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Novo astro do Real adota símbolo do clube e dispensou United por carreira

Na manhã de 29 de junho de 2023, Jude Bellingham acordou com uma longa lista de mensagens no celular. Era o dia do aniversário de 20 anos do inglês, que fora anunciado como novo jogador do Real Madrid duas semanas antes. Nas respostas aos amigos e familiares, um detalhe chamava a atenção: além dos agradecimentos, Bellingham usava emojis de corações brancos.

Pode parecer pouco, mas pessoas próximas a Jude perceberam. Ele nem tinha começado a treinar no novo clube, mas já usava um dos símbolos da torcida madridista. Quem conhece Bellingham afirma que a troca na cor dos corações não foi por acaso. Ele é descrito pelos amigos como inteligente e atencioso aos detalhes.

Um desses amigos, que recebeu os corações brancos naquele dia, é Xiandong Ren, dirigente chinês que conheceu o novo astro do Real Madrid quando ele ainda era um adolescente em busca do sonho de ser jogador profissional. Jude era jogador das categorias de base do Birmingham City, que estava na Championship, a segunda divisão inglesa; Ren era o presidente do clube.

"Ele tem uma mentalidade especial, desde muito cedo. Tudo o que ele faz é feito com excelência", resume o chinês, em conversa com o UOL. A maturidade de Bellingham fez com que o Birmingham testasse algo raro nas divisões inferiores da Inglaterra: apostar em um jogador de 16 anos. Para ser mais exato, 16 anos e 38 dias.

Era a temporada 2019/20, e o garoto aproveitou a chance: antes de completar 17 anos, ele já havia feito 44 partidas na equipe profissional, com 4 gols marcados e 2 assistências. O Birmingham brigou até o fim para não cair para a League One, a terceira divisão inglesa. O time se salvou; e Bellingham atraiu a atenção de clubes da Premier League.

Manchester United, Wolverhampton e Leicester foram três dos clubes da elite que se interessaram pelo jovem. Os Red Devils apostaram pesado na contratação. "Ele insistiram muito, colocaram pressão. Eu diria que até demais", lembra Xiandong Ren, que participou das negociações. Em uma das reuniões, o clube vermelho de Manchester usou Eric Cantona, Ole-Gunnar Solksjaer e Alex Ferguson para convencer o garoto a assinar um contrato.

"A proposta do United era muito maior que qualquer outra. Mas Jude queria um plano de carreira. Queria ir pra um lugar em que pudesse jogar, crescer, aprender. Ele procurava um clube que desse isso a ele, não pensava no dinheiro", lembra Ren.

O clube era o Borussia Dortmund, que pagou 25 milhões de libras (R$ 157 milhões) ao Birmingham, no maior negócio da história do clube inglês. O valor foi considerado alto na época, mas a proposta do United era muito maior. Jude abriu mão de milhões de libras para manter o foco no desenvolvimento da carreira, mesmo longe da Inglaterra.

Meio-campista Jude Bellingham comemora primeiro gol da Inglaterra na Copa ao lado de Mason Mount
Meio-campista Jude Bellingham comemora primeiro gol da Inglaterra na Copa ao lado de Mason Mount Imagem: Anadolu Agency/Anadolu Agency via Getty Images

Horas antes da assinatura do contrato, veio a última tentação. O Bayern de Munique tentou atravessar o rival e ofereceu mais dinheiro ao garoto, então com 17 anos. Jude não quis nem ouvir a proposta.

A aposta de Bellingham deu certo. Em três temporadas em Dortmund ele sempre teve oportunidades como titular, tornou-se o motor do time, chegou à seleção inglesa, jogou (e fez gol) na Copa do Mundo, e foi vendido ao Real Madrid como jogador mais caro da janela de transferências até o momento: 120 milhões de euros (R$ 645 milhões).

Um número especial

Na apresentação ao Real Madrid, Bellingham recebeu a camisa número 5. O número tem um peso importante na história do clube espanhol - foi usado por Zinedine Zidane na era dos Galácticos, por exemplo.

Ainda mais especial para a carreira do inglês é outro número: o 22, que surgiu de uma brincadeira de um treinador das categorias de base. "Você pode jogar como 4 (primeiro volante), 8 (segundo volante) e camisa 10", disse o treinador. Se Bellingham era um 4, um 8 e um 10, então ele era um 22, a soma de todos eles.

Foi com o 22 às costas que Bellingham tornou-se o primeiro jogador nascido no século 21 a fazer um gol em Copa do Mundo. Ele marcou na goleada da Inglaterra sobre o Irã, na primeira fase.

No Birmingham City, clube que mostrou o garoto ao mundo, a camisa 22 já não está mais disponível para ser usada. Mas, ao UOL, um funcionário explicou que ela não foi aposentada. "A camisa está reservada, é diferente. Se um dia Jude voltar, ele poderá voltar a usá-la".

O futuro de Bellingham, por enquanto, passa bem longe de um retorno ao clube de infância. A partir desta temporada, ele começa o maior desafio da carreira: ser uma estrela também no clube mais vencedor do futebol europeu.

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