Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Entrei em meu túnel do tempo em show dos Titãs: somos Cabeças Dinossauros
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Fui ontem (17) a um encontro de amigos de várias décadas. Não via muitos há anos e outros fui "reconhecer", porque a última vez que os vi ainda eram crianças.
A começar pelo encontro com a Tina, ex-mulher do Marcelo Fromer, que é pessoa especial. Através dela me encontrei com os filhos que teve com o Marcelo: Max e Alice.
O lance tem uma magia muito louca nessa história, porque nas últimas vezes que havia encontrado com eles ainda eram criancinhas que o Marcelo simplesmente amava com toda a sua força.
Quando estávamos juntos, os filhos do Marcelo eram um tema obrigatório nas nossas conversas em algum momento. Eu os vi na Copa do Mundo da França, em 1998, e depois no velório do pai deles, em junho de 2001. É um dos grandes amigos que tive na vida.
Mas neste sábado encontrei duas pessoas formadas, lindas, gentis e atenciosas, como o Marcelo e a Tina.
Depois fui para dentro do campo do Allianz Parque para assistir ao show da reunião do Titãs. Foi como entrar num túnel do tempo, como era a antiga série de TV, em que dois cientistas eram transportados para o passado através desse túnel e caíam em algum momento da história.
Só que esse túnel do tempo da série era científico, e o meu era imaginário, natural, espontâneo. Caí exatamente no momento que eu queria.
Essa magia veio através das notas musicais dos instrumentos, nas letras das músicas, mas principalmente das vozes e performance desses meus amigos que são verdadeiramente uns titãs do rock.
Não tem como não viajar com a guitarra do Tony Bellotto, no baixo do Nando Reis, na batida seca e potente da bateria do Charles Gavin, da agressividade e energia do Sérgio Britto, na presença de um artista completo como o Paulo Miklos, na genialidade e performance de Arnaldo Antunes e claro, deixei para o final, o meu vizinho e companheiro de rádio, Branco Mello.
Faltou algo?
Mais ou menos.
Fisicamente não víamos o Marcelo, mas a energia de todos que acompanharam desde o início tudo acontecer já emitia a sua presença ali.
Eu, em muitos momentos, mas principalmente na hora em que a Alice cantou músicas do Marcelo, sentia ele ao meu lado me dizendo assim: "Casão, olha como a Alice cresceu, que menina linda e talentosa que ela virou".
E através do meu pensamento respondia: "Não tinha como não ser, Marcelo".
Isso tudo ao lado do Max e da Tina, que juntos com a minha energia não tinha como o Marcelo não estar ali naquele momento, naquele lugar.
Com o show rolando foi passando um filme na minha cabeça, desde o dia em que conheci o Marcelo e o Nando no Sesc Pompeia, ainda com 19/20 anos.
Acompanhei tudo bem de perto e as músicas foram me levando a um tempo incrível.
A minha relação com eles foi meio simbiótica porque ao mesmo tempo que surgi para o futebol eles surgiam para o rock. Isto criou uma forte identificação.
Miséria é miséria em qualquer canto
Riquezas são diferentes
Índio, mulato, preto, branco
Miséria é miséria em qualquer canto".
O túnel do tempo da minha mente era ativado ao passar de cada música. A minha parada sempre se dava em algum show em que estive nos anos 80/90, entrando pelo século 21, até chegar nesse encontro cósmico, estelar, mágico no Allianz Parque.
Marvin, agora é só você
E não vai adiantar
Chorar vai me fazer sofrer".
Durante o show fui encontrando e conhecendo pessoas com a mesma sintonia, como a Malu Mader, que não via há anos, e que conheci através do Tony, com quem é casada. Por meio dela conheci uma atriz de que sou fã desde quando ela era uma criancinha e eu também: Isabela Garcia.
Isabela colaborou para o meu túnel do tempo permanecer ativado e a viagem foi cada vez ficando mais profunda e próxima no tempo.
Tô cansado do meu cabelo
Tô cansado da minha cara
Tô cansado de coisa vulgar
Tô cansado de coisa rara".
Não me canso desta viagem linda, mágica e incrível que tive ao lado de pessoas que estavam na mesma sintonia, Claro, cada uma com o seu túnel do tempo e suas memórias.
Quando eu falava com o Marcelo sobre os Titãs, falava que, para mim, era junto com Mutantes e Tutti Frutti (ambas com a nossa Rita Lee na formação), as grandes bandas de rock da história do Brasil. Adorava, no entanto, a parte da pancadaria do show.
Porrada nos caras que não fazem nada
Porrada, porrada nos caras que não fazem nada"
Sempre fui do punk rock e do heavy metal, apesar de ser eclético no gosto musical. No sangue corre a pancadaria do rock mesmo.
O show foi caminhando para o fim, mas a minha viagem continuava a todo vapor.
Polícia para quem precisa
Polícia para quem precisa de polícia".
Não nego que a cada música me dava vontade que o show começasse de novo para não acabar nunca. Queria mesmo ficar ali, naquela minha viagem. Até porque o Marcelo estava ao meu lado assistindo e comentando o quanto foi maravilhosa a sua convivência com os seus amigos de banda e como se divertiram e criaram desde quando se conheceram ainda adolescentes.
Diversão; solução sim
Diversão; solução pra mim".
Que delícia sentir saudade de uma época de loucura, de shows, de futebol, de músicas e de gols.
Foi assim a nossa adolescência e a minha ligação inicial com o Marcelo e o Nando, dois fanáticos tricolores e que adoraram a época que joguei no São Paulo.
Assim como a minha ligação com o Charles Gavin começou através do Corinthians, por ser fanático.
Em 1999, quando fui fazer a final do Campeonato Brasileiro entre Corinthians e Atlético-MG, levei ele e a Nina Bellotto, filha do Tony Bellotto, todos corintianos.
Mas claro que o meu interesse pelos Titãs foi através da voz do meu grande amigo e companheiro de rádio Paulo Miklos.
Sonífera a ilha
Descansa meus olhos
Sossega a minha boca
Me enche de luz".
Um cara que sou apaixonado pela sua personalidade, talento e pelo modo que cuida da amizade com as pessoas.
Assim como o show, o meu texto está caminhando para o fim, e o meu túnel do tempo está começando a desativar. Mas não poderia terminar esse relato sem homenagear todos os Cabeças Dinossauros que existem pelo mundo assim como nós.
Cabeça dinossauro
Cabeça dinossauro
Cabeça, cabeça, cabeça dinossauro
Pança de mamute
Pança de mamute
Pança, pança, pança de matute
Espírito de porco
Espírito de porco
Espírito de porco".
Já no fim do show, o Max, filho do Marcelo Fromer, me abraçou e falou assim: "Para mim, foi incrível ver os Titãs cantando 'Epitáfio' ao seu lado".
Aqui está uma parte da história das nossas vidas, porque a viagem no tempo não termina nunca.
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