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Em maio de 1988, Napoli x Milan fizeram um dos grandes jogos da história
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Depois da rodada de ontem (11) das quartas de final da Champions League, com as vitórias do Manchester City sobre o Bayern por 3 a 0 na Inglaterra, e também a ótima vitória da Internazionale de Milão por 2 a 0, em Lisboa, sobre o Benfica, teremos agora à tarde os outros dois jogos.
Real Madrid, o atual campeão e sempre um grande favorito contra o Chelsea, que vem fazendo uma péssima temporada e tem nesse momento Frank Lampard, um dos grandes ídolos do clube, como treinador interino. Os dois times se enfrentam em Madri.
Mas quero falar mesmo é do outro confronto, que vai muito além da rivalidade no futebol italiano dos anos 1980. O Milan representa o norte da Itália enquanto o Napoli representa o sul.
Eles vão se enfrentar pela primeira vez numa Champions, e eu vou contar a história do melhor Milan x Napoli que já vi na minha vida.
Na temporada 1987/88, chegamos num grupo enorme de novos jogadores para o futebol italiano. Ruud Gullit, Van Basten, eu, Careca, Dunga, Scifo, Ruddi Völler, Berthold, Ian Rush, Toni Polster, entre outros.
Nos juntamos a nomes históricos como Boniek, Briegel, Elkaer Larsen, Passarela, Cerezo, Júnior, fora os italianos campeões do mundo na Copa da Espanha de 1982.
O Napoli vinha do seu primeiro scudetto na temporada 1986/87 e claro que, com Maradona e Careca juntos, era o grande favorito ao bicampeonato.
Porém o Milan foi buscar dois fantásticos holandeses. Marco van Basten, um jovem centroavante do Ajax de Amsterdã que já tinha mostrado coisas incríveis nos anos anteriores, e o Gullit, um camisa 10 muito forte fisicamente, rápido, que batia muito bem na bola e um exímio cabeceador.
Eu já conhecia os dois porque, na temporada 1986/87, joguei no Porto e aos domingos à noite assistia os gols dos principais campeonatos da Europa.
Naquela época só o campeão jogava a Copa dos Campeões (atual Champions) e desde o início os confrontos eram sorteados em jogos eliminatórios. E naquele sorteio caiu de cara Real Madrid x Napoli, com o time espanhol eliminando o time do Maradona. O Milan também foi eliminado, logo na segunda fase, pelo Espanyol.
Então os dois times se viraram para o Campeonato Italiano e a Copa da Itália.
Aquele Campeonato Italiano foi super disputado, com o Milan (norte) e o Napoli (sul) lutando ponto a ponto. Era difícil vencê-los.
Naquela época a vitória dava somente 2 pontos, então a cada rodada que passava, as chances de quem corria atrás ficavam menores.
No caso do Milan foi ainda mais problemático, porque o Van Basten começou a apresentar sérios problemas no seu tornozelo logo no início da temporada e precisou ser operado.
Só para constar: o holandês parou de jogar com 27 anos, exatamente por problemas na cartilagem do tornozelo.
Com isso, o Napoli passou à frente e foi conseguindo manter a distância de 4 pontos na tabela por muito tempo.
Mas, quando chegou nas três últimas rodadas do campeonato, aconteceu o que a grande maioria achava impossível.
O Napoli perdeu em casa para a Juventus e empatou com o Verona, enquanto o Milan ganhou as duas partidas e diminuiu a diferença para 1 ponto, faltando apenas duas rodadas para o fim.
Na penúltima partida do campeonato, Napoli e Milan se enfrentaram no estádio San Paolo (atual estádio Diego Armando Maradona) lotado, com os torcedores azuis sedentos para gritar campeão em cima do grande rival da temporada e de região.
Naquela época, um time do sul ser campeão ganhando de uma equipe do norte era o máximo que poderia acontecer para aqueles que sentiam desprezados - e, por muitos, nem eram considerados italianos.
No domingo ensolarado de 1º de maio de 1988, tinha uma equipe que poderia terminar a rodada com o seu segundo scudetto ou uma equipe que, para poder sonhar com o título, teria que passar por cima da dupla Careca-Maradona no auge.
O jogo foi digno de uma final de campeonato, super disputado, com os grandes jogadores do momento em campo brigando por todas as bolas. E sem poder marcar bobeira, porque tudo poderia acontecer.
Ottavio Bianchi escalou o Napoli assim: Garella; Renica como líbero; Bruscolloti (Carnevale), Bigliardi e Ferrara; Bagni (Giordano), De Napoli, Romano e Francini; Careca e Maradona.
Já Arrigo Sacchi mandou a campo o seguinte Milan: Giovanni Galli; Tassotti, Filippo Galli, Baresi e Maldini; Donadoni (Van Basten no intervalo), Ancelotti, Colombo e Evani; Gullit e Virdis (Massaro).
Foi um dos jogos mais intensos e alucinantes que já vi.
O Milan fez 1 a 0 com Virdis, aos 36 minutos, mas Maradona empatou aos 45 minutos, na última jogada do primeiro tempo.
Na volta para o campo, o Milan veio decidido a ganhar o campeonato e pegou o forte Napoli. Logo aos 26 minutos, novamente Virdis colocou o time do norte em vantagem e, aos 31 minutos, Van Basten faz 3 a 1. O Van Basten tinha voltado a jogar antes desse jogo. Entrou no segundo tempo e fez o gol da vitória contra o Empoli, no San Siro.
O Napoli reagiu imediatamente com Careca, e aos 33 minutos o jogo ficou 3 a 2, com o time do sul indo para cima, em busca do empate que o deixaria tranquilo para a última rodada.
Mas o time do Milan do Arrigo Sacchi foi a equipe mais agressiva que já vi jogar. Eles iam para cima em qualquer lugar e em quaisquer circunstâncias de jogo. Se defendiam indo para cima e não era nada fácil atacá-los sem se colocar em risco, e foi assim até o final.
Com a vitória sobre o Napoli por 3 a 2 na última rodada, bastou um empate com a equipe do Como, no estádio San Siro, para o Milan ganhar o scudetto no campeonato mais competitivo e difícil daquela época.
Não tenho dúvida de que esses dois confrontos pela Champions League serão tão disputados e intensos como aquele. Mas claro que sem a mesma qualidade técnica, porque seria covardia comparar os jogadores dos dois times de hoje com aqueles que foram protagonistas de 1º de maio de 1988.
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