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OPINIÃO

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Endrick é muito talentoso, mas pular a adolescência pode ser um problema

Endrick, do Palmeiras -  FERNANDO ROBERTO/UAI FOTO/ESTADÃO CONTEÚDO
Endrick, do Palmeiras Imagem: FERNANDO ROBERTO/UAI FOTO/ESTADÃO CONTEÚDO

Colunista do UOL

29/01/2023 16h15

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A final da Supercopa foi espetacular e ficará para a história do futebol mundial.

Palmeiras 4 x 3 Flamengo deixou claro que só se consegue ter um jogo aberto, intenso, corajoso, quando se tem grandes jogadores em campo. Por isso, aqui no Brasil, esse tipo de jogo é raro.

Mas esperei quase 24 h para escrever sobre o garoto Endrick.

Inicialmente, quero dizer que muitos falaram maravilhas pelo que ele fez na base e criaram uma pressão de rendimento muito forte em cima dele.

Alguns ainda disseram que ele deveria ter ido para a Copa do Qatar, mesmo tendo jogado só algumas partidas no time profissional e menos ainda como titular.

Eu sempre reconheci o talento desse garoto de 16 anos, mas também disse que ele teria muita dificuldade para enfrentar zagueiros experientes, rodados, e a grande maioria tendo larga experiência internacional. E está acontecendo exatamente isso.

Estão todos atentos a ele, marcam de perto, chegam junto, sabem bater, se colocam muito bem. E é claro que a pressão aumenta com a falta de experiência dele, aliada à expectativa de quem quer que ele faça nesses jogos o que fez no sub-17 e no sub-20.

O Endrick está numa fase de aprendizado, amadurecimento, e toda a pressão que criaram gerou uma cobrança desnecessária dele mesmo.

Mas, de todos os jogos que ele já fez, achei que nessa final teve uma atuação melhor.

Participou da construção da jogada do primeiro gol do Veiga e criou diretamente o lance do pênalti para o terceiro gol do Palmeiras.

O Abel está vendo tudo isso, tanto que está substituindo o garoto em todas as partidas. Porque sabe que não se pode exigir nos profissionais as mesmas jogadas que já fez na base, e muito menos cobrar que ele decida os jogos.

Todos nós temos que ter cuidado para não queimar um garoto supertalentoso e que realmente pode se tornar um jogador acima da média.

Mas está começando a ficar perigoso, porque já estão analisando o seu desempenho, como vem acontecendo nos jornais europeus — mais precisamente, os espanhóis.

O jornal Ás destacou a partida com a seguinte manchete: "Pouco Endrick, muito Palmeiras".

Estão esquecendo que ele só tem 16 anos. Ele está só iniciando a sua caminhada, e leva tempo para adquirir total confiança e segurança nele mesmo.

O Endrick está numa fase de adquirir experiência e ele mesmo precisa ter calma e não se cobrar tanto, além de conversar bastante com o Abel. Deveria pedir também ajuda para os jogadores mais vividos.

Dudu, Marcos Rocha, Zé Rafael e Veiga podem auxiliar para que ele se desenvolva mais rapidamente, mostrando a estrada certa e como lidar com esse momento inicial.

Todos os que se tornaram jogadores profissionais muito jovens passam por essas incertezas, dúvidas e se cobram pelo que já fizeram. Um apoio psicológico seria o ideal para ajudá-lo a lidar com a ansiedade, a impulsividade e o excesso de cobrança, que pesam muito, principalmente na juventude.

Como um garoto vai lidar sozinho com a perda da adolescência? É um momento mágico nas nossas vidas, quando nos divertimos muito, podemos errar, vamos a festas, e ninguém nos cobra muito, a não ser os nossos pais.

Alguém já imaginou o que acontece na mente de um garoto de 16 anos ao pular essa etapa?

O Endrick já é famoso e não consegue sair com os amigos sem que seja assediado. Fica quase impossível ir ao cinema, ficar conversando com os amigos na rua, ir a festas sem que seja o centro das atenções, paquerar, se apaixonar diversas vezes, tudo isso que a grande maioria das pessoas faz nessa idade.

É assim. Não pode só se preocupar com a evolução técnica, tática, de experiência, sem cuidar da saúde mental de um adolescente que já não pode ir a lugar nenhum sossegado.

Não sei se o Palmeiras tem esse trabalho com um profissional de psicologia, mas deveria ter para todos, e principalmente com o Endrick. Ele está na idade certa para se divertir, mas terá que abrir mão desse momento e precisará de ajuda.

Alguns vão dizer assim: "Mas ele está realizando o sonho de jogador profissional do Palmeiras".

Está mesmo, por causa do seu enorme talento, mas o desenvolvimento do ser humano passa por etapas e sempre que se pula uma delas, criamos problemas internos.

Vou falar de mim, mas isso vale para a grande maioria das pessoas. Quem não tem histórias engraçadas, difíceis, de viagens com amigos ou sobre namoros com 16 anos? Quase todo mundo leva para a vida toda episódios de sua adolescência para contar.

Finalizando, quero deixar claro que acredito muito que o Endrick se tornará um grande jogador, mas precisará de um acompanhamento psicológico, além, obviamente, de ter a sua família por muito tempo perto dele, como já faz hoje em dia.