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Clara Nunes, a Mineira, subiu e se colocou como estrela brilhante no céu

A cantora Clara Nunes - Reprodução
A cantora Clara Nunes Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

02/04/2023 14h37

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Estamos no primeiro fim de semana dos jogos de ida das finais dos Estaduais espalhados pelo país.

Acordei cedo neste domingo (2) e, sem querer, peguei no Canal Brasil um documentário sobre a maravilhosa cantora mineira Clara Nunes, que nessa mesma data, há 40 anos, em 1983, falecia por uma reação alérgica quando foi fazer uma cirurgia de varizes, então considerada simples.

Sinceramente me emocionei muito mais com esse documentário do que com os jogos. Foi uma emoção completa, porque era a cantora preferida da minha mãe e também porque ouvi muito na minha infância nas festas familiares.

Tínhamos discos dela, sempre víamos suas apresentações nos programas de TV. Super talentosa, bonita, carismática, sensual. Cantava muitas músicas da sua religião, umbanda, numa época que havia respeito pelas diferençara religiosas.

Foi a intérprete que mais cantou músicas dos compositores da escola de samba da Portela, sua escola preferida. Pela sua voz e presença ganhou alguns apelidos carinhosos, como 'Sabiá', 'Mineira', 'A Guerreira', 'Claridade' e 'Mestiça Mística'.

Era também uma das intérpretes preferida dos grandes compositores, principalmente do samba, mas 'A Guerreira' cantava de tudo com uma voz linda, limpa, forte, que é impossível não parar para ouvir, e por que não, chorar!

Foi casada com Paulo César Pinheiro, um dos grandes compositores e poetas da música popular brasileira e foi lembrada por muitos letristas que fizeram músicas em sua homenagem ou exclusivamente para ela cantar.

Chico Buarque fez para ela Morena de Angola, e João Nogueira compôs a maravilhosa música Mineira em sua homenagem.

Cantou junto com os maiores nomes da época de ouro da música brasileira e, uma das quais mais gosto é quando cantou PCJ (Partido Clementina de Jesus) junto com a rainha Clementina de Jesus, com o verso inesquecível "Não vadeia Clementina, fui feita para vadiar". Mas a interpretação mais marcante e linda da Clara Nunes talvez seja a música Canto das Três Raças.

Estou escrevendo e ouvindo uma playlist dela e não tem como não viajar num passado distante, mas muito marcante para mim, por lembrar da minha família, principalmente das grandes festas e, claro, com todos presentes.

Através da sua voz, muitos momentos ficaram marcados para todas as pessoas que viveram aqueles tempos, em que o barato era pegar um LP, colocar no toca-discos e curtir todo o ritual para se ouvir os nossos músicos preferidos.

Me lembro bem desse triste dia de 1983, foi uma comoção geral por ter sido uma horrível fatalidade e porque Clara era muito querida do público.

Um sorriso encantador, uma simpatia contagiante, transmitia uma energia boa e passava felicidade, tranquilidade, do mesmo jeito que te passava uma garra enorme para levar a vida, que não era fácil.

A "Mineira" conquistou o Brasil com toda a sua força e marcou presença definitiva na história da música popular brasileira. Recomendo esse fantástico documentário chamado "Clara", que está sendo exibido no Globoplay e também no Canal Brasil.

Em relação às finais dos Estaduais, prefiro esperar o segundo jogo, que aí sim dará o título aos melhores de cada Estado. Mas, por ora, fico mesmo com esse texto em homenagem a Clara Nunes, numa data que marca os 40 anos da sua triste partida, mas que a colocou como uma eterna estrela no céu, mas também na nossa mente.

E sem dúvida o mar serenou quando ela pisou na areia.