrás de pelo em ovo para mostras serviço e invalidá-lo! Sim, foi contra o meu time do coração, mas paradoxalmente foi também a favor do futebol, aquele futebol que eu cresci assistindo e aprendi a amar, aquele que não precisava ficar 5 minutos esperando um assistidor de vídeos de péssima qualidade confirmar se o gol valeu.
Ontem tivemos o exemplo nítido de o quanto essa tecnologia, no Brasil, pode ser contrária ao esporte. Não apenas por ter anulado o gol belíssimo de bicicleta do Rony, mas também por não ter conseguido mostrar uma imagem conclusiva de que houve, de fato, impedimento na jogada. A imagem pixelada divulgada durante a partida foi um escárnio, insinuando sem conseguir provar a existência de uma vantagem milimétrica por parte do atacante do Palmeiras, o suficiente para o VAR se sentir no direito de intervir nos rumos do jogo.
A indignação foi grande tanto na torcida do Palmeiras, quanto para todo mundo que minimamente ama futebol. Faz parte da nova forma de jogar (e assistir) partidas de futebol, agora vamos nos acostumando a ver um gol ser marcado e, depois, a ter que esperar vários minutos até a confirmação de sua validez, frustrando comemorações legítimas em função de um nada que foi encontrado no lance. Triste demais. E não trago esse exemplo específico para dizer que o Palmeiras é perseguido pela arbitragem, o que é uma distorção bizarra da realidade.
Só o clubismo mais tacanho pode fazer alguém acreditar nisso e não ver o tanto que já fomos beneficiados por essa ferramenta nociva. Não fosse o VAR, esse tacanho do pêlo em ovo, que é brasileiro mas também muitíssimo sul-americano, não teríamos passado pelo River Plate na partida de volta das semifinais da Libertadores de 2020 e, talvez, o jogo de ida contra o São Paulo nas quartas de final da Libertadores 2021 teria nos colocado um desafio muito maior para a volta. Não fossem essas intervenções e talvez continuássemos com um único troféu dessa importantíssima competição.
Defender que o segundo time mais rico do Brasil, o Palmeiras da Crefisa, seria perseguido pela arbitragem, ignorando obstinadamente todos os momentos em que a arbitragem de campo (e o VAR) nos favorecem contra times grandes e ainda mais contra os nanicos, a meu ver é igual ser adulto e continuar acreditando em Papai Noel. Não, não existe perseguição da arbitragem contra o Palmeiras, nem da CBF e muito menos da imprensa. É preciso aprender a se distanciar dos fatos para conseguir vê-los com mais objetividade, senão os debates se tornam completamente estéreis. Esse é, aliás, um dos poucos pontos em que espero que o senhor Abel Ferreira melhore: ele admitir quando o Palmeiras sai beneficiado de campo da mesma forma como se comporta quando acredita que fomos prejudicados.
Tudo isso para dizer que do jeito que está não dá para ficar. O futebol está sendo destruído diante dos nossos olhos. Na ânsia de imitar o que se faz na Europa, estamos privilegiando a incorporação da tecnologia em vez da profissionalização da arbitragem. A CBF parece achar que, se tiver a tecnologia em ação, os erros de arbitragem serão minimizados, mas é o exato oposto o que estamos vendo.
E, já que não é possível imaginar que o VAR saia de cena, minha proposta é que ele seja usado apenas para erros indiscutivelmente evidentes, não só para pênaltis e expulsões, mas também para impedimentos. A decisão do campo só deveria ser contestada se houver provas muito contundentes de que houve erro e provas contundentes não precisam de 5 minutos de análise do assistidor de vídeo ou 5 minutos com o árbitro na cabine do VAR para que o erro se revele. Espero que um dia nos livremos desse pesadelo que é ver gols serem marcados e termos que ficar esperando uma eternidade até o assistidor de vídeo confirmar se já podemos comemorar. Ou chorar.
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