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OPINIÃO

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Que o novo ciclo do Brasil tenha um pouco do amor argentino pelo povo

Torcida abre bandeirão com foto de Messi no amistoso entre Argentina e Panamá - Mariano Gabriel Sanchez/Anadolu Agency via Getty Images
Torcida abre bandeirão com foto de Messi no amistoso entre Argentina e Panamá Imagem: Mariano Gabriel Sanchez/Anadolu Agency via Getty Images

Colunista do UOL

24/03/2023 15h32

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Eu sou da América do Sul e torcedor fanático pelo nosso continente.

Torço pelo povo lutador que somos, pela democracia das Américas e, obviamente, pelo futebol sul-americano, que por muitos anos foi invejado e nos últimos tempos foi ficando para trás.

No Qatar, a seleção argentina recuperou um pouco o prestígio e as atenções para o nosso continente. Não só porque ganhou a Copa do Mundo, mas também pela paixão incondicional do povo argentino pela sua seleção. Era invejável a verdadeira emoção que eles transmitiam a cada jogo.

Claro que tudo acontecia porque os jogadores correspondiam, não só jogando bola, mas também na raça que mostraram ter, honrando a camisa do seu país.

O título chegou e teve uma recepção maravilhosa quando a delegação voltou para Buenos Aires. Mas o ápice da demonstração de amor aconteceu na quinta-feira (23), no reformado Monumental de Nuñez, que estava lotado para o primeiro jogo da Argentina depois do título mundial.

As emoções foram ao mais alto nível que se possa imaginar.

O que vi no jogo Argentina x Panamá não teve nada de patriotismo, mas de amor verdadeiro. Não foi uma manifestação política e sim uma manifestação de amor.

No estádio estavam pessoas a favor e contra o atual governo, estavam pessoas que estão sofrendo com a inflação altíssima, mas isso não impediu ninguém de declarar toda a sua paixão pelas cores azul e branca da bandeira da Argentina.

Na hora do hino nacional a comoção foi geral e a união de energia era nítida, nas arquibancadas e no campo. Os jogadores imensamente emocionados, chorando, cantando o hino e olhando aquela manifestação popular espontânea que acontecia na frente deles. Também foi grande a emoção do técnico Lionel Scaloni, que teve o seu nome gritado do fundo do corações argentinos dentro do estádio.

Claro que as câmeras fixaram no rosto do melhor jogador do mundo, que é Lionel Messi.

Primeiro o cidadão Lionel, que nunca tinha se visto numa situação daquela com o seu país. Provavelmente, se ele não fosse um jogador, estaria junto com todo o povo, no estádio ou ligado na TV.

O mais difícil para o gênio Messi foi que, por anos, foi cobrado não só pela falta de títulos, como também pela suposta falta de espírito argentino. Mas o camisa 10 sempre se imaginou e desejou estar naquela situação, e jogou tudo o que podia na (talvez) última chance real de mostrar para o seu povo que também corria o sangue argentino nas suas veias — porque gênio da bola, todos já sabiam que ele é.

O cidadão Lionel e o gênio Messi se emocionaram e choraram, cada um do seu jeito, com seus pensamentos e com o mesmo coração.

Não tem como não comparar como se comportam os jogadores da seleção argentina com uma boa parte dos jogadores brasileiros da nossa seleção.

A reação do torcedor de cada seleção depende totalmente do que os jogadores passam para eles. Os argentinos passam com atitudes o amor pelo país e o orgulho de vestir a camisa da sua seleção. Os nossos falam que amam e que têm orgulho de vestir a camisa amarelinha mais conhecida do planeta.

Aí está a grande diferença: enquanto uns têm atitude, outros só falam.

Para completar a noite, Messi fez um golaço de falta que já tinha ensaiado no primeiro tempo, só que a bola explodiu na trave.

Então mesmo durante todos os anos que a Argentina ficou sem vencer, eles tinham motivos para acreditar que voltariam a ser campeões.

Nós não vencemos desde 2002 uma Copa do Mundo e não tínhamos reais motivos para crer que ganharíamos novamente. Só os ufanistas acreditavam.

Vejo a seleção dos hermanos como a melhor e a mais forte seleção da América dos Sul já faz alguns anos, porque nunca se importaram em ficar com o primeiro lugar das Eliminatórias, mas se dedicavam a ganhar títulos.

Demorou, mas vieram os dois mais importantes de uma vez. Campeão da Copa América da morte, em 2021, em pleno Maracanã, com o nosso camisa 10 não pegando na bola e o deles dando a assistência para o gol do título. E venceram a Copa no Qatar, com o gênio Messi sendo o melhor do torneio.

Por aqui começa um novo ciclo. Mesmo que o Ramon Menezes seja interino e que talvez a comissão técnica seja completamente outra, o ciclo é novo. Espero que, além de se formar um grande time, também seja formado um grande grupo de cidadãos jogadores. Que mostrem amor pelo país e honrem a camisa da seleção com atitudes, e não com blábláblá.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL