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Dorival quer 'esconder' problemas e até Venezuela joga mais que o Brasil

A seleção brasileira faz nesta sexta-feira (28) seu segundo jogo pela Copa América contra um tradicional adversário, o Paraguai. Sempre foi uma partida complicada, mas com elencos bem melhores do que esses que as duas seleções têm hoje.

Vou começar pela coletiva do Dorival Jr., que disse que nenhuma seleção entre Copa América e Eurocopa havia jogado mais que o Brasil jogou contra a Costa Rica. Um dos nossos problemas é esse: querer tapar o sol com a peneira, tentando distorcer ou criar uma narrativa completamente fora da realidade.

O Brasil teve enorme volume de jogo contra a Costa Rica, mas com um futebol chatíssimo, sem criatividade, e não conseguiu fazer um gol sequer para vencer um time que não finalizou contra a meta brasileira. Merecia vencer? Sim, mas não criou nada que a gente possa dizer que perdemos uma chance clara de gol.

O futebol brasileiro continua se comportando como se vencesse todos com facilidade e como se fôssemos campeões de tudo, e a nossa realidade não é essa. Um exemplo de uma seleção que está jogando bem melhor as rivais na Copa América é o Uruguai. Em duas partidas, marcou oito gols e sofreu apenas um. Na primeira rodada, venceu o Panamá (que se equivale à Costa Rica) por 3 x 1, e ontem (27), goleou a Bolívia por 5 x 1 com muita imposição, com um time supercombativo e intenso.

Contra o Paraguai, o Brasil precisa mostrar muito mais do que fez contra a Costa Rica, começando com a formação tática. Será inadmissível jogar novamente com dois volantes contra uma equipe que se fechará e arriscará um contra-ataque ou outro, se der, porque o primeiro objetivo do Paraguai será conseguir um empate.

Hoje em dia, todo mundo sabe como jogam os rivais, e a falta de criatividade e de agressividade da seleção brasileira é explorada pelo adversário. É início de trabalho e será só a segunda partida oficial nas mãos do Dorival Jr., mas não será vivendo num universo paralelo que a seleção jogará melhor. Muito pelo contrário, o certo seria encarar o verdadeiro momento atual da seleção brasileira para que a cobrança da torcida e da imprensa seja compatível com esse momento.

Porque se o Dorival Jr. diz que a seleção brasileira jogou muito bem contra a Costa Rica (o que não é verdade), a cobrança será baseada nisso: por que não criou nada e não conseguiu marcar nenhum golzinho se jogou tão bem? Simples, porque na verdade não jogou tão bem assim, e não será criando narrativas que os torcedores irão ver coisas que não existem.

Tem outra seleção que está jogando muito mais que o Brasil, que está na nossa frente nas Eliminatórias e já está classificada para a próxima fase da Copa América: a Venezuela, que foi por muito tempo saco de pancadas, venceu as duas partidas contra seleções muito mais conceituadas que a Costa Rica. Na primeira rodada, venceu o rival Equador por 2 x 1 e confirmou a sua classificação antecipada vencendo o México, que vai em todas as Copas, por 1 x 0.

Portanto, a Venezuela já está jogando muito mais que o Brasil, professor Dorival Jr. Para as coisas começarem a melhorar, é preciso ter transparência, até porque nós estamos assistindo à seleção jogar e não tem como criar narrativas paralelas com aquilo que estamos vendo. Se a escalação e o esquema tático forem os mesmos, o Dorival Jr. já vai estar repetindo os mesmos erros do primeiro jogo, porque enquanto ele achar que o time jogou bem e ninguém foi melhor, não mexerá na equipe.

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A questão principal é a seguinte: será vergonhoso se o Brasil lutar para ser um dos melhores terceiros ou se for eliminado na primeira fase. Se não vencer o Paraguai, precisará vencer na terceira rodada um time que, hoje em dia, é bem melhor que o Brasil: a Colômbia, que também jogará hoje contra a Costa Rica e, se vencer, já está garantida nas oitavas de final, assim como Argentina, Venezuela e praticamente o Uruguai.

Nos anos 80, o saudoso Jô Soares tinha um personagem, o Zé da Galera, que pegava um telefone e ligava para o técnico Telê Santana e gritava assim: "Bota ponta, Telê!" Porque o Telê gostava de fazer um quadrado no meio-campo com Falcão, Cerezo, Sócrates e Zico, sem o ponta-direita. Hoje em dia, se esse mesmo personagem se ligasse para o Dorival Jr., gritaria assim: "Tira um volante, Dorival!".

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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