Topo

Casagrande

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Comemorar um gol deixou de ser festa e virou problema no futebol. Por quê?

Rodrygo e Vinicius Júnior dançam após gol do Real Madrid sobre o Atlético de Madri - Denis Doyle/Getty Images
Rodrygo e Vinicius Júnior dançam após gol do Real Madrid sobre o Atlético de Madri Imagem: Denis Doyle/Getty Images

Colunista do UOL

20/09/2022 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Na semana passada, Neymar tomou cartão amarelo por comemorar um gol fazendo careta — como fazia o Lela, atacante dos anos 1980 e pai do Richarlyson e do Alecsandro —, e disse que o futebol está chato.

Pois bem: está mesmo.

O gol é a hora em que o jogador extravasa toda a tensão de uma partida de futebol. Dentro da gente, explodem uma emoção e um prazer inigualáveis. E cada um reage de uma forma. Apesar que hoje em dia as comemorações são menos naturais do que antes. Mas, de qualquer maneira, quando não se ofende ninguém, não vejo problema algum.

Essa semana foi a vez do Vinicius Jr ter problemas com uma comemoração. Mas não foi com a arbitragem, e sim por causa de um racista. Ele dança quando faz gols e isso não é desrespeito algum, até porque não foi o primeiro e nem será o último a dançar numa comemoração.

Muitos jogadores brasileiros na Europa que fizeram gols neste fim de semana comemoraram dançando, em solidariedade ao Vinícius Jr. Mas fiquei horrorizado ao ver que, quando o Rodrygo fez o seu gol na vitória por 2 a 1 contra o Atlético de Madri e foi comemorar com uma dancinha, pelo menos um torcedor do Atlético fez o gesto nazista.

Esse cara foi ainda pior que o empresário que ofendeu o Vinícius com uma injúria racial. O mundo não pode permitir uma coisa dessas! Ele precisa ser preso e explicar por que fez esse gesto. Nazistas e fascistas querem destruir o mundo espalhando ódio, violência e preconceito. Não podemos permitir que isso aconteça!

Bom, desde os anos 1990 até hoje em dia, muitas vezes um grupo de jogadores ensaia uma dança em conjunto para festejar um gol. Por exemplo: o time do Corinthians de 1992/93 fazia comemorações em conjunto, assim como o Santos do Neymar nos anos 2000.

Eu, na realidade, prefiro uma comemoração mais de explosão mesmo. Aquela em que o cara sai correndo, vai para torcida com garra, e joga para fora toda a tensão e as emoções que um gol traz.

Agora, no fim de semana, foi a vez do Pedro Raul, do Goiás, um dos artilheiros do Campeonato Brasileiro com 15 gols, ter sido vítima de um conservadorismo arbitral inaceitável.

Se o jogador tira a camisa, toma cartão amarelo; se ele faz careta, também; se pede silêncio para torcida adversária é punido; se coloca as mãos no ouvido como quem diz "grita mais", também é advertido.

Aqui no Brasil, a arbitragem tem mais é que se preocupar com enorme números de erros deles e do VAR, que muitas vezes estragam um campeonato.

O árbitro Anderson Daronco disse que o Brasil tem uma das melhores arbitragens do mundo porque aqui se tem o melhor campeonato. Para mim, ele errou nas duas afirmações. Se existisse um VAR para as falas dele, seria confirmado um erro gigante de interpretação do senhor juiz.

O nosso campeonato é o mais difícil, mas não o melhor. Sobre a arbitragem, também é a mais difícil, mas para suportar a arrogância e a falta de qualidade que se tem por aqui.

A pior coisa para um árbitro é quando ele acha que é um dos protagonistas do espetáculo. Quando ele se coloca com a mesma importância que os jogadores e a bola, aparece a falta de capacidade. E aqui no Brasil isso acontece constantemente.

Se o atacante toma um cartão amarelo depois faz um gol e dança, tomará o segundo amarelo e, em seguida, o vermelho. Ou seja, é expulso pela comemoração de um gol.

E aí eu concordo com todas as reclamações dos jogadores nesse sentido. O futebol está chato, a arbitragem não tem critério e alguns árbitros querem aparecer mais que os jogadores. Todas essas coisas são reais, e aqui no Brasil é pior. Além de se esconderem atrás do VAR, os árbitros ainda julgam as comemorações dos gols. Parece que querem acabar com a festa que o futebol sempre foi e deveria ser.

A alegria e o divertimento estão diminuindo. Sem isso, qualquer coisa fica muito chata. Já passou da hora de o futebol entrar em acordo sobre o que realmente provoca a equipe e a torcida adversária. Porque do jeito que está, daqui a pouco o jogador, quando fizer o seu gol, vai ter que sair andando, para não ser julgado por ninguém.