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OPINIÃO

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A lição de Messi: não basta ser campeão, é preciso ganhar o carinho do povo

Lionel Messi e Diego Maradona na Copa de 2010 - Gabriel Bouys/AFP
Lionel Messi e Diego Maradona na Copa de 2010 Imagem: Gabriel Bouys/AFP

Colunista do UOL

23/03/2023 08h57

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Na terça-feira (21), Messi, sua família e amigos foram jantar numa churrascaria em Buenos Aires. Ele está lá porque a seleção da Argentina joga nesta quinta-feira (23) contra o Panamá. É a primeira partida depois conquista da Copa do Mundo do Qatar, em 2022. Na sexta, fará um jogo-treino contra o River Plate e, na terça (28), enfrenta Curaçao em Santiago del Estero.

Será uma grande festa do povo argentino, que tem uma forte identificação com a sua seleção mesmo nos momentos ruins. Isso acontece porque os jogadores argentinos sempre jogaram para os torcedores, pelo país, e não para alimentar o próprio ego, como aconteceu com a seleção do Tite.

Voltando ao jantar do Messi: quando ficaram sabendo que ele estava lá, foram centenas de torcedores para a porta da churrascaria para vê-lo de alguma maneira. Quando o jantar terminou, sugeriram para o Messi sair pelos fundos, mas não foi isso o que ele fez.

Lionel Messi escolheu se jogar nos braços do povo argentino e foi ovacionado, agarrado, e quem conseguia encostar nele saía correndo comemorando, como se tivesse feito um gol.

Ele sempre foi cobrado por não ter o temperamento de um argentino e parecer mais um espanhol, um europeu. Sem contar que faltava também um título mundial, já que a Argentina não vencia uma Copa desde 1986, no México.

Pela falta de títulos e falta de identificação com o seu povo, Messi não recebia o mesmo carinho, mesmo sendo um gênio da bola, enquanto Diego Maradona sempre foi idolatrado. Diego era do povo, se manifestava pelos direitos dos trabalhadores, saía em passeatas lado a lado com o cidadão comum, enquanto Messi jogava no Barcelona e mal vinha para o seu país.

Mas o Messi que vimos na conquista da Copa do Qatar foi um outro cara, ou podemos dizer, um verdadeiro argentino. Jogou tudo o que podia, decidiu jogos importantes, provocou adversários e às vezes até exagerou nesse comportamento que jamais havíamos visto.

Foi campeão do mundo, melhor jogador da Copa levantou a taça, e comemorou como um louco, que antes de loucura não tinha nada. Isso fez ele conquistar o torcedor de seu país, mas ainda faltava algo para ele alcançar Diego Maradona no coração dos argentinos. O que estava faltando? Se jogar aos braços do povo.

Messi conseguiu entrar definitivamente do coração dos argentinos. O tempo estava passando, porque ele já está com 35 anos, mas o seu talento e a sua essência fizeram com que ele conquistasse, além da Copa, o que mais queria, que era o carinho do seu país!

A cena do restaurante foi espetacular porque os jogadores atuais, principalmente os brasileiros, fecham restaurantes e andares de hotel, e evitam ao máximo o contato com as pessoas. Esse comportamento foi o que mais afastou o verdadeiro torcedor brasileiro da seleção.

Mas Lionel Messi saiu da sua posição de gênio do futebol, quase inalcançável, para se colocar como todos. Foi um momento de igualdade social da sua parte e era isso que o povo argentino estava com saudade. Porque o último gênio da bola do país a ser assim foi Diego Armando Maradona. Depois desse momento mágico, os dois dividem o coração do torcedor e do povo argentino.

Espero que essa nova geração de jogadores da seleção brasileira entenda isso e tenham como referência o Casemiro e, obviamente, Lionel Messi. Porque dá para ser um jogador famoso e manter a humildade e a simplicidade.

Mirem-se no exemplo dos ídolos da seleção argentina, principalmente no melhor do mundo.