O Botafogo perdeu o campeonato para a sua soberba?
'Hoje, sim, hoje, sim, hoje, não!'
Essa frase, que eu inverti, ficou para a história do automobilismo nacional e virou uma marca positiva do meu amigo narrador Cléber Machado. É muito usada em vários comentários do esporte quando se acha que alguém irá vencer o campeonato e acaba perdendo, e também em publicidade. Chegou a hora de analisarmos o que aconteceu com o Botafogo.
'Existem coisas que só acontecem com o Botafogo.' Essa frase virou um jargão do time da Estrela Solitária, mas em 2023 ela passou dos limites. Depois do primeiro turno que fez, ganhando todas as partidas no seu estádio Nilton Santos, voltou para o segundo turno e fez uma campanha catastrófica jamais vista.
Na realidade, nunca vimos o que aconteceu no primeiro e no segundo turno do Botafogo nesse Campeonato Brasileiro. Da primeira até a 19ª rodada, todos viam o título nas mãos do ex-time do mágico Garrincha. 'O Botafogo só perde o campeonato para ele mesmo.' Foi uma das frases mais faladas nos programas esportivos em todas as plataformas que existem. 'A briga agora é para ver quem será o vice e para o G4.' Outra muito usada em textos e debates sobre o campeonato, e acredito que não tenha existido um só especialista que não tenha usado uma dessas duas frases.
Eu falei várias vezes que o Botafogo seria o campeão e que só perderia para ele mesmo, e foi o que se confirmou. O maior adversário do Botafogo nesse campeonato foi tudo o que começou a acontecer no final do primeiro turno em diante. Começando pela saída do Luís Castro, que tinha o controle total do seu time com conhecimento por inteiro, até onde cada jogador podia chegar, além do seu profundo entendimento tático para montar uma equipe.
Demorou muito para se resolver, mas aparentemente não interferiu no psicológico do elenco. Ele saiu e ficou o Cláudio Caçapa em seu lugar, e tudo continuou fluindo naturalmente. Caçapa tinha a confiança de todos, foi inteligente em manter o que estava sendo feito, mas não é um treinador, e sim funcionário do John Textor, mais diretamente ligado ao Lyon, portanto, era provisório mesmo.
Nesse meio tempo, os jogadores se uniram e foram falar com a direção para dizer que o elenco desejava ter o Lúcio Flávio como treinador. Me lembro que num programa do UOL falei que era bem interessante esse movimento, mas que era uma grande responsabilidade e que depois dessa atitude teriam que bancar em campo a escolha que fizeram.
Pois bem, não bancaram por diversos motivos, e um deles foi a soberba que dominou a cabeça de boa parte do elenco. Se formos analisar como terminou o campeonato, fica claro que, ao invés de ter tomado a virada do Palmeiras e do Grêmio, tivesse empatado e vencido só uma partida, teria sido campeão brasileiro mesmo com o péssimo segundo turno que fez.
Nunca foi tão fácil para um clube ganhar um campeonato como esse igual este ano com o Botafogo, mas também foi a perda de título mais desastrosa da história do Campeonato Brasileiro desde o seu início com esse nome em 1971. Perderam a força mental, técnica, tática, porque o forte do Botafogo foi o futebol coletivo, e isso também foi perdido no segundo turno. O sucesso subiu à cabeça de alguns jogadores do elenco.
Perderam o foco e talvez tenham achado que o título chegaria naturalmente e não se importaram profundamente quando começaram a perder. Quando veio o medo protetivo, já era tarde demais.
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