Assistir ao encontro de Tom Jobim e Elis no cinema é para jamais esquecer
Ontem (30), assisti a um verdadeiro clássico, mas não foi no Morumbi, foi no cinema. Não foi o clássico entre São Paulo e Corinthians, mas sim o encontro genial de Tom Jobim e a maravilhosa Elis Regina.
Fui para a sala do cinema assistir ao incrível documentário "Elis & Tom - Só Tinha de Ser com Você", que conta a história da gravação de um dos discos mais importantes da história da música ("Elis & Tom"), em 1974.
É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um caco de vidro, é a vida, é o Sol
É a noite, é a morte, é o laço, é o anzol
É peroba do campo, é o nó da madeira
Caingá, candeia, é o Matita Pereira
No início, a relação entre eles foi estranha, mas até os momentos tensos foram inesquecíveis.
Tom se incomodou com a presença de César Camargo Mariano, que seria responsável pelos arranjos do disco, e foi aí que as incompatibilidades começaram.
O documentário é repleto de imagens do estúdio e das conversas entre eles. Mostra Elis começando a perder a paciência, mas uma coisa ficou clara: havia uma admiração mútua, sincera e reconhecida entre eles.
Tudo foi gravado em Los Angeles (EUA) e o ambiente das gravações também é magnífico e saudosista de uma geração. Quando filmavam a rua de dentro do carro, apareciam enormes cartazes de shows de Diana Ross e Jackson 5.
É madeira de vento, tombo da ribanceira
É o mistério profundo, é o queira ou não queira
É o vento ventando, é o fim da ladeira
É a viga, é o vão, festa da cumeeira
É a chuva chovendo, é conversa ribeira
Das águas de março, é o fim da canseira
É o pé, é o chão, é a marcha estradeira
Passarinho na mão, pedra de atiradeira
Mas quando a coisa engrena, se torna um grande espetáculo de criatividade, improviso e arranjo de Elis e Tom.
É um grande privilégio ter vivido no mesmo momento que eles.
Ter visto Elis cantar ao vivo e ter acompanhado muitas apresentações e especiais com Tom Jobim foi algo impressionante.
Fiquei impressionado com muitas pessoas bem jovens no cinema, apreciando e usufruindo de um momento mágico da nossa história cultural/musical.
Newsletter
OLHAR APURADO
Uma curadoria diária com as opiniões dos colunistas do UOL sobre os principais assuntos do noticiário.
Quero receberÉ uma ave no céu, é uma ave no chão
É um regato, é uma fonte, é um pedaço de pão
É o fundo do poço, é o fim do caminho
No rosto, o desgosto, é um pouco sozinho
Antes de o documentário entrar diretamente no encontro dos dois, a obra de Roberto de Oliveira e Jom Tob Azulay conta uma breve trajetória dos dois artistas. Nele há uma cena que vi pela primeira vez após mais de 40 anos, pois à época me recusei testemunhar: ver Elis Regina dentro do caixão no dia do seu enterro, em janeiro de 1982, quando ainda tinha apenas 36 anos.
Foi um momento de muita tristeza, mas não é este o foco do documentário. Portanto, contemplei o encontro fantástico que estava assistindo em uma enorme tela de cinema.
Recomendo muito para quem viveu ou não aquele momento, pois foi único e vale muito a pena ir a uma sala de cinema e apreciar o resultado deste encontro literalmente estelar.
É um estrepe, é um prego, é uma ponta, é um ponto
É um pingo pingando, é uma conta, é um conto
É um peixe, é um gesto, é uma prata brilhando
É a luz da manhã, é o tijolo chegando
É a lenha, é o dia, é o fim da picada
É a garrafa de cana, o estilhaço na estrada
É o projeto da casa, é o corpo na cama
É o carro enguiçado, é a lama, é a lama
Para que este histórico álbum ('Elis & Tom') saísse da forma como saiu, outros grandes músicos participaram da gravação.
Além, obviamente, de César Camargo Mariano, também fizeram parte deste momento mágico Hélio Delmiro (guitarra), Luizão Maia (baixo), Paulinho Braga (bateria), Chico Batera (percussão), Oscar Castro-Neves (violão) e Bill Hitchcock (regência).
No final, todos nós que estávamos assistindo à sessão aplaudimos este documentário muito bem feito, que mostra o talento destes dois gênios da nossa música. Obrigado, Antonio Carlos Jobim e Elis Regina.
PS: Coloquei neste texto algumas estrofes do clássico 'Águas de Março', que Tom e Elis interpretaram magnificamente e de forma inesquecível nesse disco.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.