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A contusão do Pedro é uma fatalidade, e ele voltará ainda mais forte

Para todo jogador, qualquer tipo de contusão mexe muito com o emocional e, conforme a gravidade dela, abate bastante o psicológico. Principalmente quando esse jogador está em um bom momento, perto de um grande jogo, de uma final ou por estar servindo a sua seleção.

Comigo, isso já aconteceu algumas vezes e, até hoje, quando penso naquele momento, imagino como teria sido diferente caso eu não tivesse me machucado. Na Copa dos Campeões (a Champions League de hoje), na segunda partida das oitavas de final entre Brøndby (Dinamarca) e Porto, rompi todos os ligamentos do tornozelo esquerdo e faturei a fíbula (antigo perônio). Faltavam dois meses para a final de Viena e, se o Porto chegasse até lá, eu provavelmente estaria fora.

Fiz a cirurgia e me dediquei ao máximo na fisioterapia para tentar me recuperar até lá. Fazia fisioterapia pela manhã e à tarde, mas, mesmo assim, seria difícil porque o elenco era grande e muito qualificado. Faltando uns quinze dias, o jogador Fernando Gomes, que fazia dupla de ataque comigo, sofreu a mesma contusão e a expectativa de que eu me recuperasse aumentou. O treinador Arthur Jorge veio falar comigo, dizendo que, se eu estivesse bem, jogaria a final.

Bom, na véspera da final, fiz um teste no estádio de Viena e não estava 100% para uma partida daquela magnitude, então fiquei no banco e fomos campeões europeus da temporada 86/87. Perder aquele jogo por causa de uma contusão foi difícil para mim, porque até hoje me imagino jogando aquela partida e fazendo gols. É uma marca que fica para sempre em um jogador.

Peguei esse exemplo para falar sobre o Pedro, que está em uma grande fase, sendo o maior artilheiro brasileiro do ano e pronto para ser o titular da camisa 9 da seleção brasileira. Ele foi para a Copa do Qatar em 2022 e, mesmo merecendo ser titular, o Tite o deixou de fora do time. Na eliminação contra a Croácia, entrou e não se escondeu na hora da decisão por pênaltis, tanto que fez o seu.

Mas o seu momento era esse: maduro, com uma evolução enorme nos fundamentos. Tanto que o Pedro sabe fazer tudo o que um centroavante precisa. Cabeceia muito bem, tem um ótimo domínio de bola, finaliza bem com os dois pés, tem um perfeito controle de bola. Enfim, ele seria o cara do momento com a 9 amarelinha.

Não foi convocado para a Copa América, que, na minha visão, foi um grande erro do Dorival Jr., mas foi agora para os jogos contra o Equador na sexta-feira (6), em Curitiba, e contra o Paraguai na terça-feira (10), em Assunção. Mas, no segundo treino, acontece a fatalidade de ter uma torção no joelho e romper o ligamento cruzado. É uma contusão grave, porque tira o jogador de ação por uns 8, 9 ou até mais meses. Requer uma cirurgia agressiva e uma fisioterapia longa, que o Pedro já conhece, porque já teve essa contusão no outro joelho.

Aí, como os tempos são esses, começa-se a procurar culpados ou razões para explicar a contusão que ele sofreu. Não deveria ter voltado agora, porque vem de uma contusão na coxa e talvez ela não estivesse forte o suficiente para segurar o joelho. Especulação! O calendário, a data Fifa, o Flamengo... todos são suspeitos de terem acelerado a volta do Pedro. Especulação!

Na maioria das vezes, essas contusões não têm explicação, porque você torce o joelho e, dependendo do giro, o ligamento rompe mesmo. Tive também essa contusão na pré-temporada na Itália, em agosto de 1988. Era uma partida-treino que já estava 5 a 0 para nós, e, no intervalo, pedi ao treinador para me tirar, porque estava cansado, pois estávamos treinando forte. Ele me falou para eu ficar só mais uns 15 minutos, porque havia chegado um novo atacante, Borislav Cvetkovic (iugoslavo/servio), e queria que eu o ajudasse no entrosamento da equipe. Eu concordei.

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Voltei para o segundo tempo e, logo no começo, saí para fazer a tabela com o lateral, com o zagueiro nas minhas costas, e, quando a bola chegou, fiz de conta que iria devolver a bola para o lateral e girei para o lado direito. Mas o zagueiro travou meu pé esquerdo e pronto, rompi o ligamento cruzado. Culpa do zagueiro? Não. Culpa do treinador que não me tirou no intervalo? Não. Culpa do preparador físico? Não. Fatalidade! Mas, por causa disso, perdi praticamente todo o campeonato italiano, só voltando nas últimas oito rodadas.

Eu havia feito uma grande temporada 87/88 e sonhava em repetir o desempenho para, definitivamente, ir para um grande clube, já que a Sampdoria e a Fiorentina já haviam falado comigo. Mas tudo foi por água abaixo por causa dessa contusão. O Pedro sabe muito bem que essas, infelizmente, acontecem e, 90% das vezes, é uma fatalidade, sem culpados.

Eu lamento muito pelo que aconteceu com ele, porque sou seu fã e já escrevi e falei isso diversas vezes. O Pedro é o melhor centroavante que temos e já deveria ser o titular desde as eliminatórias para 2022. Desejo toda sorte do mundo na recuperação dele e, como ele mesmo sabe, mas não custa lembrar: a fisioterapia é a parte mais importante para uma recuperação de ligamento cruzado, porque, se não for feita corretamente, o enxerto pode ficar frouxo e ter que repetir a cirurgia, ou não ficar firme e ficar com o joelho instável, com risco de romper novamente.

Essa contusão é igual à do Neymar, que irá completar 1 ano sem jogar, porque realmente a recuperação é difícil...

  • Viña rompeu de um jeito
  • Galoppo de outro
  • Neymar de outro
  • Ferraresi foi diferente dos outros
  • Dudu
  • Atuesta
  • Pedro rompeu duas vezes, um em cada joelho, em situações diferentes

Ruptura de ligamento cruzado acontece de diversas maneiras diferentes e só tem um responsável quando o adversário atinge maldosamente o jogador. Como foi com o Zico em 1985 no jogo contra o Bangu depois de um entrada criminosa do zagueiro Marcio.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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