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Como Rock In Rio de 1985 realizou o sonho da juventude da época

Hoje começa aquele que foi o primeiro grande festival de rock e todos os gêneros da América do Sul, que é muito marcante na minha vida. Essa sexta-feira (13) me fez fazer uma viagem emocional no tempo, que mexe muito comigo por diversos aspectos.

Sim, é como entrar na máquina do tempo e cair no dia 19 de janeiro de 1985, que foi a noite do heavy metal. Foi esse show que eu assisti junto com dois amigos que adoram. Fui com o ex-goleiro e saudoso amigo, desde a adolescência, Sollitinho. Nós jogamos juntos no juvenil A e B do Corinthians nos anos 70 e viramos companheiros, parceiros, amigos de muitos shows, viagens, loucuras. Não tem um só dia que, em algum momento, eu não me lembre dele e de algo que fizemos juntos, porque foi uma linda relação de amizade e amor.

O lateral-direito Ismael também estava nessa viagem. Nós estávamos sempre juntos em festas, shows, e ele estava comigo em um dos momentos mais emocionantes da vida, que foi o meu primeiro encontro com o gênio Luiz Gonzaga, mas essa história é para outro texto.

19 de janeiro de 1985 foi um sábado, e o Corinthians já estava na pré-temporada. Treinamos pela manhã e saímos do Parque São Jorge com meu carro rumo à Cidade do Rock, em Jacarepaguá. O show daquela noite começou com Pepeu & Baby, que eram o máximo naqueles tempos, e depois vieram grandes bandas, todas se apresentando pela primeira vez no Brasil.

Na sequência, veio Whitesnake, com David Coverdale nos vocais. Era uma banda desconhecida no Brasil e foram chamados às pressas para tocarem no lugar do Def Leppard, por causa do acidente do baterista Rick Allen com sua Corvette, em 31 de dezembro de 1984, que teve seu braço amputado aos 21 anos, mas isso não o impediu de continuar na banda.

Depois do Whitesnake, entrou no palco uma das maiores atrações e também uma das mais esperadas do festival: Ozzy Osbourne, que havia saído (demitido) do Black Sabbath fazia pouco tempo e já era um ícone do heavy metal mundial. Escolhemos esse dia exatamente por ele e pela banda que fecharia a noite. Sua entrada no palco foi triunfal, com tudo escuro e com os mais fanáticos lá na frente, com cruzes e velas acesas, enquanto a banda fazia a introdução da música "Sabbath Bloody Sabbath". Daí em diante, foi tudo muito incrível e achei que a organização vacilou em colocá-lo como antepenúltimo, e vou explicar por quê.

Depois dele, entrou o Scorpions, que também era bem legal, mas tinha um rock mais melódico, que eu não gostava muito. Porém, para fechar a noite, veio uma das bandas mais incríveis da história do heavy metal, a banda britânica/australiana AC/DC, que foi um dos shows mais incríveis que vi na vida. Eu assisti a todos os shows que o AC/DC fez no Brasil: em 1996, no Pacaembu, e em 2008, no Morumbi.

Aquele festival foi o mais incrível porque foi o primeiro, e 90% das bandas e músicos estavam no Brasil pela primeira vez, tocando para 200/300 mil pessoas. Gente de todo canto do mundo foi para a Cidade do Rock para curtos 10 dias intensos de rock, heavy metal, MPB, new wave, jazz... Foi uma mescla inacreditável.

Eu já havia assistido ao Queen, no Morumbi, em 1981, junto com o Sollitinho, e foi o imenso sucesso daquele show que fez a criatividade do Sr. Roberto Medina idealizar esse inimaginável festival de rock em terras brasileiras.

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Hoje tem início o Rock in Rio para comemorar os 40 anos de festival, mas que, na verdade, está fazendo 39 anos, porque o primeiro foi em 1985 e não em 1984. Mas pouco importa, só acho que as chamadas, as matérias, os comentários deveriam esclarecer isso.

O festival atual é muito diferente do primeiro. Eu, como sou do rock, sinto falta de bandas mais conhecidas, mais históricas, mas os tempos mudaram, e, para mim, tudo bem. Essa ideia do Roberto Medina fez o sonho de muitos jovens dos anos 60, 70 e 80 se realizarem, inclusive o meu. Quando saía com meus amigos por São Paulo no final dos anos 70, a gente sempre imaginava assim:

"Já pensou se os Beatles voltassem e fizessem um show no Morumbi?"

"E se fossem os Rolling Stones?"

Pois bem, fora os Beatles, o Rock in Rio do Medina abriu as portas para tudo o que aconteceu, musicalmente relacionado ao rock, de 1985 em diante. Assisti a shows incríveis porque as bandas conheceram o Brasil através de uma ideia incrível do Sr. Roberto Medina.

Obrigado, Medina, porque você realizou o sonho da juventude da minha geração.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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