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OPINIÃO

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A cada Flamengo x Corinthians, volta a emoção do pequeno torcedor Waltinho

Torcidas de Corinthians e Flamengo durante jogo de ida da final da Copa do Brasil de 2022 - Gilvan de Souza/Flamengo
Torcidas de Corinthians e Flamengo durante jogo de ida da final da Copa do Brasil de 2022 Imagem: Gilvan de Souza/Flamengo

Colunista do UOL

19/10/2022 14h06

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A final da Copa do Brasil, entre Flamengo e Corinthians, tem tudo para ficar na história da competição e desse clássico. Esse confronto sempre é muito especial e esperado por todos, principalmente quando os dois clubes estão bem.

Eu tenho um envolvimento muito forte com esse jogo desde muito pequeno.

Já contei diversas vezes que meu pai começou a me levar nos estádios logo depois do tricampeonato em 1970, quando eu tinha sete anos. Pois bem: no dia 5 de dezembro de 1970, meu pai me levou ao Pacaembu para assistir Corinthians x Flamengo, pelo Torneio Roberto Gomes Pedrosa, que era o Campeonato Brasileiro na época.

Foi uma saga, porque a princípio o jogo estava marcado para as 17 horas. Nós, e muita gente, já estávamos nas arquibancadas do estádio quando o locutor disse que o jogo tinha mudado para as 21h30.

E aí pensem o que meu pai teve que fazer para eu ficar sentadinho ali, por horas, para esperar o jogo começar.

Foram sorvetes, pipocas, refrigerantes, balas de goma... enfim, seu Walter conseguiu me entreter, não só com coisas para comer, mas também contando a história dos times, principalmente a do Flamengo, que eu conhecia bem pouco.

O Corinthians venceu com um gol do ponta-esquerda Aladim, que está no meu time de memória como torcedor do Timão. Foi maravilhosa aquela noite junto com meu pai, de quem ultimamente eu tenho sentido muitas saudades — dele e de minha mãe.

As escalações eram demais, ainda mais porque eu tinha no jogo de botão esses times. O Corinthians tinha Ado; Zé Maria, Ditão, Luís Carlos e Pedrinho; Suingue e Rivellino; Paulo Borges, Célio (Benê), Mirandinha e Aladim. O técnico era Aimoré Moreira. Esse foi um time marcante para mim, porque foi o primeiro que vi em campo.

Já o Flamengo era Ubirajara; Murilo, Onça, Reyes e Paulo Henrique; Liminha e Zanata; Doval, Ney, Fio e Caldeira, com Dorival Knippel como técnico.

Eu era fã do Doval e, obviamente, do Fio, por causa da música do Jorge Ben. Eu queria saber quem era o personagem da música e foi mais uma atração para o pequeno Waltinho.

Para mim, esse foi o jogo mais importante, porque dou muito mais valor para as coisas que conheci na infância do que as que vivi quando profissional. Mas, claro, também tenho boas histórias dessa época.

Quando virei juvenil do Corinthians, tive um confronto com o Flamengo na Taça São Paulo de 1980. Ganhamos por 2 a 0 e eu fiz o primeiro gol, de pênalti.

Em 1982, ano em que comecei a jogar profissionalmente, Flamengo e Corinthians caíram na mesma chave na Taça de Ouro — que foi chamada de "chave de povo", porque tinha também o Internacional e o Atlético-MG.

Nesse primeiro jogo fiquei alguns minutos olhando para o Zico dentro do campo, porque parecia inacreditável que aquele garoto (eu tinha 18 anos) estava frente a frente com o campeão da Libertadores e do Mundial, que o Flamengo tinha vencido em 1981.

Essas coisas começaram a acontecer muito comigo, por sempre ter sido um apaixonado pelo futebol. Por juntar figurinhas e ter jogos de botão, criei vários ídolos. E, de repente, comecei a jogar contra eles.

Com o pessoal do Atlético-MG já estava acostumado, porque tinha jogado na Caldense. Mas foi uma sensação muito estranha quando comecei a enfrentar esses grandes jogadores.

Mas continuando a minha história nesse jogo... Em 1983, foram duas grandes partidas. No Maracanã, o Flamengo massacrou e venceu por 5 a 1. No Morumbi, foi a vez do Corinthians arrasar: venceu por 4 a 1. Eu estava contundido e não joguei nenhum dos dois jogos, mas acompanhei de perto e foi espetacular.

O Corinthians foi eliminado por ter tomado um gol a mais. Mas, de qualquer maneira, o time da Democracia começou a bater de frente com o grande time do Flamengo (o melhor da história para mim).

Foi em 1984, nas quartas de final do Brasileiro, que fizemos o nosso jogo mais brilhante. Perdemos no Rio por 2 a 0, e precisávamos do mesmo resultado para conseguir a classificação. Foi uma das melhores partidas do Corinthians na época da Democracia Corintiana: vencemos por 4 a 1, dominando o jogo todo. E poderia ter sido mais.

Foi nesse jogo que o placar eletrônico do Morumbi começou a passar os horários da ponte aérea, tirando uma onda com a derrota do Flamengo. Mas, na realidade, estávamos super focados no jogo e nem percebemos essa brincadeira.

Depois disso fui para a Europa e fiquei sete anos por lá. Voltei para o Brasil em 1993, justamente para jogar no Flamengo, o que sempre foi um sonho meu.

Foi nessa época que teve aquela partida em que a Fiel Torcida gritou o jogo todo: "Volta, Casão, seu lugar é no Timão" e "Doutor, eu não me engano, o Casagrande é corintiano".

Essa foi uma das maiores declarações de amor que me fizeram na vida. Foi uma sensação muito estranha dentro do campo, porque eu estava com a camisa do Flamengo. Fiquei desconcertado!

Eu queria mostrar, para a também maravilhosa torcida do Flamengo, que eu não tinha nada a ver com aquela manifestação. Mas a verdade é que foi uma surpresa linda. Eu nem imaginava que alguma coisa como aquela poderia acontecer com alguém, e aconteceu comigo.

Depois do jogo fiquei com uma felicidade indescritível, porque me senti amado, acolhido, admirado... enfim, tudo o que uma pessoa deseja em toda vida, a torcida do Corinthians me deu naquela tarde no Pacaembu.

Por toda essas histórias que descrevi, Flamengo x Corinthians (ou Corinthians x Flamengo) sempre mexe muito com os meus sentimentos, e me emociona sempre.

Dessa vez, os dois times vão disputar um título muito importante. E repito: esse jogo tem tudo para ser o maior desse confronto.

Para quem eu vou torcer? Sou corintiano desde garotinho, né!

Quem eu acho que será o campeão? Sou corintiano desde garotinho, né!

Mas, na verdade, acho que o jogo de hoje tem muita chance de ir para os pênaltis.