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Abel seria perfeito para limpar a seleção. Talvez por isso que ele não foi

No meu texto antes do jogo entre Botafogo e Palmeiras, mencionei que a diferença entre os dois times em uma partida decisiva como a de ontem poderia estar no banco. Abel Ferreira já está no Palmeiras há três anos, tem o time na mão, conquistou todos os títulos possíveis nesse tempo, enquanto Lúcio Flávio é um novato que, de positivo, tinha o conhecimento dos treinos e como escalava o time de Luís Castro, porém não possuía o controle da equipe nem a experiência necessária para lidar com a pressão e a dificuldade de um jogo desse tamanho.

Pois bem, vou dedicar este texto ao melhor treinador que trabalha no futebol brasileiro, sem dúvida alguma, Abel Ferreira. Ele tem alguns defeitos, como o descontrole no banco em muitas ocasiões (embora tenha melhorado muito), uma certa agressividade nas coletivas e uma tendência a justificar as derrotas. No entanto, suas virtudes como treinador são triplicadas: organiza muito bem sua equipe, conhece perfeitamente as características e os limites de seus jogadores, não tem problemas em retirar ídolos da torcida do time se estiverem em má fase e é muito inteligente taticamente.

O que mais admiro nesse profissional fantástico é, sem dúvida alguma, o seu trabalho mental com os atletas. Na era Abel Ferreira, o Palmeiras se mostra resistente, um time que, quando tudo parece perdido, consegue invocar uma força psicológica incrível, vinda do foco de Abel, habilmente transferido para seus jogadores.

O modo como o Palmeiras voltou para o segundo tempo depois de estar perdendo por 3 a 0 contra o Botafogo foi incrível. O "universo da bola" é verdadeiramente infinito, pois em 2000, no antigo Parque Antártica, o Palmeiras vencia por também 3 x 0 no primeiro tempo contra o Vasco, na final do extinto torneio Mercosul. O Vasco, com um elenco de peso, incluindo Romário, Juninho Pernambucano, Júnior Baiano, Juninho Paulista e outros, voltou diferente do intervalo e virou o jogo para 4 x 3. Só não foi idêntico ao que o Palmeiras fez porque naquele dia quem teve um jogador expulso foi o vencedor (Júnior Baiano tomou o vermelho) e não o derrotado, caso do Botafogo de ontem que perdeu o Adryelson. Mas ambos viraram um jogo perdido fora de casa, e o Palmeiras, personagem dessas duas partidas, dessa vez estava do lado vencedor.

O tempo passou, o mundo mudou e, por isso, não há uma comparação válida entre os dois jogos, exceto pelo resultado e como os gols saíram. Abel mexeu com o orgulho, a personalidade, o aspecto psicológico e trouxe para fora toda a força mental dessa equipe.

Há muito tempo venho dizendo que Abel Ferreira seria a pessoa certa para fazer uma limpa na seleção brasileira, acabar com as panelas, mas pelo jeito é exatamente o que não querem que ele faça. Ele possui amplo conhecimento do futebol brasileiro, conhece todos os jogadores que atuam aqui e lá fora. Para mim, é inacreditável ouvir falar que ele nunca fez nada na Europa. Mesmo sem um trabalho significativo em seu continente, qual o problema? E daí? O fato é que ele está aqui há três anos e conquistou títulos que nenhum treinador brasileiro conquistou em vários anos de trabalho.

Não sei se o Palmeiras será o campeão, pois a vantagem do Botafogo ainda é muito boa: três pontos à frente, um jogo a menos e duas vitórias a mais. No entanto, sem dúvida alguma, o lado psicológico, a confiança e a autoestima estão totalmente favoráveis ao time verde.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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