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OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Ângelo e Joaquim precisam da nossa atenção, tanto quanto Vinicius Jr

Ângelo e Joaquim, jogadores do Santos - Ivan Storti/Santos FC e Ettore Chiereguini/AGIF
Ângelo e Joaquim, jogadores do Santos Imagem: Ivan Storti/Santos FC e Ettore Chiereguini/AGIF

Colunista do UOL

25/05/2023 15h50Atualizada em 25/05/2023 18h34

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Na derrota do Santos por 2 a 1 para o Audax Italiano, quarta-feira (24), pela Copa Sul-Americana, os jogadores Ângelo e Joaquim Henrique denunciaram que foram atacados com injúrias raciais.

Não temos motivos algum para não acreditar porque os brasileiros são atacados dessa forma há décadas quando jogam Libertadores, Sul-Americana, e por aqui também, no Campeonato Brasileiro.

A luta antirracista não pode ser só quando tem visibilidade e muita mobilização mundial, como está sendo o caso do Vinicius Jr. Porque os racistas atacam qualquer pessoa preta pelo mundo afora, sendo jogadores ou não.

Essa luta não é pelo Vinícius Jr e sim por todas as pessoas pretas, em todos os lugares.

Enquanto tiver conivência das entidades do futebol nada irá mudar. Sem confederações, federações, clubes, dirigentes e também jogadores essa luta não irá evoluir e cada vez os ataques irão ficar mais violentos.

Por que ninguém imita um "macaco" na Premier League, na Bundesliga? Porque nesses países as punições são imediatas e severas para as pessoas e para os clubes, caso não tomem uma atitude.

O Vinicius Jr está sendo atacado há tempos e não só ele, mas todos os jogadores pretos que jogam na Espanha. Só que com o brasileiro virou uma perseguição covarde.

Não podemos esquecer dos menos famosos, daqueles que ainda estão iniciando a história no futebol, que sofrem muito mas não recebem apoio. Os fatos não têm visibilidade e nem se debate nos programas esportivos ou não.

Não existe racismo mais pesado ou mais leve. Racismo é cruel, covarde, nojento, com qualquer intensidade.

Agora todos nós estamos preocupados com o Endrick, quando ele for para o Real Madrid, mas já tem gente sofrendo com isso. Vamos discutir só o caso de racismo com brasileiros? Não. Temos que lutar por todos aqueles que sofrem com essa perversidade.

Ângelo e Joaquim merecem e precisam da nossa atenção, do nosso apoio, da nossa solidariedade, da nossa luta. Precisamos ouvi-los com atenção e darmos a mesma importância que estamos dando para o caso de Vinícius Jr.

Não vamos nos enganar que ele virará um mártir e nem jogar toda a responsabilidade nas costas dele, como se ele fosse o dr. Martin Luther King, Malcolm X, ou transformá-lo em Muhammad Ali.

Ele só tem 22 anos e quer fazer o que mais gosta, que é jogar futebol, e precisa estar focado nisso. Queremos que faça na seleção o que faz no Real Madrid porque ele é o nosso principal jogador no momento e também a grande esperança de voltarmos a vencer uma Copa.

A luta precisa ser feita por nós e não debater só quando acontece, repercutir por dois ou três dias, depois esquecer de tudo e mudar de assunto.

A própria imprensa esportiva brasileira não está dando visibilidade e importância para esse caso de injúria racial com os jogadores do Santos. Talvez porque o Ângelo e o Joaquim não darão muitos cliques, não aumentará seguidores.

O racismo precisa ter seu espaço todos dias numa parte dos programas esportivos ou não. Os jornais precisam ter um espaço grande para esse problema porque, se não for assim, não conseguiremos mudar nada. O governo brasileiro precisa cobrar atitudes da Uefa e da Fifa.

Racismo não é uma doença, não tem vacina e nem remédio que cure. É uma luta de mudança de uma ideologia preconceituosa que está enraizada no núcleo da sociedade mundial.

Quando os jogadores começarem a sair de campo com o apoio dos dirigentes dos clubes assim que acontecer algum ato racista no estádio, as coisas podem começar a ser discutidas com seriedade. Porque, por enquanto, só se dá importância para os ataques racistas quando eles acontecem numa proporção horrenda, como foi em Valencia.

O Santos precisa ouvir os garotos, pedir uma investigação séria para o Conmebol, porque já aconteceram vários casos públicos de racismo e essa instituição não fez nada.

O governo brasileiro precisa se interessar também com o caso desses garotos do Santos.

Chega de racismo!