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Luxa é um grande técnico e merece destaque por isso, não por atacar pessoas

Hoje em dia, os valores de avaliação de visibilidade das pessoas estão bem distorcidos, porque é só ir a algum podcast ou programa de TV e começar a falar mal das pessoas que dá cortes, ganha cliques, seguidores, ibope e volta ao cenário, mesmo sem dizer nada. Acompanhei as entrevistas do Vanderlei Luxemburgo e fiquei espantado com o interesse por falar mal dos outros.

Eu sempre gostei do Vanderlei como treinador e, para mim, foi um dos melhores treinadores para mexer no time durante um jogo. Ele tem um talento raro entre os treinadores, que é conseguir ler o jogo com clareza lá do banco, onde não se vê quase nada taticamente, mas ele via e mudava seu time quase sempre com perfeição. Por isso venceu diversos títulos antes e depois de 2000.

Mas vamos às entrevistas. O Vanderlei falou mal do Marcelinho Carioca, Edmundo, Romário, Felipe Luís, Tite, Dorival, Willian Bonner, Marco Antônio Rodrigues (Bodão) e Cléber Machado. Não sou advogado de defesa de ninguém e não vou fazer esse papel aqui, mas vou colocar algumas coisas que percebi sobre as falas do Vanderlei.

Dele mesmo, só falou glórias: porque EU peitei esse e aquele, porque EU não escalei ou escalei esse ou aquele, porque EU me preparei para ser campeão do mundo, porque EU deixei tudo pronto para o Felipão ser penta, porque me tiraram da Copa, porque a TV Globo e o Willian Bonner pagaram a minha ex-secretária para falar coisas de mim sem nenhuma prova, que todo dia eu estava no Jornal Nacional e até de traficante eu fui chamado e nunca provaram nada.

Uma pergunta: por que você não processou a TV Globo e o Willian Bonner por calúnia e difamação? Se você está com a razão e foi atacado dessa forma, deveria ter tomado uma atitude judicial.

Vamos voltar para o ano de 2000, porque eu acompanhei todo o trabalho da seleção brasileira desde janeiro, quando aconteceu o Pré-Olímpico em Londrina. Sempre ficava no mesmo hotel da seleção, assistia a todos os treinos, todas as coletivas, comentava todos os jogos. Enfim, eu vivi seleção brasileira desde quando o Vanderlei entrou até o dia que saiu. Fiz seus primeiros amistosos e, no ano de 1999, o Falcão cobriu a Copa América do Paraguai e eu a Copa das Confederações do México.

Voltando para o ano de 2000, a seleção brasileira fez um Pré-Olímpico espetacular, jogando um futebol incrível. Dava gosto de assistir e foi um privilégio acompanhar tudo de perto. O Vanderlei montou uma equipe, principalmente do meio para frente, com o que tinha de melhor na época. Para se ter uma ideia, o 7 era o Ronaldinho Gaúcho e o 10, Alex.

Bom, o Brasil do Vanderlei atropelou todo mundo e se classificou para as Olimpíadas de Sydney. As dúvidas começaram durante os debates sobre convocar ou não os três jogadores acima dos 23 anos. O que o Vanderlei falou sobre a Globo querer que ele levasse o Romário não condiz totalmente com a realidade, porque todos nós ficamos empolgados com o futebol que a seleção apresentou no Pré-Olímpico. Tanto eu como o Galvão apoiamos o Vanderlei na decisão de não levar ninguém, só os garotos mesmo.

Claro que, olhando para trás, pelo menos o centroavante deveria ter ido, sendo ele Romário ou Ronaldo. Teve um amistoso contra a Austrália em que o Ronaldo estava convocado e não quis ir, talvez por uma contusão, e o Vanderlei não gostou e não chamou mais. Está tudo documentado. O que falta para algumas pessoas da imprensa é checar as falas das pessoas ou se preparar melhor para poder debater com consistência.

