Desculpe, Seo Zagallo: essa não vai dar para a gente engolir!

Foi revolucionário taticamente, fazendo um ponta esquerda que recuava ao meio-campo para ajudar na marcação, criando o chamado terceiro homem. Na sua época o esquema que se jogava no Brasil era 4-2-4, mas com ele o meio-campo ficava com três.

Surpreendeu o mundo nas Copas em que disputou como jogador, pois naquela época não havia imagens e muito menos intercâmbio de estilos de jogo, ninguém conseguia copiar o Brasil.

Em 1970, no México, repetiu a dose tática, fazendo Rivellino fazer o mesmo pelo lado esquerdo, e foi o futebol mais espetacular já visto numa Copa do Mundo. No México se tornou o primeiro a ser campeão mundial como jogador (58 e 62) e técnico — feito repetido depois pelo alemão Franz Beckenbauer e pelo francês Didier Deschamps.

Zagallo dedicou-se de corpo e alma durante toda a sua vida à camisa "amarelinha".

O que era para alguns motivo de piada, para ele esse amor e dedicação vinha do fundo do seu coração. Espontâneo e sincero. Realmente el amava a seleção brasileira.

Fez trabalhos memoráveis também pelos clubes por onde passou, como Botafogo, Flamengo, Fluminense, Vasco da Gama e a Portuguesa, só para dar alguns exemplos.

Foi ainda tetracampeão como coordenador técnico de Carlos Alberto Parreira, nos Estados Unidos, em 1994, e vice-campeão do mundo na França, em 1998, novamente como treinador.

Dono de frases incríveis, como na Copa da Alemanha (1974), quando disse sobre a Holanda: "Aí sim, fomos surpreendidos novamente." Também é conhecido pela sua superstição com o número 13.

Outra frase histórica de Zagallo foi logo após a vitória sobre a Bolívia por 3 x 1, na Copa América de 1997, quando a imprensa pegava no seu pé: "Vocês vão ter que me engolir."

Zagallo é o treinador mais respeitado na história do futebol em qualquer lugar do mundo. Os amantes do futebol sabem quem ele foi.

É uma grande referência para todos os treinadores que hoje em dia não encontram alguém tão apaixonado pela sua seleção como ele foi pela brasileira..

As mudanças e a falta de identidade entre os jogadores atuais e a camisa da seleção brasileira incomodam muito, principalmente quando vemos figuras como Zagallo e toda a geração mais antiga que não ganhava muito dinheiro, mas amava defender a amarelinha, como ele gostava de destacar.

Eu tinha uma página inteira para escrever no jornal Estado de São Paulo (Estadão) e usava para conversar com pessoas de todas as áreas. Fiz isso com Zagallo e dediquei colunas inteiras que dividi em três publicações. Foi maravilhoso.

Ele foi muito gentil e solícito, e a conversa durou cerca de 3 horas. Ele adorou o tipo de conversa que tivemos, que foi uma troca de ideias e não apenas perguntas e respostas. Ficou incrível.

No final de 2022 perdemos o Rei do futebol Pelé e no início de 2024 perdemos o Seo Zagallo. Os dois personagens brasileiros mais importantes da história do futebol mundial e sem dúvida os mais respeitados em toda a história.

Ninguém ganhou tantas Copas do Mundo como esses dois juntos.

Quero deixar um beijo a toda a família do Seo Zagallo.