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Futebol deveria parar por Azadani, jogador iraniano condenado à morte

Amir Nasr-Azadani, ex-jogador do Irã, foi condenado à morte por participar de protestos - Foto: Reprodução/Instagram
Amir Nasr-Azadani, ex-jogador do Irã, foi condenado à morte por participar de protestos Imagem: Foto: Reprodução/Instagram

Colunista do UOL

14/12/2022 12h43

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O futebol deveria parar nesse momento.

As seleções deveriam se recusar a jogar a final da Copa do Mundo em solidariedade a um companheiro de profissão.

Amir Nars-Azadani, jogador de futebol iraniano, é acusado de "traição à República Islâmica do Irã" e foi condenado à morte por participar de manifestações a favor das mulheres do país que questionavam a morte de Mahsa Amini, de 22 anos, em setembro.

O futebol não pode virar as costas para isso, e depende dos jogadores de futebol. Não podemos esperar nada de dirigentes da Fifa. Mas nós, jogadores e ex-jogadores, precisamos nos manifestar do jeito que cada um pode. Mas, neste momento, o poder está nas mãos de quem irá jogar a final da Copa do Mundo, no domingo (18).

Será que o futebol se calará novamente?

Será que campeões do mundo se unirão para pelo menos soltar uma nota pública de repúdio e em solidariedade ao Amir? Ou só se unem contra mim mesmo?

É um dos nossos que covardemente está indo para morte, injustamente, apenas por se manifestar a favor das mulheres iranianas.

O mundo ficará em silêncio. E vou mais além: não são só os jogadores de futebol que deveriam reagir, mas sim os esportistas de todo o mundo, porque ele é um representante do esporte que foi corajoso ao colocar a sua vida em risco por defender a causa dos direitos humanos.

Um dos principais jogadores da história do Irã, Ali Karimi, conhecido como o "Maradona da Ásia", também enfrenta ameaças do governo iraniano por se colocar a favor dos protestos pelos direitos das mulheres.

Karimi, que jogou a Copa de 2006 e hoje é treinador, já se posicionou outras vezes pela liberdade de expressão e pelos direitos humanos no Irã. Quando Mahsa Amini foi assassinada por não usar corretamente o hijab, Karimi disse que a morte dela foi "uma desgraça que nem água sagrada pode limpar".

Hoje, o ex-capitão da seleção do Irã vive nos Emirados Árabes Unidos. Ele usa as redes sociais e seu poder de influência, especialmente sobre os jovens, para tentar ajudar os iranianos a driblar a censura e apoiar os manifestantes que continuam indo às ruas. Por isso, foi indiciado pelo governo por atentar contra a segurança nacional.

O ex-jogador já afirmou várias vezes que ele e sua família estão sendo ameaçados, e amigos próximos denunciaram, em outubro, que Karimi teria sido inclusive alvo de uma tentativa de sequestro pelas autoridades do seu país. O objetivo era levá-lo a força para Teerã para enfrentar um julgamento.

Como já falei mil vezes: o futebol não é só bola na rede.