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Na Olimpíada, ficamos todos em Gold Coast, em um hotel incrível, e estávamos sempre juntos com os jogadores e comissão técnica. Fizemos alguns churrascos, jogamos tênis, inclusive com alguns jogadores, nas horas de folga.

A verdade é que, independentemente de todas as acusações que o Vanderlei estava sofrendo — e nesse ponto concordo com ele no exagero de cobertura e atenção que deram para coisas absurdas —, por exemplo, a secretária falou que o Vanderlei levava cocaína dentro das bolas, o que era uma acusação grave e falsa. Inclusive, numa manhã, saí para caminhar e, quando voltei, tinha uma roda conversando sobre essas coisas. Estavam o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, Jorge Kajuru, Galvão Bueno, Vanderlei, e o assunto era exatamente esse absurdo sobre as bolas.

A conversa estava tensa e, quando terminei a corrida, me sentei ali e fiquei ouvindo tudo. Quando pararam de falar, perguntei assim, de uma forma para relaxar o ambiente: "Beleza, Vanderlei, essa acusação de cocaína nas bolas é um absurdo, mas só quero saber uma coisa: você trouxe a bola?"

E todo mundo caiu na risada, e ficou tudo mais leve.

Vamos ao futebol jogado, porque, na verdade, a seleção foi péssima nas Olimpíadas de Sydney. Na primeira partida, perdemos por 3 x 1 para a África do Sul, já comprometendo a classificação. Precisando ganhar as duas próximas partidas para se classificar, o Brasil venceu a Eslováquia por 3 x 1 e, com um péssimo futebol, acabou vencendo o Japão por 1 x 0. No mata-mata, foi jogar com a forte seleção de Camarões e perdemos por 2 x 1 com o gol de ouro na prorrogação, depois de um contra-ataque fatal da seleção africana, com dois jogadores a menos.

O futebol apresentado foi horrível, com a seleção entrando em impedimento o tempo todo e, naquele jogo especificamente, o trabalho do Vanderlei foi péssimo. Mas, nas entrevistas, isso foi deixado de lado. O Vanderlei Luxemburgo foi demitido pelo pacote pesado que ele era naquele momento, porque, além das acusações, o seu trabalho nas Olimpíadas foi muito ruim. Foi inadmissível a seleção brasileira, com Romário ou não, ser eliminada com dois jogadores a mais. Talvez esse trabalho nas Olimpíadas de 2000 em Sydney tenha sido o seu pior, e não dá para acusar outras pessoas por esse fracasso.

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Ninguém seria louco de demiti-lo se tivesse ao menos ganho uma medalha em Sydney com um trabalho convincente. Depois de 2000, ganhou vários títulos importantes, como dois Brasileiros seguidos em 2003 com o Cruzeiro e 2004 com o Santos, e vários estaduais. Isso mostra que o Vanderlei é um dos treinadores mais importantes da história do futebol brasileiro. Mas ir a programas para ficar atacando os outros e voltar ao cenário por causa disso, e não por suas conquistas, é um absurdo.

Não estou inventando nada; é só olhar os cortes de suas entrevistas para ver que só destacaram críticas e ataques contra outras pessoas. É uma pena, porque o Vanderlei tem que ter espaço e respeito pelo que conquistou e pelo ótimo treinador que é. Não estar atualizado não é um problema e nem um demérito, porque existem profissionais que precisam se atualizar um pouco mais em todas as áreas, assim como no jornalismo esportivo, em que hoje muitos acham que têm conhecimento de tudo.

Infelizmente, as entrevistas hoje em dia viraram provocações para que o entrevistado ataque alguém para dar audiência e cortes. O Vanderlei Luxemburgo é muito mais do que um cara que ataca as pessoas. Um cara que venceu o que venceu, que trabalhou no Real Madrid, tem muita história para contar e não precisa ficar atacando as pessoas para ser valorizado.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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