Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Na minha sétima Copa, vivo entre as paixões antigas e os novos amores
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Quarta-feira, 30 de novembro de 2022. Hoje faz exatamente 10 dias que cheguei aqui no Qatar para a minha sétima Copa do Mundo.
Nesse evento tudo sempre funciona maravilhosamente bem. É uma experiência única estar na Copa do Mundo, porque, além de assistir e trabalhar em grandes jogos com os melhores jogadores do mundo, a gente reencontra amigos de outras Copas. No meu caso, jornalistas italianos e portugueses que conheço desde quando joguei nesses países, na década de 1980 e 1990.
Sou um cara que amo viver o presente, mas que tem muita saudade de tudo o que me deixa sensível. Amo o Brasil e, principalmente, a minha cidade, São Paulo. Mas quando estou fora, em muitos momentos vem uma saudade forte do meu lugar, dos amigos e das coisas. Isso mexe comigo, porque sou apaixonado por natureza.
Adoro conhecer o novo, mas também adoro o que já conheço.
Distante, fico divagando por meio das minhas lembranças. Principalmente das pessoas e do que vivi nesse evento por várias vezes.
Essa Copa é a minha primeira fora da TV Globo, e isso está estranho para mim. Estou adorando escrever e participar dos programas do UOL, e também escrever para a Folha de S. Paulo. Sempre sonhei com isso!
Mas não é fácil se desligar emocionalmente das pessoas, embora a maioria delas também não esteja mais na Globo. Não tem como não lembrar dos meus amigos Arnaldo Cezar Coelho, Mauro Naves, Tino Marcos, Paulo Roberto Falcão... e, claro, do Galvão e do Júnior — mas eles estão no mesmo lugar, nós que não estamos.
Estou sentado num canto do hotel escrevendo esse texto. Mas, em outras épocas, estávamos combinando alguma coisa. Naqueles tempos, eu saía muito com o Arnaldo e o Falcão para almoçar e jantar.
Eram momentos mágicos, porque joguei contra e junto com o Falcão, que é um cara que sempre admirei. Foi um dos maiores que vi jogar. Já o Arnaldo apitou jogos meus, nos clubes e na seleção também. Então tínhamos diversas histórias para relembrar e dar risadas.
Jamais vou esquecer de outro grande amigo, apesar de ter me expulsado de campo algumas vezes injustamente. Com José Roberto Wright, viajei toda a França em 1998 e a Alemanha em 2006. É um cara espetacular e muito engraçado.
Na Copa da França, estávamos fazendo Alemanha x México. E o Jurgen Klinsmann era o camisa 18 da Alemanha e um jogador consagrado. Em uma jogada, ele fez falta e o juiz deu um cartão amarelo para ele. E o Wright falou assim: "O juiz acertou em dar amarelo ao 18 da Alemanha, porque a entrada foi dura".
Eu olhei para o Cléber Machado, fechamos o microfone e falamos assim para ele: "Wright, 18 da Alemanha não existe, pô! O cara é o Klinsmann!". E começamos a dar risada, porque ele é muito espontâneo quando fala, e isso fica engraçado.
Me apego fácil, porque me apaixono fácil por tudo. A princípio confio em todas as pessoas até que me provem o contrário. Nasci dessa forma, vivendo através da paixão para tudo. Não consigo fazer nada se antes não me apaixonar.
Então tenho saudade das coisas legais que já passei, mas não queria viver tudo de novo. São só lembranças felizes e amorosas por quem realmente me apaixonei durante a vida.
Sem contar com quem trabalhei por anos e que estão por trás das câmeras, como cinegrafistas, produtores e produtoras, e todos os que estão em funções que não aparecem no vídeo.
Nessa Copa, estou me apaixonando por pessoas novas, que é assim que a vida rola para mim.
A saudade machuca, mas é uma sensação maravilhosa, porque mexe com a nossa criatividade. E não existe coisa mais gostosa do que você conseguir colocar os seus sentimentos para fora de alguma maneira.
Seja escrevendo ou falando, o importante é demonstrar que a gente ama, que não estão esquecidos e, muito pelo contrário, estão bem vivas no coração e na nossa mente através das lembranças.
Estou ouvindo o cantor e compositor que considero o poeta que melhor descreveu as dificuldades, as angústias e as curtições da juventude dos anos 1970. Então vou terminar esse texto com a música "A Palo Seco", uma linda canção do saudoso mestre e amigo Belchior.
"Tenho vinte e cinco anos
De sonho e de sangue
E de América do Sul
Por força desse destino
Um tango argentino
Me vai bem melhor que o blues
Sei que assim falando pensas
Que esse desespero é moda em 76
Eu quero que esse canto torto
Feito faca, corte a carne de vocês
Eu quero é que esse canto torto
Feito faca, corte a carne de vocês"
Bom dia, brasileiros! Paz e Amor!
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