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OPINIÃO

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Vencer o Carioca é uma necessidade para a sobrevivência de um trabalho

Vitor Pereira, técnico do Flamengo - Ettore Chiereguini/AGIF
Vitor Pereira, técnico do Flamengo Imagem: Ettore Chiereguini/AGIF

Colunista do UOL

01/03/2023 15h02

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Depois de o Flamengo perder mais um título em 2023, dessa vez nos pênaltis para o Independiente del Valle, a cobrança externa sobe até o limite para qualquer clube, diretoria e jogadores.

Eu não encaro o Campeonato Carioca como uma obrigação de título para o Flamengo, mas vejo que se tornou uma grande necessidade para a sobrevivência de um trabalho.

Eu nunca gostei do trabalho do Vítor Pereira, principalmente no quesito relacionamento. Ele não teve problemas com jogadores só no Corinthians e com o Róger Guedes.

Quando treinava Shanghai SIPG, teve problemas sérios de relacionamento com o Hulk (hoje no Atlético-MG). Tanto que, em uma entrevista para o Estadão, o jogador do Galo disse o seguinte:

"O Vítor me treinou no Porto e fui capitão sob o seu comando. Foi a mesma coisa na China,e foi muito bacana. Sempre o respeitei. Desejo o melhor para a vida dele, mas é um cara que no fim do nosso vínculo, não foi bacana. Não achei que foi correto comigo em algumas coisas. Talvez eu tenha errado algum com ele em comportamento. Como ser humano, foi uma decepção a forma como aconteceu. Fiz tudo para ajudar. É um cara de quem não guardo rancor, mas não tenho contato e nem faço questão de ter. Desejo felicidades para ele e sua família, mas não faz parte do meu círculo de amizade".

Durante o programa Fim de papo, de segunda-feira (27), disse o seguinte quando me perguntaram como seria um grande treinador para mim.

Respondi que, antes da parte tática, vem a honestidade. A verdade é que os jogadores precisam acreditar no que o treinador diz. Para mim, um grande treinador começa nesse ponto. Porque se não passar confiança, nada vai funcionar, principalmente a parte tática.

Não gosto de treinador que passa a mão na cabeça de jogador (como o Tite, por exemplo), porque não é assim que ganha a confiança de um grupo.

Eu acho que um dos problemas do Vítor Pereira está aí. Não discuto se ele é bom treinador ou não (eu não gosto), mas discuto o seu comportamento, o seu caráter, a sua arrogância e a sua prepotência.

No final de 2022, ele tinha o direito, como todos têm, de ir trabalhar onde quisesse. Poderia assinar com o clube que o procurasse. Mas, para isso, não precisava criar uma mentira feia como aquela de que a sogra estava mal e ele precisava voltar para Portugal.

Foi mentiroso, sim. E isso não pode ser omitido por aqueles que o defendem, que acreditam no seu trabalho e que acham normal o treinador largar um time e ir para outro.

Como já disse, não vejo problema trocar de time, mas jogando aberto e falando a verdade.

Acredito que isso dificulta, para qualquer um, adquirir a confiança no trabalho e nas relações. Como acreditar 100% em alguém que contou uma mentira que ficou pública mundialmente?

Passando para o seu trabalho: que ele está errando muito mais do que acertando nas escolhas, nas alterações e no modo tático, porque nada funcionou nos jogos decisivos até agora.

A responsabilidade é toda dele? Não. Mas o time não joga bem e, para mim, tem mais alguma coisa acontecendo e que não está fazendo o time render o que pode.

Eu, particularmente, acho que numa final não se tira Everton Ribeiro, Arrascaeta e Pedro, como ele vem fazendo, por exemplo.

Na final da Supercopa do Brasil, contra o Palmeiras, ele tirou o Arrascaeta quando estava perdendo e foi muito criticado por isso — assim como o treinador do Uruguai, que só usou o meia do Flamengo no último jogo da Copa e foi tarde demais.

Contra o Del Valle, com o jogo indo para a decisão por pênaltis, ele tirou o Pedro, que é um exímio batedor — tanto que em todos os jogos que se decidiu dessa maneira, ele bateu e marcou, inclusive na Copa do Qatar, contra a Croácia. Everton Ribeiro também saiu, e é outro que tem experiência e muita criatividade para, numa jogada, deixar alguém na cara do gol.

Estavam jogando bem? Não. Mas são jogadores que têm poder de decisão. Ele optou em rejuvenescer o time, o que não é uma ideia errada, mas poderia ter deixado jogadores acostumados a decidir jogos importantes.

Avaliar o trabalho de Vítor Pereira em apenas dois meses é precoce, mas ele disputou três títulos, sendo que, no Mundial, foi eliminado na semi. Servir ou servir no futebol são duas linhas que andam coladas, e isso muda de uma hora para outra.

Demitir o Vítor Pereira agora é assinar o atestado de incompetência dessa diretoria do Flamengo. E não demiti-lo será ter que conviver com uma pressão imensa, e com a massa rubro-negra com pouquíssima paciência para novos erros e novas derrotas.

No domingo (5), o Flamengo terá o confronto com o grande rival Vasco da Gama. Nesse caso, só uma vitória conseguirá manter a paciência da torcida no estágio que está agora, ou seja, muito baixo. Se isso diminuir, nada mais segurará a crise em curto espaço de tempo. Até porque a torcida já questiona o presidente Rodolfo Landim sobre a permanência do vice de futebol Marcos Braz.

Talvez esse time já esteja desgastado, e seu vínculo e identidade com a torcida estejam diminuindo ou terminando. Uma coisa para se pensar.