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OPINIÃO

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Com o escândalo das apostas, como anda a credibilidade do Brasileiro?

Flávio Dino, ministro da Justiça, colocou a Polícia Federal para investigar manipulação de resultados - Amanda Perobelli/Reuters
Flávio Dino, ministro da Justiça, colocou a Polícia Federal para investigar manipulação de resultados Imagem: Amanda Perobelli/Reuters

Colunista do UOL

11/05/2023 17h48

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Senhoras e senhores, façam suas apostas.

Esse caso de apostas nos sites envolvendo jogadores de futebol, por enquanto, é muito delicado, crítico e vergonhoso.

Um atleta profissional é aquele que, desde criança, tem um instinto competitivo muito forte, diferente de outras pessoas. Joga para ganhar, porque é assim que se comporta um atleta de verdade. Qualquer coisa fora disso é deplorável, principalmente entre jogadores que ganham muito bem há um bom tempo.

Se vender para chutar a bola para lateral, escanteio, tomar cartão amarelo ou vermelho, é só a ponta do iceberg da trama criminosa.

Porque depois que muitos jogadores já estiverem envolvidos, sem poder sair desse esquema, as apostas serão outras, muito mais pesadas do que essas, mas desonestas do mesmo jeito.

Começaram a apostar pênaltis, gols contra, derrotas, e aí os envolvidos — gostando ou não — terão que fazer, porque já estão dentro do esquema. E, pelo áudio da conversa do jogador do Santos Eduardo Bauermann, as ameaças serão pesadas caso não façam o que for mandado.

São sete jogadores que, por enquanto, são réus por manipular eventos: Bauermann, Gabriel Tota, Victor Ramos, Igor Cariús, Paulo Miranda, Fernando Neto e Matheus Gomes.

Esse buraco não tem fundo e quem entrar não sai mais. Como ex-jogador de futebol, fico indignado e revoltado com os companheiros que se envolveram nessa trama mafiosa.

Não tenho dúvida alguma de que as investigações irão chegar a muitas pessoas do esporte, não só os jogadores. Iremos talvez nos surpreender com alguns envolvidos, que deverão ter uma punição severa por enganar torcedores, treinadores, companheiros de equipe e tudo que gira em torno de uma partida de futebol.

Não sei as outras pessoas, mas agora assisto a um jogo e começo a desconfiar de tudo — claro, respeitando todos aqueles em que confio plenamente, mas com risco de me decepcionar.

Não vou citar outros nomes porque, apesar de já terem provas concretas de alguns jogadores que entraram no esquema, prefiro esperar os avanços da investigação.

Ser pago para trapacear uma partida de futebol é a mesma situação do Nelsinho Piquet quando jogou o carro no muro no GP de Singapura, em 2008, por ordem do ex-chefe da Renault Flávio Briatore, para favorecer o seu companheiro de equipe, Fernando Alonso.

Fábio Briatore foi banido definitivamente da F1 e Nelsinho Piquet encerrou sua carreira logo no início de piloto do principal campeonato.

Não tenho dúvidas de que existe gente influente de dentro do futebol, inclusive jogadores envolvidos no aliciamento dos próprios companheiros de profissão.

Será que as apostas já não estão no estágio que falei? Será que tem árbitros envolvidos? Empresários? Dirigentes? E os apostadores? Será que são só gente de fora do futebol?

Muitas respostas precisam ser dadas com urgência para o público em geral.

Tudo gera desconfiança e muitos inocentes serão acusados por alguma jogada errada que fizerem numa partida. Será que chutou para lateral ou escanteio de propósito?

Uma expulsão proposital terá influência direta no resultado do jogo. Um time pode perder uma partida porque um de seus jogadores se vendeu para ser expulso.

Será que isso já aconteceu?

O Campeonato Brasileiro de 2023 já está manchado? Podemos confiar em tudo que já aconteceu?

O certo é paralisar o campeonato? Eu acho que ainda não tem argumento suficiente para paralisar, mas não duvido que tenhamos em breve. E aí quero ver como a CBF irá lidar com essa situação.

Pessoas deverão ser banidas do esporte, outras deverão ser presas. Devem acelerar as investigações para sabermos o mais rápido possível qual é a profundidade do poço no atual momento.

O ministro da Justiça, Flávio Dino, já colocou a Polícia Federal para investigar esse caso, e fez muito bem. Será que ainda dá para salvar o Campeonato Brasileiro?

Bom, as respostas para todas essas perguntas precisam aparecer o mais rápido possível. Fazer apostas é uma coisa, mas comprar pessoas para ganhar as apostas é crime.