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OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Seleção não pode trabalhar como vitrine de jogador nem para facilitar visto

Andrey Santos em ação pela seleção brasileira em amistoso contra o Marrocos - Alex Caparros/Getty Images
Andrey Santos em ação pela seleção brasileira em amistoso contra o Marrocos Imagem: Alex Caparros/Getty Images

Colunista do UOL

27/03/2023 13h09

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O desempenho da seleção brasileira na derrota por 2 a 1 contra Marrocos, no sábado (26), continua causando uma certa polêmica.

Tenho acompanhado tudo, ouvindo e lendo as opiniões dos especialistas sobre esse amistoso, e estou achando muito interessante. Mas penso diferente em algumas coisas.

Começando pelo amistoso em si.

Eu achei válido e importante marcar esse amistoso. Só não vi sentido em não terem usado as duas Datas Fifa, porque era mais justo o Ramon dirigir o time duas vezes para vermos se, na segunda partida, ele escalaria melhor a equipe, principalmente o meio-campo e o ataque.

Ele escalou muito mal o ataque, invertendo as posições do Rodrygo e do Rony, e fez um meio-campo sem criatividade, sem chegada na área, sem chutes de fora da área. Todos reclamavam da falta de um 10 por característica (não em número). Tinha o Raphael Veiga lá para essa função e ele deixou de fora.

A segunda coisa é sobre a escalação do Andrey. Muitos estão falando que foi para ele ganhar pontuação e conseguir o visto de trabalho na Inglaterra e poder jogar pelo Chelsea, culpando a CBF por isso.

Eu acredito que o Andrey jogou para isso mesmo, porque foi um absurdo o André (Fluminense) não ter sido titular.

Já é um ponto forte do time do Diniz antes mesmo dele ser o treinador, é cogitado por vários clubes europeus de médio e grande porte, e a escolha por Andrey, que acho um ótimo jogador, foi bem estranha mesmo.

Mas não vejo responsabilidade da CBF nisso, e sim do treinador interino Ramon Menezes. Foi ele quem convocou e escalou, e é óbvio que essa situação não tem como se provar, mas chamou a atenção de todos o Ramon escalar o Andrey logo de cara.

Se houve isso mesmo, quem tem que ser cobrado é o treinador, porque nesse caso não me parece uma interferência da CBF. E olha que sou bem crítico aos donos do futebol brasileiro. Mas a minha visão é que, desde a convocação, a responsabilidade foi do próprio Ramon.

Quando é nítido que a CBF tem uma interferência ruim no nosso futebol, como teve na maioria das vezes, tem que se criticar e cobrar transparência mesmo, e é o que fazemos sempre.

No passado, quando treinadores importantes da seleção brasileira convocavam jogadores que logo depois se transferiam para a Europa e nunca mais eram convocados, desconfiávamos dos próprios treinadores.

Eu cobri a seleção por mais de 20 anos de perto, treinos, coletivas, todos os jogos amistosos ou não. E vi muitos jogadores que só foram uma ou duas vezes, até serem negociados. Depois, nunca mais.

Nas rodinhas de jornalistas, das quais eu fazia parte, falávamos sobre essa desconfiança sobre os treinadores.

Nesse caso específico da convocação e da escalação do Andrey, continuo com o mesmo pensamento: o responsável e quem deve responder às perguntas é o Ramon Menezes, e não a CBF.

Ele perdeu a grande chance de fazer algo diferente, porque todos esperavam uma escalação nova. Todos queríamos ver uma seleção mais agressiva e criativa. E, na verdade, ele escalou pior do que o Tite.

Foi muito mal no jogo, escalando e substituindo. E, na minha opinião, deveria ter outro jogo para se ter uma avaliação mais justa do seu trabalho. Porque a impressão que ele deixou nessa derrota para Marrocos foi péssima.

Concordo e acho que nós deveríamos continuar cobrando explicações sobre isso, porque ao invés de evoluirmos, estamos dando passos para trás, usando a seleção para o bem dos clubes, facilitando a negociação dos jogadores e, nesse caso, visto de trabalho.

Eu vi o Mauro Cezar Pereira falando sobre isso e concordo com ele. Só que acho que foi o Ramon, e não a CBF, que "trabalhou" para o Chelsea.

Não devemos mais aceitar isso, porque ao invés de caminharmos para uma organização para ganharmos uma Copa, novamente estamos voltando ao esquema que perdurou por muitos anos, até chegar no Tite e a seleção virar uma panela nociva em todos os sentidos.

Ouvi o Trajano, Renato Maurício Prado, ontem no Mesa Redonda da Gazeta também falamos sobre isso. Ou seja, essa escalação do ótimo Andrey incomodou muita gente, não só os que trabalham no futebol, mas também torcedores que entram nos debates.

Para deixar claro: não estou acusando ninguém, apenas repercutindo o que tem sido comentado. O Andrey não tem nada a ver com isso, porque é um ótimo jogador. Eu também o convocaria, como todos da sub-20 que o Ramon convocou, mas ele ficaria no banco como os outros.

A dupla de volantes deveria ter sido Casemiro e André, com o Veiga na meia com Rodrygo, Rony ou Vítor Roque e Vinícius Jr no ataque, sem nenhuma invenção absurda como fez o Ramon.

Agora é esperar que se contrate logo um novo treinador. A preferência é para Carlo Ancelotti e Paulo Roberto Falcão, ou Abel Ferreira e sua comissão.

Não estamos numa situação de testes, gente!

Não ganhamos uma Copa desde 2002 e precisamos de alguém com experiência e que seja vencedor, para que consiga recuperar esse espírito na nossa seleção.

Recuperar os anos da camisa, da identificação com o torcedor e, principalmente, a mentalidade de campeão que tivemos por anos. Faz um bom tempo que nem sabemos por onde ela anda.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL