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Chegou a hora das meninas do Brasil lavarem a alma contra a França

Na manhã deste sábado (29), a nossa seleção brasileira feminina entra em campo para fazer sua segunda partida pela Copa do Mundo da Austrália/Nova Zelândia. Será um confronto muito complicado, não porque as nossas meninas não são capazes de vencer, mas pelo histórico negativo que temos com a França, e não só no feminino, porque a seleção masculina também se complica com os franceses em Copas do Mundo.

Vou começar pelos meninos que, em 1958, fizeram a semifinal da Copa da Suécia contra a França, quando ganhamos o nosso primeiro título. O Brasil venceu por 5 x 2 com show de um garoto chamado Pelé, que fez três gols no jogo, e outros dois marcados pelo centroavante Vavá e pelo gênio Didi. Já pelo lado francês marcaram Just Fontaine, o artilheiro da Copa, e Piantoni.

Mas as outras três experiências foram trágicas contra a França. Em 1986, nas quartas de final, em grande partida, empatamos por 1 x 1, com gols de Careca e Platini, e fomos eliminados nos pênaltis. Já em 1998 a tragédia foi ainda pior porque fomos amassados na Copa da França, na final, por 3 x 0, com dois gols do gênio Zidane e um do volante Petit. Todos se lembram, ou leram, que teve uma situação até hoje inexplicável que aconteceu com o Ronaldo depois do almoço no dia da final. Na vida não existe o "se", mas esse fato atrapalhou muito o psicológico daquele time.

Também fomos eliminados na Copa da Alemanha, em 2006, pelo time do país de Voltaire, Isabelle Huppert, Marion Cotillard, Julio Verne e tantas outras personalidades importantes na história da arte, filosofia, ciência, futebol, música, política, etc. O jogo foi em Frankfurt, com Zidane fazendo uma das maiores partidas individuais numa Copa do Mundo. A França nos dominou novamente e, naquela ocasião, o gol foi de Thierry Henry, e não passamos das quartas.

A seleção feminina tem um histórico pior porque nunca venceu a França em Copas, amistosos e nem em torneios em que se encontraram. Na Copa do Mundo de 2003, nos Estados Unidos, Brasil e França empataram por 1 x 1, mas na Copa de 2019, a nossa seleção perdeu por 2 x 1 e foi eliminada pelas francesas. Mas todos os jogos foram equilibrados entre elas e com resultados apertados, só em dois amistosos que a França ganhou por dois gols de diferença. Em 2014 foi 2 x 0, em 2018 foi 3 x 1.

Mas o Brasil evoluiu muito de lá para cá, principalmente depois da última Copa (2019), e acredito que nessa partida as chances de vitória do Brasil são iguais às da França. Ninguém entra como favorito nesse jogo, sendo que uma vitória brasileira deixa a seleção da Pia Sundhage praticamente classificada e a França em pleno desespero.

Uma derrota ainda deixa o Brasil em situação confortável porque só dependerá de si na última rodada contra a Jamaica. Essa pode ser a grande oportunidade de quebrarmos esse tabu, passarmos para a próxima fase com a autoestima altíssima, porque daí em diante o nível das adversárias sobe bastante.

Falando da nossa seleção, achei o time muito bem no primeiro jogo, apesar da fragilidade da seleção panamenha. Não sofreu em nenhum momento, dominou a partida inteira, fazendo gols belíssimos, e o importante é se impor contra qualquer adversário.

Gostei demais da Tamires, que é uma fantástica jogadora com uma técnica apurada, uma inteligência tática incrível, sem contar que sabe o momento certo da ultrapassagem. Tem um ótimo passe e bate muito bem na bola, e claro que a sua experiência e liderança fazem a diferença numa equipe.

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A Ari Borges foi maravilhosa, não só pelos três gols e a linda assistência para a Gabi Zaneratto fazer seu gol, mas pela movimentação, presença de área, entrando como elemento surpresa. Pela raça, entrega e também pela dinâmica que coloca na partida, ajudando na intensidade do time.

A volante Luana domina o meio-campo, sendo a responsável por decidir se irá cadenciar ou acelerar as jogadas, mas a grande virtude é a sua visão de jogo e a rápida decisão do que fazer com a bola num setor perigoso, que qualquer erro pode ser fatal.

Adoro a camisa 9 Debinha, que se movimenta por todos os lados, aparecendo para receber, dando sempre a opção para as suas companheiras. Os gols que saíram no primeiro jogo aconteceram pela movimentação e a inteligência da Debinha, que deixou espaço para a Ari e a Bia entrarem e marcarem os gols.

A seleção brasileira tem jogadoras inteligentes, futebolisticamente falando, e isso faz uma diferença enorme do rendimento de uma equipe.

Brasil x França começa às 7h (horário de Brasília), e tenho confiança que as meninas farão uma grande partida.

Em relação à formação do grupo, ainda acho que seria importante a Pia ter levado a centroavante do Santos e artilheira Cristiane, assim como a atacante corintiana Gabi Portilho, pela sua velocidade, movimentação e intensidade de jogo. E claro, a goleira Luciana, da Ferroviária, que talvez tenha sido a maior injustiçada nessa convocação.

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É isso. Não significa que as que foram não jogam bem, muito pelo contrário, mas o momento de cada jogadora precisa ser respeitado numa Copa do Mundo.

Isso acontece constantemente na seleção masculina em todas as últimas Copas, mas isso é discussão para um outro momento.

Força, meninas!

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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