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OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Pra quem não quer perder tempo com mentiras: vejam o filme sobre o Fenômeno

Ronaldo comemora gol marcado na Copa do Mundo de 2002 - Pressefoto Ulmer\ullstein bild via Getty Images
Ronaldo comemora gol marcado na Copa do Mundo de 2002 Imagem: Pressefoto Ulmer\ullstein bild via Getty Images

Colunista do UOL

23/10/2022 04h00

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Refleti bastante e percebi que estou perdendo o meu tempo escrevendo sobre mentiras, invenções e fake news de Jair Bolsonaro e sua tropa. E, nessa tropa, o pseudo craque da seleção brasileira, Neymar, está incluído.

Então decidi escrever sobre a verdade, sobre fatos que realmente aconteceram, sobre verdadeiros craques do futebol brasileiro, sobre caras que decidiram uma Copa para o Brasil e não sobre jogador cai-cai que solta fake news.

Portanto, decidi assistir o documentário "Ronaldo, o Fenômeno", que está disponível na Globoplay.

Lembro de quando ele surgiu, porque eu estava jogando no Flamengo e enfrentamos o Cruzeiro duas vezes. Ganhamos tanto no Mineirão como no Maracanã, mas lá em Belo Horizonte eu fiquei impressionado quando ele pegava na bola. Era uma coisa incrível, que me chamou muita atenção.

O ex-jogador Paulo Roberto (lateral-direito), é um amigo que gosto muito. Joguei com ele no São Paulo e, naquela época, ele estava no Cruzeiro. Em um dos ataques do time mineiro, o Paulo estava do meu lado e o Ronaldo fez uma jogada incrível.

Eu perguntei: "Paulo, quem é esse garoto?". Aí ele me falou que o garoto jogava demais, que fazia coisas espetaculares nos treinos e que iria ser um dos maiores da história.

Era 1993. Eu tinha voltado ao Brasil naquele ano, depois de ter ficado na Europa por sete anos e meio. Naquela época não existiam redes sociais, internet e canais a cabo eram coisas para pouquíssimos. Então eu não conhecia quase nenhum jogador brasileiro daquele momento.

Logo depois o Ronaldo foi para Europa, brilhar e fazer coisas inimagináveis no PSV, Barcelona, Internazionale, Real Madrid... mas, principalmente, na seleção brasileira.

O documentário é muito bem feito e trata de vários assuntos maravilhosos, dramáticos, estranhos, enfim, fala da vida de um dos maiores jogadores de todos os tempos.

Falando da Copa de 1998 e ouvindo as reportagens da época, lendo as matérias mas, principalmente, assistindo a conversa do Ronaldo com o Roberto Carlos (que estava com ele no quarto no dia da final contra a França), senti muita honestidade neles sobre um assunto inexplicável.

Imaginei o desespero do Roberto olhando o Ronaldo tendo alguma coisa e, como o próprio lateral falou, ele não sabe dizer o que foi e nem nenhum médico soube explicar.

Mas assistindo o documentário fiquei assustado com toda a pressão e a cobrança que caíam sobre Ronaldo, que era apenas um jovem.

É difícil assistir novamente as imagens das contusões, principalmente aquela contra a Lazio. Foi uma cena trágica e desesperadora, principalmente para um ex-jogador, como eu, que passou por algumas contusões gravíssimas e diversas cirurgias. A gente sente a mesma dor vendo essas cenas.

Ronaldo foi um jogador que, além do talento impressionante que tinha, era também muito forte. Não só fisicamente, como também mentalmente. O mais incrível é o enorme carisma que ele tem até hoje.

Depois das duas contusões no tendão patelar, muitos não acreditavam que ele poderia voltar a jogar. Talvez tenham sido os piores momentos da vida dele no futebol, porque aquilo que tinha acontecido na final da Copa de 1998 já estava superado. Mas, diante de uma contusão grave, o jogador sempre pensa que não voltará a jogar. Fiquei com o coração apertado revendo aquelas imagens.

Vendo todo o processo da fase de recuperação que ele fez por quatro meses numa clínica na França, é de admirar a força de vontade e também quanta dor ele teve que suportar no trabalho de recuperação da flexão do joelho operado. E ficou sem espaço na Inter, com o método de trabalho do treinador argentino Héctor Cúper.

Mesmo com tudo isso o Ronaldo se recuperou e foi para a Copa de 2002, no Japão e na Coreia, mas com muita desconfiança. Ele não participou das Eliminatórias, mas quando foi para Copa já estava recuperado e chegou bem.

Esses dias ouvi um comentário dizendo que o Ronaldo foi convocado machucado para a Copa de 2002. Mas não é verdade, porque ele já havia voltado a jogar na Internazionale de Milão. Treinou muito para conseguir ser decisivo, como realmente foi.

O Ronaldo foi tão importante para o Brasil no pentacampeonato em 2002 como Gerd Müller foi para a Alemanha em 1974.

Comentei junto com o Falcão todos os jogos da seleção naquela Copa. Na semifinal contra a Turquia ele não estava bem no jogo e achávamos que ele deveria ter saído durante o jogo. Só que ele ficou e fez o gol da vitória (um gol de bico!), levando o Brasil à final.

Ali aprendemos que um jogador "fenomenal" não se tira, porque ele pode decidir o jogo a qualquer momento e de qualquer jeito, até com gol de bico.

Mas, na final contra a Alemanha, Ronaldo se superou e entrou de vez para a história. Fazer dois gols numa final de Copa não é para qualquer um, principalmente depois de tudo que ele tinha passado de 1998 até meses antes do penta, como ele mesmo falou no documentário.

Depois dos dois gols na final, o Felipão tirou o Ronaldo do jogo. E, nas palavras dele, passou um filme de tudo que ele havia passado nos últimos quatro anos.

Foi o momento em que mais me emocionei, vendo o Rodrigo Paiva (que na época era assessor de imprensa da CBF), falando que Ronaldo disse a ele ainda no campo que Deus tinha sido muito bom.

A vida é feita de escolhas, e o Ronaldo escolheu ser um dos maiores jogadores da história do futebol, fazer gols numa final de Copa do Mundo... ele escolheu e conseguiu tudo isso.

Eu também fiz a escolha certa ontem, quando preferi assistir o documentário do Ronaldo Fenômeno na Globoplay à tarde e à noite, como já indiquei, fui assistir o documentário-concerto do David Bowie no cinema. Fiz isso em vez de assistir uma live só com mentirosos e com gente que quer destruir o Brasil, junto com um jogador que escolheu ser um babaca.