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OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Nos momentos mais difíceis, minha mãe nunca me condenou. Ela me acolheu

Dona Zilda, mãe de Walter Casagrande, ao lado de seu Walter, pai do ex-atacante - Arquivo Pessoal
Dona Zilda, mãe de Walter Casagrande, ao lado de seu Walter, pai do ex-atacante Imagem: Arquivo Pessoal

Colunista do UOL

14/05/2023 04h00

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"Quando a lua apareceu
Ninguém sonhava mais do que eu
Já era tarde
Mas a noite é uma criança distraída

Depois que eu envelhecer
Ninguém precisa mais me dizer
Como é estranho ser humano
Nessas horas de partida"

Comecei esse texto sobre o Dia das Mães com esse trecho da música "Coisas da Vida", da linda Rita Lee. Está no disco "Entradas E Bandeiras".

Eu passei a semana com essa letra na cabeça não só pela partida da Rita, mas porque acho linda e tenho saudades da minha mãe. A minha já partiu em algum dia de algum ano que não me recordo. Com a dor que senti, a minha mente apagou essa data e não faço questão de perguntar para a minha irmã e nem para ninguém.

O que me interessa é dessa data para trás. Não quero saber do dia em que ela partiu, mas sim dos dias em que a minha mãe esteve aqui comigo.

Minha mãe sempre falou pelos quatro cantos do mundo que vivia para mim e por mim, e eu vivia da mesma forma em relação à ela. Era ela quem me levava para treinar futebol de salão com 7 ou 8 anos. Também era ela que, algumas vezes, ia assistir aos meus jogos.

Lembro-me bem de um jogo à noite, entre Clube Atlético Ypiranga e Clube Esportivo da Penha, em que fiz um gol e corri na direção dela para abraçá-la e beija-la. Mesmo sem palavras ofereci aquele gol para a minha mãe.

Lembro-me muito bem quando íamos ao cinema. E fomos diversas vezes. Todos os desenhos da Disney que entravam em cartaz, nós íamos, eu e ela, para o cinema.

Ela me levava também para assistir ao Mazzaropi, Jerry Lewis, filmes de faroeste... Tenho na memória muitas dessas vezes.

Ela era uma corintiana fanática, assim como meu pai.

Para a minha mãe, independentemente de qualquer coisa, eu sempre era o Waltinho dela. Ela era alegre e tinha uma risada contagiante, gostosa, pura e verdadeira.

Claro que a minha rebeldia a deixava preocupada, e nem ela e nem meu pai dormiam até eu voltar para casa, mas eu sempre voltava em algum momento.

Quando era pequeno, nós assistíamos à novelas juntos, programas feministas, filmes... Tudo o que tinha de interessante na TV no final dos 60 e início dos 70.

Quando fui morar em Poços de Caldas, longe dela pela primeira vez, não existia celular ou redes sociais. O contato era através das cartas e eu ficava sempre na expectativa de receber as dela. Sempre respondia ou mandava outra antes.

Fora as vezes que ela aparecia de surpresa na república em que eu morava...

Quando voltei ao Corinthians e comecei a ganhar um pouco melhor, a primeira coisa que fiz foi comprar um apartamento para ela e meu pai.

Saudade eu sinto, mas não sofro porque acredito muito na energia do universo e isso não acaba com a morte.

Eu vivi cada minuto intensamente com a minha mãe e, nos meus momentos mais difíceis, ela nunca me condenou e, sim, me acolheu como era da personalidade dela.

Enfim, as lembranças que me vêm na cabeça neste domingo (14), Dia das Mães, são as mais legais que tive com ela. No filme que passa na minha cabeça, a Dona Zilda é a grande protagonista. A mãe da gente é sempre a melhor mãe do mundo, mas para mim a Dona Zilda é a melhor mãe do universo.