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OPINIÃO

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Abel diz que quer ganhar e não fazer amigos, mas acho que faz os dois

O técnico Abel Ferreira, do Palmeiras - Ettore Chiereguini/AGIF
O técnico Abel Ferreira, do Palmeiras Imagem: Ettore Chiereguini/AGIF

Colunista do UOL

06/02/2023 14h53

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Na maioria das vezes, as entrevistas do Abel Ferreira são ótimas, como foi essa última, depois da vitória por 3 a 1 contra o Santos, no sábado (4). Vou comentar alguns trechos da coletiva do treinador do Palmeiras:

"Não vim para o Brasil fazer amigos, vim para ganhar"
Concordo plenamente, porque pensava da mesma forma quando joguei na Europa. Eu só pensava em ganhar jogos e fazer gols, porque tenho um instinto competitivo como o do Abel. Mas isso não significa que ele não fará amigos -- na realidade, tenho certeza de que ele já conhece pessoas que considera seus amigos, assim como fiz muitos amigos na Itália. Ele mostrou o seu foco, o seu comprometimento e a sua seriedade com o trabalho que veio desenvolver no Palmeiras. Em menos de três anos, ele já ganhou tudo. Continua motivado e motivando os seus jogadores para que eles não relaxem em nenhum momento.

"Se quiser saber como eu sou não pergunte a nenhum jornalista, mas para os presidentes dos clubes que já trabalhei, para os jogadores que jogaram comigo e os que jogam hoje"
Ele é um profissional que não expõe a sua vida particular em lugar nenhum. O Abel preserva a sua família e a sua vida pessoal, e como os treinos são fechados, ninguém conhece bem o Abel além dos jogadores do Palmeiras, a sua comissão, alguns dirigentes e sua família. Eu tenho uma grande admiração por ele não só pela sua capacidade técnica, mas também por ficar distante da posição de celebridade.

"Na beira do campo faço o que for possível para ganhar"
Nesse ponto discordo um pouco, porque tomar cartão amarelo toda hora e ser expulso sempre atrapalha os seus jogadores em campo. Por ter uma grande liderança e também pela confiança que os jogadores têm nele, sua presença na área técnica deixa o time mais seguro e confiante. Nesse ponto precisa melhorar um pouco e se conter mais. Mas não precisa virar um "santo", porque isso foge da sua personalidade. Mas ser menos expulso será bom para todos.

Abel vai para a coletiva de imprensa para falar algo de verdade e não para ficar com aquele papinho da maioria dos treinadores.

Ele acrescenta muito ao futebol brasileiro e não tem medo de criticar a Federação e as Confederações. Isso o coloca numa situação de conflito, mas é uma atitude muito corajosa.

Ele é perseguido sim, e não só pela arbitragem, mas por muitos treinadores que não perdem a mínima chance de criticá-lo direta ou indiretamente. Abel Ferreira é o melhor e mais vencedor treinador que trabalha no Brasil em um curto espaço de tempo, e isso incomoda.

Poucos valorizam as suas conquistas com o Palmeiras na mesma proporção em que destacam o seu comportamento na beira do campo.

No domingo (5) aconteceu uma briga generalizada entre os jogadores no Athletico x Coritiba. Por enquanto a Fenapaf (Federação Nacional dos Atletas Profissionais de Futebol), que cobrou uma punição pelo comportamento do Abel Ferreira na final da Supercopa, não se pronunciou.

Será que um treinador português chutar um microfone é mais grave do que um monte de jogadores trocando socos e pontapés dentro do campo?

O Abel Ferreira precisa melhorar o seu comportamento dentro de campo, mas não é o único. Só que quando se trata de treinadores brasileiros, essa Fenapaf não se posiciona.

Abel precisa aceitar o jeito brasileiro de ver e trabalhar no futebol, mas todos nós precisamos aceitar e entender o seu jeito de trabalhar.