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OPINIÃO

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Como em 1978, Argentina e Holanda se enfrentam sob o olhar de uma ditadura

Lionel Messi, da Argentina, e Memphis Depay, da Holanda, em ação na Copa do Mundo do Qatar - Ian MacNicol e Clive Brunskill/Getty Images
Lionel Messi, da Argentina, e Memphis Depay, da Holanda, em ação na Copa do Mundo do Qatar Imagem: Ian MacNicol e Clive Brunskill/Getty Images

Colunista do UOL

03/12/2022 18h51Atualizada em 04/12/2022 08h02

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Duas grandes seleções já estão nas quartas de final da Copa do Qatar. Argentina e Holanda se enfrentarão 44 anos depois de jogarem a final de 1978, na Argentina.

Aquela Copa foi realizada em um país que vivia uma ditadura covarde, como são todas as ditaduras. Os militares que estavam no poder não respeitaram os direitos humanos: torturaram, assassinaram e desapareceram com muitas pessoas inocentes que foram jogadas no Rio da Prata.

Naquela final, os Hermanos venceram a Laranja Mecânica de Ernst Happel (sem Johan Cruijff) na prorrogação, por 3 a 1 —no tempo normal, o jogo foi 1 a 1.

Na abertura das oitavas de final aqui no Qatar, a Holanda (que não quer mais ser chamada de Holanda, mas de Países Baixos) despachou rapidamente os Estados Unidos, que fez uma Copa razoável, mas demonstrou já na primeira fase que não iria muito longe na competição.

Foi como o próprio treinador Gregg Berhalter disse: não faltou empenho e nem espírito de luta, mas os EUA encontraram uma equipe muito superior.

Já a equipe de Louis Van Gaal é muito boa e bem treinada. Conheço bem o estilo dos times dele porque o enfrentei em uma final da extinta Copa da Uefa, na temporada 1991/1992. Ele era o treinador do Ajax e eu jogava no Torino.

Van Gaal gosta da troca de passes rápidos, muita movimentação, e segue a tradição da escola holandesa de fazer uma pressão na marcação, tentando sempre recuperar a bola na intermediária para continuar atacando.

Esse time não chega perto de seleções holandesas anteriores, mas tem bons jogadores, como o atacante Memphis, que fez o primeiro gol da vitória contra os EUA.

Só que terá pela frente uma Argentina que é a única seleção que tem uma torcida realmente participativa, que canta o jogo inteiro na arquibancada, e que me parece ser uma "torcida que sabe torcer", como diz o meu companheiro de UOL Mauro Cezar Pereira.

A torcida argentina não é formada de amiguinhos de jogadores, nem de influencers que estão mais preocupados em aparecer nas redes sociais do que com o jogo da sua seleção.

Fora isso, a Argentina tem Lionel Messi, que está sendo objetivo e eficiente. O craque argentino fez uma fase de grupos apenas razoável, mas já marcou três gols.

Essa Copa tem dois caras que merecem muito serem campeões mundiais. Messi e Cristiano duelaram por uma década e meia: quem fazia mais gols, quem ganharia mais títulos, quem seria mais vezes o melhor do mundo... mas nenhum deles ainda ganhou o título máximo para um jogador, uma Copa do Mundo!

O argentino já fez a sua parte, ajudando sua seleção a ir para as quartas. O português ainda irá tentar fazer o mesmo, na terça-feira (6), contra a Suíça.

Agora, argentinos e holandeses vão decidir quem avançará para a semifinal na sexta-feira (9). Os dois times já se encontraram na Copa da França, em 1998, nas quartas de final, e também na Copa do Brasil, em 2014, na semifinal.

O saldo foi de uma vitória para cada um. E eu vi a Holanda ganhar da Argentina por 2 a 1, em 1998, com um golaço de Dennis Bergkamp no finalzinho da partida. Participei da transmissão da partida, que foi em Marselha, pela TV Globo, junto com Luís Roberto de Múcio e José Roberto Wright. Depois, os holandeses foram eliminados pelo Brasil, nos pênaltis, na semifinal.

Em 2014, as seleções se reencontraram, para decidir uma vaga para a final da Copa no Brasil. Depois de um 0 a 0 no tempo normal e na prorrogação, a Argentina ganhou nos pênaltis, foi para a decisão e perdeu para a Alemanha.

Mas o reencontro de Argentina e Holanda, agora, tem uma triste coincidência: será jogado na Copa em um país que também não respeita os direitos humanos.

Todos esses confrontos em Copa foram equilibrados, como acho que esse também será. A Holanda tem um jogo mais coletivo, e a Argentina ainda não apresentou um futebol seguro, e está muito dependente das jogadas de criação e individuais do Messi.

Mas isso não é uma crítica, até porque Messi já é um dos artilheiros da Copa. Não está encantando e brilhando como no passado, mas sem dúvida alguma continua sendo muito temido.

Nessa Copa, Messi está tendo um companhia muito interessante, que é Julián Álvarez, que fez dois gols decisivos em jogos seguidos, contra Polônia e Austrália.

Vejo, portanto, um ligeiro favoritismo da Argentina por causa do Messi. Mas a Holanda tem chances, sim, de seguir em frente nesta Copa.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do que foi informado no texto, o técnico da Holanda na Copa de 1978 era Ernst Happel, e não Rinus Michels. Além disto, a Argentina jogou contra a Polônia, e não Dinamarca, nesta Copa do Mundo. Os erros foram corrigidos.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL