Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Com 27º e 6 horas de fuso horário para frente, acordei já em terra qatari
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Comecei esta quarta-feira indo fazer a minha credencial para entrar nos estádios, assistir e trabalhar nos jogos da Copa. E não só os da seleção brasileira: vim também pegar os ingressos de Brasil x Sérvia e Bélgica x Canadá. A companhia não poderia ser melhor: a apresentadora do UOL Domitila Becker, a produtora Raquel Arriola e meu mestre Juca Kfouri.
Hoje teremos o último treino do Brasil e a coletiva do Tite antes da estreia contra a Sérvia. Desde 2017, quando o Tite assumiu a seleção, sempre estive nas suas entrevistas pré-jogo.
Gosto sempre de saber sobre o seu lado emocional e psicológico antes de começar uma competição importante, tensa e na qual a seleção brasileira sempre será uma das favoritas. Apesar desses "patriotas golpistas" ainda insistirem em querer, de alguma forma, melar as eleições que foram democráticas e justas existe, sim, muita expectativa do hexacampeonato.
Com Bolsonaro, o país ficou um caos e com uma energia muito ruim e pesada. Mas um título na Copa do Mundo fará o mesmo papel que sempre fez: dar orgulho de ser brasileiro, como a torcida canta nos estádios.
Vou torcer para a seleção brasileira ser campeã, mas daí a ter orgulho de um país em que boa parte da população é golpista, mentirosa, perversa, egoísta como esse maquiavélico presidente, é outra história.
Dessa vez, nem um título mundial fará a gente se esquecer desses "patriotas sabotadores". Uma turma de delirantes perigosos que já estão partindo para o terrorismo.
Parecia divertido ver essas pessoas ajoelhadas nos portões dos quartéis, orando para o "Deus" deles dar um golpe. Parece uma seita maligna quando oram, cantam o hino nacional e batem continência para um pneu. Agora eles estão mandando mensagens em código morse para o céu porque acreditam que estão recebendo mensagens.
Será impossível a seleção e a camisa amarela se desvencilharem dessa situação patética.
Essa primeira partida do Brasil é bem complicada, teoricamente, porque a seleção sérvia é bem técnica e com um ataque muito perigoso com Vlahovic (Juventus) e Mitrovic (Fulham). É um time da escola da extinta Iugoslávia, que sempre foi considerada o Brasil da Europa pela técnica e habilidade de seus jogadores.
E tem mais uma representante dessa escola, a fortíssima e última vice-campeã do mundo Croácia, que além da técnica e da tática possui também muito espírito de luta, algo muito bem representado pelo ex-craque revolucionário, o filósofo Boban, que foi para a guerra. Aliás, o forte time de Modric está fazendo sua estreia nesse momento contra os africanos de Marrocos. Nada fácil também.
O Brasil vai precisar se impor através da objetividade, e não com a graça e o deboche. A derrota da Argentina para a Arábia Saudita precisa servir de lição para o foco, a seriedade e a dificuldade de uma estreia contra quem for.
O adversário do Brasil nesta quinta-feira é muito mais time do que o que derrotou a Argentina de Messi. Por isso, a equipe do Tite precisará ter atenção o tempo todo para não ser surpreendida.
Em relação ao Qatar, estou conhecendo agora e não posso dizer nada além de tudo que o mundo sempre soube, e que para a Fifa não tem problema algum. Estou falando sobre a falta de respeito com os direitos humanos, do tratamento de inferioridade da mulher na sociedade qatari e da homofobia descarada que existe por aqui.
Isso é um problema, sim. E não venham com esse papo de que é Copa do Mundo e o que interessa é o jogo. Quem pensa dessa maneira, no mínimo, é conivente com esse pensamento.
Fui bem tratado no aeroporto, no táxi, no hotel. Mas tem alguns "detalhes" que devem ser levados em consideração. Sou homem, hétero e branco, ou seja, não faço parte do grupo que sofre com a discriminação desse país.
Portanto, não sou parâmetro, porque não sofro na pele esse preconceito. Mas sofro por ser um defensor dos direitos humanos e não concordar com esse tipo de relação.
A bola rola de verdade aqui no Qatar, mas rola muito preconceito também, e não dá para separar as coisas.
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