Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Após 40 anos, recomecei minha vida de torcedor vibrando com um título
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Fazia muito tempo que não vestia a minha camisa do Corinthians para ir ao estádio como torcedor. A primeira vez foi em 27 de junho de 1970, logo após o tricampeonato mundial no México, em Corinthians 1 x 1 Ponte Preta, na Fazendinha. E a última tinha sido em 1981, também contra a Ponte, mas dessa vez no Morumbi e com uma derrota por 3 a 0.
Até hoje, quando fui um 41.070 torcedores que foram até a Neo Química Arena para ver o Corinthians vencer o Campeonato Brasileiro Feminino, contra o Internacional. Fui um dos que fizeram parte do recorde de público do futebol feminino entre clubes no Brasil!
Nos últimos quase 40 anos, minha relação com o Corinthians foi diferente. Primeiro, deixei a arquibancada e virei jogador profissional. Aí sentia de dentro do campo a energia dessa Fiel Torcida maravilhosa. Parei de jogar, comecei a trabalhar como comentarista e precisei dividir as funções.
Na grande maioria dos jogos, consegui ser imparcial e profissional. Mas nas duas finais contra o Boca Juniors pela Libertadores de 2012, tanto na Bombonera quanto no Pacaembu, confesso que fui 80% torcedor e 20% comentarista.
Mas a apoteose dessa simbiose foi em Yokohama, no bicampeonato mundial, na vitória por 1 a 0 contra o Chelsea. Nesse caso, não teve jeito: fui 99% torcedor. Não resisti à emoção. Só de ver a Fiel invadindo o estádio, já na abertura do jogo eu estava chorando de emoção ao lado do Galvão.
E aí, neste sábado, 24 de setembro, tive mais um dia maravilhoso. Cheguei na Arena, fui para o meu lugar e senti pela primeira vez a frustração de gritar gol e o VAR estragar tudo. Não me importa se ele estava certo. Para mim, tudo o que é contra o Timão está errado. Aprendi isso com o meu saudoso pai: para ele, o Corinthians nunca perdeu, porque o juiz sempre errou.
Bom, assisti a um lindo espetáculo das jogadoras dos dois times. As meninas do Internacional foram corajosas e nunca se renderam. Aliás, começaram vencendo por 1 a 0, complicaram o jogo por uns dez minutos e quase fizeram o segundo gol.
Mas o Corinthians é uma equipe espetacular e muito bem treinada pelo Arthur Elias. Uma reunião no mesmo time de jogadoras altamente técnicas, inteligentes, e que sabem como jogar vestindo a camisa corintiana. É preciso jogar bem, mas também é preciso se entregar totalmente, com muita luta e muita raça. É assim que se joga pelo Corinthians.
Depois dos momentos de risco, o time da capitã Tamires foi tomando conta do jogo e logo chegou ao empate, com uma jogada da Yasmin pelo fundo, do lado esquerdo, cruzando forte, com a ótima Jaqueline chegando e chapando forte pelo outro lado. Ela fez um belo e difícil gol!
Aí o time foi para cima. Tomou conta do jogo e fez o segundo gol já nos acréscimos do primeiro tempo, com uma ótima jogada da Portilho (de quem sou fã demais!) cruzando na área, depois de uma jogada individual. A Diany desviou e colocou a bola na rede, para o estádio inteiro vibrar e tremer.
O segundo tempo foi um domínio total do Corinthians. Logo no início, mais uma vez a bola caiu onde estava a Portilho, que só arrumou para a Vic Albuquerque bater e matar o jogo, fazendo o terceiro gol.
Depois disso não teve mais jogo. Mas a festa só aumentou minutos antes do final, com o quarto gol, super merecido para a ótima partida que fez a camisa 9 Jheniffer. Logo depois a árbitra apitou o final da partida, e aí a festa verdadeiramente começou.
O Corinthians, sem dúvida, é o melhor time do Brasil e um dos melhores da América do Sul. É uma delícia assistir a essas meninas jogarem, e estou recomeçando os meus passos como torcedor corintiano através da beleza do futebol apresentado pelo treinador Arthur Elias.
Me senti como a criança de 7 anos que saía junto com seu pai, da zona leste de São Paulo (mais precisamente, da Penha), para ir aos estádios ver o Coringão jogar.
Hoje posso comemorar gol, fazer a "ola", aplaudir? e, o mais importante, voltar a sentir o gostinho de cantar o hino e gritar
"Corinthians, Corinthians, Corinthians"!
Juro que não é por ser muito fã. Mas, para mim, as duas melhores jogadoras da partida foram a Gabi Portilho e a Jheniffer.
A Gabi parte para cima com muita habilidade e facilidade para o drible, mas com inteligência. Além de participar de dois gols, criou inúmeras jogadas perigosas. E, o mais importante, tem a cara do Corinthians: nunca desiste, pressiona a saída de bola, parte para cima e volta para marcar, ajudando muito o meio-campo.
A Jheniffer é uma ótima centroavante. Se mexeu o jogo todo, saindo para receber, abrindo espaço, com ótima colocação. Sabe sair para a tabela por conhecer muito bem os espaços da área. E, o mais importante para uma camisa 9, sabe atacar a bola, como fez no seu gol.
Tá bom, vai! Vou assumir: adoro as duas! Pronto!
Como disse, voltei a ser criança. E fiquei lembrando do antigo "Show de Rádio", um programa de humor que entrava no ar logo após as partidas na "antiga" rádio Jovem Pan. Cada grande time de São Paulo tinha o seu personagem, e o Joca, que era o torcedor do Corinthians, falava assim:
"ÔÔÔ nega
Oooooi
Abre uma ampola
Que hoje o Coringão
Vai golear."
Que saudade da minha infância, onde tudo era festa!
Mas já terminando por aqui, quero dar os parabéns para o Arthur, para sua equipe técnica, mas principalmente para as meninas pelo tetracampeonato brasileiro.
Graças a vocês, hoje senti no meio de outros torcedores a emoção de voltar a cantar:
"Corinthians grande
Sempre altaneiro
És do Brasil
O quê? O quê?
O clube mais brasileiro!"
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