Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
A maior dificuldade para um dependente químico é conseguir pedir ajuda
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Li a matéria do Tales Torraga, no UOL, sobre o dia que Maradona impediu o suicídio do ex-jogador Monzon, que foi seu companheiro no vice da Copa do Mundo de 1990, na Itália.
Essas histórias de desespero ligadas à dependência química mexem muito comigo porque cheguei ao fundo do poço, mas não tenho em mim o instinto suicida conscientemente.
Mas, de qualquer forma, depois que a pessoa perde o controle da vida, começa um processo de um suicídio progressivo inconsciente.
Quem lê esse texto e já esteve nessa situação, ou conhece alguém próximo que já esteve, entenderá o desespero das pessoas codependentes, que não conseguem ajudar o doente.
É aí que entra uma coisa estranha, mas muitas vezes salvadora que existe entre dependentes químicos.
Maradona impediu o suicídio do Monzon, mas ele mesmo não conseguiu se levantar e sair da dependência química.
Alguém pode perguntar: por que isso acontece?
É que, mesmo em plena destruição, a pessoa não consegue se perceber numa situação perigosa, de descontrole, mas consegue ver que o outro está se acabando.
Tem outra pergunta que sempre fazem: como então um cara que também está sem controle consegue fazer com que o outro seja ajudado?
A questão é um dependente químico se torna desafiador principalmente para os profissionais da saúde mental (psicólogas e psiquiatras), mas ouvem e aceitam que outro dependente fala para ele.
Eu já vi muitas vezes quando estava internado, e participando de terapias em grupo, o paciente dizer assim para a psicóloga: você já usou drogas? O que você sabe sobre que o sinto?
O desafio acontece através da negação e na tentativa de desqualificar o conhecimento profissional, mas, na realidade, o dependente químico em plena doença fica totalmente sem escuta.
O Monzon não estava querendo se suicidar de verdade, mas estava sim pedindo ajuda.
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