Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Antes da final da Champions, minhas lembranças de campeão europeu no Porto
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Neste sábado (10) teremos a final do torneio mais importante do futebol de clubes da Europa e do mundo, que é a Champions League.
Este título é muito desejado pelos clubes e por todos os jogadores que disputam esse torneio.
Antes de falar sobre essa final, vou contar a história da maravilhosa, mas também trágica, experiência dessa competição.
Fui para o Futebol Clube do Porto para jogar a temporada 1986/87, mas naquela época não se tinha visibilidade do que acontecia no mundo, em todos os sentidos.
Não tinha conhecimento de como era o time do Porto, mas a proposta apareceu junto com uma informação sedutora. O Porto jogava a Copa dos Campeões, como era chamada naquela época, que era bem diferente da de hoje e, na minha visão, bem mais difícil. Porque, na época, não existia fase de grupos, eram jogos eliminatórios desde o início e só disputavam os campeões de cada país.
Cheguei lá em novembro de 1986, com 23 anos, fiz meus exames médicos — que foi tudo bem, porque eu tinha tido uma lesão de menisco em 1983, mas tinha me recuperado.
Estreei muito bem, fazendo gol, mas depois comecei a estranhar os métodos, porque no Brasil era completamente diferente o modo de trabalhar.
O treinador era ótimo, culto, entendia muito sobre futebol. Ele se chamava Arthur Jorge, mas ele só dava a escalação no vestiário na hora do jogo, e não tinha uma escalação fixa.
O elenco era fabuloso e forte, contava com 13 jogadores da seleção portuguesa, além do goleiro da seleção da Polônia Josef Mlynarczyk, o argelino Rabat Madjer e eu, que era da seleção brasileira. Todos tínhamos disputado a Copa do Mundo no México meses antes.
Joguei as duas partidas das quartas de final contra o campeão dinamarquês Brøndby. No jogo de ida, vencemos no estádio das Antas (antigo estádio do Porto) por 1 x 0.
O jogo de volta seria em Copenhague, num forte inverno e distante. Chegamos dois dias antes, como sempre, e junto com alguns jogadores, fomos dar uma volta — afinal de contas, era a primeira vez que estava vendo a neve cair e o mar congelado.
Foi impressionante, porque dava para ver uns icebergs. O mais louco foi que estávamos no cais e perguntei para um cara dentro de um grande barco de pescadores: "Posso pular em cima do mar congelado?".
O cara disse que sim, e aí descemos em cima do gelo e andamos um pouco, com um certo receio, mas foi superdivertido. Afinal, estávamos andando no mar congelado.
Treinamos na terça-feira no estádio do jogo e, na quarta-feira, no vestiário, quando o mister deu a escalação, eu estava nela novamente e fiquei muito entusiasmado.
Naquela época, o auxiliar ia dias antes assistir a algum jogo do adversário e tirava fotos do posicionamento de cada setor e passava para os jogadores.
Então ele me mostrou a linha de quatro na defesa e disse que o zagueiro pela direita era mais baixo, porém rápido, e jogava duro. Mas o da esquerda era alto como eu, só que um pouco lento e gostava de sair jogando, e eu poderia roubar a bola se fizesse uma pressão de surpresa.
E foi isso que fiz, armando uma armadilha, ficando mais em cima do zagueiro da direita para forçá-lo a tocar para o outro sair jogando, e eu cortaria caminho para tentar roubar a bola.
Deu certo, só que quando ataquei o zagueiro, minhas travas entraram no gramado úmido da neve e eu passei com o corpo por cima dos meus pés. Rompi todos os ligamentos do tornozelo e quebrei a fíbula da perna esquerda.
Achei que tudo tinha acabado, mas os médicos me disseram que eu iria operar e demoraria dois meses para me recuperar. E que talvez desse para estar bem caso o time fosse para a final, em maio.
