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OpiniãoEsporte

O que importa saber se tem casal gay na seleção feminina do Marrocos?

Será que esse repórter da BBC que perguntou para a capitã Ghizlane Chebbak, da seleção marroquina, se havia relação homossexual na equipe faria a mesma pergunta para a seleção masculina?

No Marrocos é proibida a prática de relações amorosas entre pessoas do mesmo sexo, seja por homens ou mulheres, mas ele se interessou em perguntar para uma mulher que está para jogar uma Copa do Mundo.

Obviamente, essa pergunta não caiu bem e o moderador da FIFA não deixou que a capitã respondesse à pergunta, que criou um clima ruim para o repórter porque todos os outros jornalistas que ali estavam não gostaram, inclusive da imprensa marroquina.

Com qual intenção ele fez isso, sabendo que no Marrocos as mulheres sofrem opressão e os seus direitos não são respeitados?

Enquanto isso, a seleção norte-americana chamou muita atenção positivamente, usando um traje de passeio com itens únicos e sem gênero, e com um detalhe interessante: os óculos escuros fazem parte do visual e foram usados pelas jogadoras Megan Rapinoe e Alex Morgan.

Esse traje foi feito em parceria entre a Nike (empresa de material esportivo que patrocina a seleção americana) e a designer Martine-Rose.

O jornalista da BBC deveria refletir muito para descobrir quais são os seus reais interesses e o que realmente é importante para ele dentro da sociedade mundial.

Seria mais relevante saber se há alguma relação homossexual numa seleção feminina ou saber o quanto foi difícil para essas mulheres marroquinas jogarem futebol num país opressor? Como essas atletas se sentiam, mesmo com um preconceito enorme, estando ali prontas para estrear na Copa do Mundo contra a forte seleção alemã?

Eu nunca vi um jornalista numa Copa Mundo de futebol masculino perguntar para o capitão de uma seleção se há relação homoafetiva na equipe dele.

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Em 2022, no Qatar, que também é um país muito opressor com as mulheres, a seleção masculina de Marrocos chegou até a semifinal e nenhum repórter ficou curioso em saber se existia "casais" entre os homens do time.

Por que esse interesse surge quando homens vão cobrir o futebol feminino?

Será que o jornalista ficou confuso no que realmente é importante para o futebol ou com algum "fetiche" pessoal?

Será que os homens ainda não conseguem olhar para as mulheres com um corpo forte, musculoso, bonito, como atletas de futebol profissional?

Alguém acredita mesmo que no futebol masculino não tem jogadores gays que se amam e jogam juntos ou contra?

O preconceito é muito maior entre os jogadores homens do que entre as jogadoras mulheres.

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Uma atleta que se reconhece gay e namora uma companheira continua sendo tratada com respeito e dentro da normalidade das relações, mas se um atleta se reconhece gay e se apaixonar por um companheiro, não tenho nenhuma dúvida de que o sistema preconceituoso do futebol irá fechar todas as portas para ele.

Isso sim seria importante ser discutido.

As mulheres jogadoras ganham menos, têm menos visibilidade, e muitos ainda não levam a sério o futebol feminino, mas elas vivem livremente como cidadãs jogadoras, enquanto os homens ganham absurdamente, têm enorme visibilidade, são super respeitados, mas alguns não conseguem ser realmente o que são.

Esse jornalista mostrou o tamanho do preconceito que existe na mente de muitos homens em relação ao futebol feminino porque ele não deveria se interessar pela orientação sexual das mulheres, mas pelo talento.

Não deveria se interessar se tem casais, mas com as seleções e com as melhores jogadoras que estão na Copa.

Todas as jogadoras que estão na Copa deveriam sair em solidariedade com a capitã Ghizlane Chebbak pelo constrangimento, fora de qualquer propósito, que esse jornalista fez ela passar.

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Sem dúvida alguma ela estava toda orgulhosa de estar ali para responder sobre a sua expectativa pela estreia contra uma das favoritas ao título, mas teve que ouvir de um jornalista uma pergunta tão opressora como o que sofre no país dela.

Que todas joguem muito e se apaixonem por quem quiserem, que se amem, que façam gols, que levantem troféus, mas também que beijem bem gostoso o ser humano que estão amando, seja quem for.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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