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Casagrande

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Recebi propostas no mesmo dia em que saí da Globo. E por que estou no UOL?

Colunista do UOL

18/07/2022 04h00

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Existem três coisas que eu não negocio de forma alguma: a minha sobriedade, a nossa democracia e a minha liberdade.

Fiz um tratamento longo, difícil, para alcançar o meu equilíbrio emocional e a minha sobriedade, e já estou totalmente limpo há muitos anos. Não fumo, não bebo e, obviamente, estou muito distante das drogas. Não pretendo passar nem perto delas, o que foi — e ainda é — uma grande luta e uma grande vitória pessoal. É por causa dessa luta que estou aqui, e sou convidado para fazer muitas coisas no esporte, na cultura e pela sociedade. São coisas que me dão confiança para encarar qualquer desafio.

Como, por exemplo, a luta pela nossa democracia, que está sendo atacada há quatro anos sob a liderança da família Bolsonaro, que espalhou o ódio na nossa sociedade, facilitou a compra de armas e incentiva os seus seguidores mais radicais a usá-las contra quem pensa diferente.

Desmatamento e garimpo ilegal, assassinatos de indígenas, violência brutal na floresta e no país todo, as pessoas passando fome, corrupção no MEC... são algumas das perversidades que o governo do presidente Jair Bolsonaro faz questão de mostrar. Por tudo isso, a luta pela democracia será intensa, difícil, mas faço parte de uma resistência, junto com a maioria dos brasileiros, que irão defendê-la até o fim. Mas sem guerra, sem armas. No voto!

Chegamos ao terceiro item e, talvez, o mais importante da minha personalidade: a liberdade. Preciso me sentir livre para viver, para criar, para produzir, respirar!

Por muitos anos não soube lidar com o enorme instinto de liberdade que tenho dentro de mim. Eu me confundia, e achava que ter liberdade era poder fazer tudo. Foram muitos anos para aprender que até a liberdade tem um limite quando se quer ter uma vida saudável, profissional e social.

Casagrande com a camisa do Corinthians de 1982, que incentivava a votação para governador em 15 de novembro - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Casagrande e a camisa do Corinthians de 1982: incentivo ao voto para governador
Imagem: Arquivo pessoal

Fiquei 25 anos na TV Globo e nunca sofri censura, nunca falaram para mim o que eu poderia ou não dizer, e isso fez com que eu trabalhasse me sentindo livre. Aprendi o limite profissional da minha liberdade e a usava muito bem. Nunca passei do ponto e o parâmetro que tenho é exatamente não ter sido censurado.

Mas esse limite foi diminuindo de uns anos para cá, e o incômodo da minha parte — e, acredito, que também da parte deles — começou a aparecer. É desagradável trabalhar incomodado com alguma coisa e a decisão de cada um seguir a própria estrada foi a mais acertada.

Talvez alguns tenham pensado que eu não teria mercado, que a minha saída não causaria impacto e que o mundo não seria tão grande fora da bolha. Mas todos mostraram um carinho enorme por mim. De todos os lados recebi mensagens carinhosas de companheiros de anos de Globo (mesmo daqueles que já tinham saído do jornalismo), da GloboNews, dos meus amigos da dramaturgia, do mundo da música (onde tenho diversos amigos e amigas), e isso me fez muito bem.

Comecei a receber propostas de trabalho no mesmo dia da minha saída da TV Globo, e a primeira veio exatamente daqui, do UOL.

Já acompanhava todos os colunistas há muito tempo, como os meus dois mestres, Juca Kfouri e José Trajano, com quem terei a honra de dividir um programa, o Cartão Vermelho. A Milly Lacombe, que leio todos os dias, amo, e agora sou companheiro. O Jamil Chade, um dos jornalistas que mais respeito. E todos os outros, porque sempre fui leitor do esporte, da política e de tudo o que está acontecendo no mundo.

Estou supermotivado e tenho costume de fazer gols em estreias. Na maioria das vezes foi assim, no futebol e na vida.

E o que é fazer gol numa estreia?

É ter prazer e motivação para trabalhar num novo lugar.

É estar aberto para conhecer novos companheiros, falar, e, o mais importante, saber ouvir.

É querer se entrosar o mais rápido possível, se esforçar para arrumar um lugar no campo e fazer algo importante em um grande time como esse em que estou.

Estou muito feliz e orgulhoso por trabalhar com um monte de gente que respeito muito e me interesso pelas suas opiniões.

Se eu fosse um jogador, falaria coisas "novas" na minha chegada num novo time, do tipo: "Cheguei para somar, é um grupo de qualidade, jogo na posição que o professor me colocar, essa camisa é a minha segunda pele...". (Tenho certeza de que nunca ninguém ouviu alguém falar assim...)

Mas sou assim: jogo o jogo e, como um digno camisa 9, vou para cima! Ataco e penso sempre em fazer gols. E deixo claro que sou totalmente independente nas minhas opiniões, não passo pano para ninguém, seja quem for.

Quero agradecer muito a todos do UOL por terem pensado em mim assim que saí da TV Globo. E tenho certeza de que ninguém irá se arrepender.

(A trilha sonora da minha vida — e também dessa coluna — foi muito rock and roll, com uma das minhas bandas favoritas, The Who.)

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