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Ramon Menezes pode ajudar a formar jogadores-cidadãos

Ramon Menezes, técnico da seleção brasileira sub-20 - Thais Magalhães/CBF
Ramon Menezes, técnico da seleção brasileira sub-20 Imagem: Thais Magalhães/CBF

Colunista do UOL

20/01/2023 15h26

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Nesta quinta (19) começou o Sul-Americano Sub-20, e a seleção brasileira do ótimo treinador Ramon Menezes venceu a seleção peruana por 3 x 0, com dois gols do Vítor Roque e um do Andrey Santos.

Assisti ao jogo todo e gostei muito da dinâmica da equipe.

Ali estão alguns jogadores já bem conhecidos, principalmente o Vítor Roque, do Athletico, que já é titular do forte time do furacão.
O time não correu risco em momento algum e poderia ter vencido com um placar maior.

Mas quero falar sobre o Ramon, que foi um camisa 10 clássico, com muita criatividade, reforçando que o seu forte é a batida de faltas, fundamento que praticamente sumiu do nosso futebol.

O Brasil sempre foi temido pelo talento de seus jogadores e também pelos ótimos batedores de faltas.

Cansamos de vencer partidas em Copas do Mundo com gols de faltas.

Didi, Pelé, Rivellino, Nelinho, Zico, Roberto Carlos faziam os adversários tremerem quando saía uma falta em qualquer lugar do campo, independentemente da distância.

O último gol de falta que o Brasil fez numa Copa do Mundo foi em 2014, com David Luiz, contra a Colômbia.

Acredito que o Ramon irá recuperar essa nossa "arma" abandonada pela pseudo-modernidade do futebol. Aquela que impede os jogadores de treinarem bola parada.

Outra tarefa do Ramon será recuperar o comprometimento e o foco dessa geração.

Se o Brasil não mudar esse tipo de entendimento, da importância de vestir a camisa amarela ou azul, não vamos a lugar algum.

Essa última geração dirigida pelo Tite praticamente banalizou o amor pela camisa da seleção brasileira.

A geração Neymar e Daniel Alves desmoralizou a identificação da seleção com o torcedor, devido à soberba, arrogância e prepotência que dominaram esse cenário desde 2014.

Falo isso com propriedade, porque cubro seleção brasileira desde 1998, trabalhando em 7 Copas do Mundo, diversas Copas América, Copas das Confederações e inúmeros amistosos pelo mundo afora, e fui percebendo a mudança de comportamento dos jogadores quando vestiam a camisa da seleção.

Esse processo de resgate dos fundamentos da batida de falta e do comprometimento e foco deverá ser intenso, porque será trabalhoso.

Mas vejo no Ramon o cara certo para trabalhar nessa recuperação, porque sempre foi um jogador comprometido com a camisa dos clubes nos quais jogou e também na seleção brasileira.

Ele tem um conceito de futebol muito mais próximo da nossa escola futebolística do que tinha o Tite, e sabe muito bem o que o mundo sempre admirou e temeu no nosso futebol.

Antes da partida, mandei uma mensagem para o Ramon Menezes, desejando-lhe boa sorte. "Obrigado pela torcida, meu amigo, feliz com a sua mensagem", me disse ele após o jogo.

Eu respondi: "Assisti ao jogo e acho que você poderá ajudar a formar uma geração mais comprometida e focada". A reação dele me deixou feliz: "Esse é um dos objetivos, obrigado pela confiança."

O trabalho com esses garotos não só parte do comportamento como jogador, mas como cidadão brasileiro também, e não estou falando de política, e sim de respeito.

A soberba faz com que a pessoa se sinta superior aos outros. E é exatamente essa sensação de superioridade que leva muitos jogadores a terem problemas de assédio sexual, estupro e violência contra a mulher.

Além do caso Robinho, temos agora uma acusação séria contra o bolsonarista Daniel Alves em Barcelona.

O Daniel teve prisão preventiva decretada nesta sexta-feira (20), sem chance de pagamento de fiança, e o juiz irá decidir se ele vai para um presídio ou não, até aguardar pelo andamento das investigações.

A Justiça catalã não quer correr o risco, caso seja comprovado crime, de vê-lo fugir, como fez o covarde e estuprador Robinho, outro bolsonarista.

Esse comportamento denuncia na verdade uma questão de caráter mesmo, mas antes de mais nada, é preciso manter alguma noção de respeito alheio e os pés no chão.

Por isso, sou a favor, há muito tempo, da presença de uma psicóloga ou psicólogo no departamento médico dos clubes e das seleções, principalmente as de base masculina e feminina.

Não é só formar e desenvolver tecnicamente um jogador de futebol e soltá-lo no mundo, sem que se ajude a criar uma estrutura de cidadania e de respeito com uma sociedade, inclusive freando os males trazidos pelo deslumbramento que esse universo provoca.

Voltando ao Sul-americano, a seleção do Ramon já terá no segundo jogo uma prova de fogo, enfrentando a Argentina na próxima segunda-feira (23), às 21h30.

Quero destacar o ótimo zagueiro de 19 anos Robert Renan que o Corinthians envolveu na contratação do Yuri Alberto.

Marlon Gomes, Andrey Santos, Biro e Patrick me chamaram muito a atenção, mas a equipe toda é muito boa.

Quem sabe essa geração, com a ajuda do Ramon Menezes, possa ser completamente diferente, para melhor, dessa última, que não deixou legado nenhum.