O Porto eliminou o fortíssimo Dínamo de Kiev, que na época era a base da temida seleção da União Soviética, e se classificou para a final contra o Bayern de Munique, enquanto eu estava me esforçando ao máximo para voltar e estar pronto para a sonhada final de Viena.
Voltei num domingo, na última rodada do Campeonato Português, jogando os últimos 20 minutos, e a final era na quarta. Fomos para Viena e o treinador me falou que, se eu estivesse bem no teste da véspera do jogo, me escalaria como titular.
Fiquei imensamente motivado, mas no teste meu tornozelo ainda doía um pouco quando eu mudava de direção e girava em cima dele. Fiquei bem frustrado, mas pelo menos ele me levou para o banco.
No primeiro tempo, o jogo terminou 1 x 0 para o Bayern. No intervalo, o treinador Arthur Jorge chamou eu e o Juary. Falou que ele iria entrar e, se o jogo apertasse, ele teria que me usar nos últimos minutos, mesmo não estando 100%, porque poderia ter prorrogação e, talvez, pênaltis.
Mas tudo deu certo, porque o Juary entrou e acabou com o jogo, junto com o Madjer e o meu querido amigo Paulo Futre. Viramos o jogo para 2 x 1, com um gol do Juary e outro do Madjer.
Foi uma sensação incrível vencer a Copa dos Campeões pelo Porto, porque o clube nunca havia vencido, e só o Benfica do Eusébio tinha conseguido vencer duas vezes, nos anos 1960.
Depois do jogo, quando voltamos para Portugal, a cidade toda estava acordada, na rua, e o estádio estava lotado. Fomos até lá e entramos no campo. Eu nunca tinha visto uma comemoração como aquela.
Afinal, naquela temporada, o Futebol Clube do Porto entrou para a lista dos grandes campeões europeus, voltando a conquistar o título na temporada 2003/04.
Contei essa história para dar a minha opinião sobre a grande final.
Para mim, este é o ano em que o Manchester City chega com mais possibilidade de vencer, porque tem muita confiança com os dois títulos já conquistados, que são a Premier League e a Copa da Inglaterra.
Tem jogadores num momento absurdo, como Gündogan, Kevin de Bruyne, Grealish, junto com uma defesa sólida. E com a camisa 9 está o melhor jogador da Premier League dessa temporada e Chuteira de Ouro da Europa, o norueguês Earling Haaland.
Com a sua chegada, o número de gols do City aumentou muito, junto com o poder da agressividade ofensiva. É uma máquina de fazer gols, comandado pelo melhor treinador de mundo há um bom tempo, Pep Guardiola.
Porém, do outro lado, tem a Internazionale de Milão, que é uma equipe tradicional e tem um sistema defensivo fortíssimo.
Mas não é só isso: tem um meio-campo dinâmico, que marca forte e sai para o jogo com ótimo passe. Também tem um ataque muito perigoso, com Lautaro Martínez, Dzeko e o temido belga Romelu Lukaku.
Claro que o City é o grande favorito, mas não irá enfrentar um time qualquer, porque a Internazionale já venceu a Champions por três vezes (1963/64, 1964/65 e 2009/10), com 19 títulos italianos.
Tecnicamente, não dá para comparar, mas conheço muito bem o futebol italiano e sei como eles trabalham a parte mental dos jogadores. Como são focados e, se precisarem se fechar totalmente, não terão problema algum em fazer isso.
A cidade de Istambul, na Turquia, receberá uma final incrível, com dois times de estilos diferentes de jogar e muito bem treinados.
Só para palpitar, dou 60% para o Manchester City e 40% para a Internazionale.
Pela primeira vez assistirei esse jogo fantástico no cinema, porque é uma final que merece receber um Oscar de melhores atores e de fotografia. Mas o diretor e o roteiro só saberemos quando acabar a partida.
Porque esse filme será dramático, de suspense, aventura, ficção. E aí existem grandes mestres desses gêneros que podem dirigir e escrever os melhores roteiros.
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