Casagrande

Casagrande

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
OpiniãoEsporte

Bruno: Um monstro disfarçado de goleiro

"A Vítima Invisível: O Caso Eliza Samudio". A Netflix estreou hoje um documentário muito forte, emocionante, doloroso e revoltante. Detalhadamente, com vários depoimentos de pessoas importantes dessa história macabra e cruel.

Entre tantos depoimentos, há muitos da Eliza Samudio alertando em entrevistas, fazendo boletins de ocorrência sobre as ameaças de todos os tipos que o ex-goleiro Bruno estava fazendo contra ela. Publicamente, quem poderia imaginar que o ex-goleiro do Flamengo tinha um péssimo caráter e um instinto frio, cruel e assassino?

Eliza tinha vários sonhos. Apaixonada por futebol, inclusive era uma ótima goleira e queria ser profissional e jogar fora do país. A história não é sobre um assassino cruel, mas sobre uma garota jovem, cheia de vida, bonita, que vinha de uma infância complicada, mas determinada a ser jogadora, que infelizmente encontrou pela frente um verdadeiro monstro.

Por ser muito bonita e ao tentar a vida em São Paulo, e por não ter sido do jeito que ela imaginava, ficou vulnerável e, obviamente, foi assediada para fazer filmes de conteúdo adulto, por precisar de dinheiro. Vamos deixar claro que pouco importa o que ela fazia da vida; o que era ou deixava de ser, ninguém tem o direito de decidir quem deve continuar vivendo ou morrer.

O que o "Monstro Bruno" planejou e realizou com um requinte de imensa crueldade com Eliza foi uma covardia macabra. Para quem não se lembra, em uma entrevista, ele soltou uma das frases mais machistas e ignorantes daquela época, no Dia Internacional da Mulher de 2010. Questionado sobre uma briga entre Adriano e sua mulher da época, ele falou o seguinte para os jornalistas: "Qual de vocês nunca brigou com uma mulher? Quem aqui nunca deu um tapa em uma mulher?".

Pelo jeito, agredir uma mulher fisicamente era normalíssimo para Bruno, inclusive mandar matá-la, esquartejá-la e dar seu corpo para os cachorros comerem. Ela foi à polícia, foi à mídia, tentou pedir ajuda para todo mundo, mas uma juíza não deu uma medida protetiva porque, obviamente, as carteiradas sempre funcionaram muito bem no Brasil.

É exatamente por isso que Eliza era uma "vítima invisível", porque a sociedade não deu ouvidos aos seus pedidos de socorro. Todos os depoimentos que estão no documentário contam a mesma história, mesmo sendo de grupos de pessoas distintas. Inclusive, o depoimento da delegada que também participou do caso, Alessandra Wilke, é fortíssimo e claríssimo em relação ao tamanho da perversidade de Bruno e sua gangue de assassinos covardes.

Não vou falar sobre Dayane, ex-mulher de Bruno, nem do assassino frio e calculista Macarrão, porque existem diversas pessoas envolvidas direta ou indiretamente nesse caso. Mas o depoimento decisivo foi o do delegado Édson Moreira, contando todos os passos até acumular o máximo de provas possíveis, junto com as contradições das falas do "Monstro Bruno", até o dia das prisões.

Foram nove pessoas envolvidas nesse covarde assassinato de uma garota jovem e mãe de um menino. Já vou avisando que esse documentário é chocante, porque é feito só com imagens de arquivo, entrevistas reais, junto com depoimentos das pessoas nos dias de hoje. É revoltante, porque, como já sabemos tudo o que aconteceu, conhecemos a verdade dos fatos e assistimos a falas mentirosas, farsas, atuações frias e uma covardia assustadora.

Continua após a publicidade

É incrível que ainda tem gente que fala assim: "Que cara burro, tinha tudo pela frente, seria goleiro da seleção por anos e estragou toda a sua vida." Ele acabou com a vida de uma pessoa de forma "demoníaca", matou a mãe do seu filho sem ter a mínima preocupação com o futuro do menino.

O "Monstro Bruno" é um cara egoísta, narcisista, arrogante e prepotente, que se sentia um Deus e, por isso, podia fazer o que quisesse, porque ninguém era capaz de fazer algo contra ele. Um cara que, por ser um jogador de futebol de um dos maiores clubes do mundo, de maior torcida do país, achava que nada poderia detê-lo de fazer o que quisesse, seja o que for.

Bruno e sua gangue assassinaram uma garota chamada Eliza de uma das formas mais perversas que já vi. Ela foi socada, tomou coronhada, asfixiada com uma gravata no pescoço e depois esquartejada, com seus restos mortais jogados aos cachorros. O pior de tudo isso é que muitos anos se passaram e alguns jogadores continuam se sentindo Deuses, só mudando o tipo de crime; ao invés de assassinato, passaram a cometer estupros, mas a vítima continua sendo a mesma: uma mulher!

A soberba também fez de Robinho e Daniel Alves criminosos. Só que não assassinaram ninguém, mas preferiram estuprar garotas vulneráveis e frágeis. E não importa a roupa que vestiam, a hora que estavam na rua, nem o local onde elas estavam; o estupro é um crime gravíssimo, hediondo e muito perverso.

O documentário é muito bem feito, muito profundo em informações, imagens e declarações. Vale a pena assistir, mas saibam que é muito forte. A vítima na vida foi Eliza, não o monstro assassino Bruno.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Deixe seu comentário

Só para assinantes