Volta de Marta não pode ser um problema para a seleção em busca do ouro
Nesse sábado (10), às 12h, teremos a grande final olímpica do futebol feminino pela disputa da medalha de ouro entre Brasil e Estados Unidos. A seleção brasileira fez uma fase de grupos muito ruim e só se classificou como uma das melhores terceiras colocadas porque uma combinação de resultados nos ajudou. Não criei muitas expectativas, mas o time do Arthur Elias cresceu nas quartas de final, na vitória (1 x 0) contra a França, e, principalmente, na semifinal contra a Espanha (4 x 2). Agora, chega para essa final muito confiante, sabendo que tem chances reais de surpreender as americanas.
A volta da Marta, depois da suspensão de dois jogos pela expulsão no último jogo da fase de grupos, na derrota por 2 x 0 para a Espanha, não pode ser um problema ou criar insegurança nas meninas que jogaram nas duas vitórias. A Marta é um grande reforço, independentemente de sair como titular ou não. O Arthur Elias é um treinador muito experiente, vencedor e sabe muito bem trabalhar o lado mental das suas jogadoras, porque fazia isso muito bem enquanto esteve no Corinthians. Ele transformou a equipe feminina do Corinthians na melhor equipe da América do Sul e, ao mesmo tempo, não deixou que a euforia e o deslumbre tomassem conta de suas jogadoras, tanto que as meninas nunca perderam o foco, mesmo ganhando um título atrás do outro.
Para começar, convocou muito bem, fazendo uma base com jogadoras atuais do Corinthians e também com outras que jogaram lá com ele como treinador. Ele levou para as Olimpíadas de Paris seis jogadoras atuais e mais sete que treinou no Corinthians: Tamires, Yaya, Jeniffer, Yasmin, Gabi Portilho e Duda Sampaio continuam no Parque São Jorge. Tarciane e Adriana saíram agora, e ainda temos Kerolin, Ana Vitória, Antônia, Gabi Nunes e Tainá, que já haviam saído antes. Fez o certo, montou um grupo em que a maioria jogou junta, já treinadas por ele, e com isso o entrosamento foi mais rápido. Sem contar que ele sabe profundamente quanto essas meninas conseguem render, e o mais importante de tudo é que são jogadoras vencedoras, acostumadas com finais, porque vêm jogando esse tipo de jogo faz tempo e ganhando na maioria das vezes.
A equipe se encontrou taticamente nos dois últimos jogos e, na minha visão, o Arthur não deveria mudar a estrutura para essa decisão. Vejo a Marta muito importante para esse jogo, mas entrando depois, porque o futebol tem algumas coisas que não vale a pena mexer, e uma delas é mudar a estrutura tática de uma equipe que venceu dois jogos seguidos contra equipes favoritas, principalmente se uma delas é a atual campeã do mundo. Esse tipo de vitória cria uma segurança interna incrível nas jogadoras, além de fortalecer o grupo.
Se eu fosse o treinador, chamaria a Marta para uma conversa e mostraria a ela que sua importância continua sendo enorme, mas de uma outra maneira. Numa final, não se pode pensar em homenagens, gratidão ou história; precisa-se sim pensar em formar uma equipe titular coesa, compacta, segura e equilibrada para enfrentar uma potência, desde sempre, da modalidade, que são os Estados Unidos. A presença da Marta no banco cria um fato novo, pois ela pode entrar e mudar o ritmo técnico do jogo.
A Marta não foi eleita por seis vezes a melhor do mundo à toa, mas sim pelo enorme talento que tem, gerando respeito e criando um temor enorme nas adversárias. Só para dar um exemplo: eu sempre falei que o Dunga errou em não levar o Ronaldinho Gaúcho para a Copa de 2010, para ficar no banco e entrar em momentos estratégicos. Imagine o Brasil vencendo a Holanda por 1 x 0 e o Ronaldinho levantando para aquecer o barulho que iria causar no estádio e a preocupação dos jogadores holandeses. Esse efeito pode acontecer positivamente para o Brasil assim que a Marta começar a aquecer para entrar, com qualquer resultado.
O trabalho é em grupo, e num torneio de tiro curto, como mundiais e olimpíadas, exigem estratégias diferentes em alguns momentos. Acho que, para essa disputa de medalha de ouro, a estratégia deveria ser não mexer na estrutura tática do time e usar a Marta no momento propício, seja para tocar a bola com o Brasil vencendo, seja com o time empatando, podendo ir para a prorrogação, ou, por fim, se estiver perdendo, ela entra para dar mais criatividade e agressividade necessária para tentar virar o resultado. Mas o importante é que a volta da Marta não é um problema, e sim uma solução, com ela em campo ou no banco.
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