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Filho, título, decepção e polêmica: os 9 meses de Raphinha longe da seleção

Um gol, uma assistência e participação direta nos principais lances de ataque da goleada por 5 a 1 sobre a Bolívia. Em seu retorno à seleção brasileira, Raphinha foi um dos destaques da primeira vitória sob o comando de Fernando Diniz. A noite em Belém terminou com festa, abraços e o reconhecimento dos companheiros.

Mas o sorriso não era apenas de alegria. Também era de alívio. Desde a Copa do Mundo, o jogador do Barcelona, de 26 anos, havia sumido das convocações. Ele não entrou nas duas listas divulgadas por Ramon Menezes, interino que comandou a seleção no primeiro semestre.

Para o amistoso contra Marrocos, Ramon deu chances aos estreantes Rony e Victor Roque; quando Richarlison foi cortado, Yuri Alberto foi chamado. Em junho, diante de Guiné e Senegal, o treinador optou por chamar Pedro e Malcom como novidades.

A ausência nas listas fez Raphinha temer pela sequência na seleção, segundo pessoas próximas ao jogador. O medo de não voltar a ser chamado era real. Afinal, todo novo ciclo de trabalho tem mudanças e há quem fique pelo caminho.

O fato de o duelo contra Guiné ter sido disputado em Barcelona decepcionou ainda mais o ponta-direita. Único brasileiro do elenco do clube catalão, Raphinha tinha a expectativa de poder jogar diante da família, que havia crescido em maio, com a chegada do primeiro filho, Gael.

Na primeira convocação de Diniz, anunciada em 18 de agosto, mais uma ausência. Raphinha só foi chamado 11 dias depois, para substituir Vini Jr., cortado devido a uma lesão. A exclusão de Antony, devido à investigação de agressões contra uma ex-namorada, abriu o caminho para voltar ao time titular, onde ele esteve na reta final do ciclo de Tite, incluindo a Copa do Mundo.

Raphinha celebra gol marcado contra o Valencia no Camp Nou
Raphinha celebra gol marcado contra o Valencia no Camp Nou Imagem: Josep Lago/AFP

Uma vida em 9 meses

No período em que esteve longe da seleção, Raphinha viveu de tudo um pouco: além da paternidade e da decepção pelas ausências nas listas da seleção, ele teve momentos marcantes no Barcelona - alguns positivos, outros nem tanto.

Contratado por 58 milhões de euros (R$ 309 milhões) e comparado a Ronaldinho pelo presidente Joan Laporta, Raphinha ainda não se tornou unanimidade no clube catalão. Mas, nos momentos mais difíceis da temporada -- quando o time não pode contar com Lewandowski e durante a lesão de Ousmane Dembelé -- o brasileiro assumiu a responsabilidade.

Ainda que uma parte da torcida não o adote como ídolo, há um consenso sobre a importância que o ponta-direita teve na conquista da Liga Espanhola. Os gols contra Athletic Club e Valencia (em duas vitórias por 1 a 0) consolidaram a arrancada do Barcelona a caminho de um título que, por todas as mudanças no elenco, parecia improvável.

Raphinha terminou a temporada com 10 gols e 12 assistências com a camisa azul e grená, superando o objetivo que havia traçado no início da temporada, que era de ter 20 participações em gols.

Os números ganham mais importância porque ele só jogou 4 partidas do início ao fim. Nas outras 46 vezes que atuou pelo Barcelona em 2022-23, ele começou no banco ou foi substituído, motivo de sua relação às vezes turbulenta com o técnico Xavi Hernández. Ao longo da temporada, o brasileiro reclamou mais de uma vez de ter sido sacado pelo técnico catalão.

O episódio mais conhecido aconteceu em 16 de fevereiro, durante duelo contra o Manchester United, pela Europa League. Raphinha havia marcado um gol e dado uma assistência na partida, mas acabou substituído aos 38 do segundo tempo. Revoltado com a decisão do treinador, ele xingou o comandante e chutou o banco de reservas.

A reação intempestiva causou polêmica entre a imprensa e os torcedores do clube catalão. Raphinha pediu desculpas a Xavi, e o treinador disse entender a frustração do jogador:

"Ele veio se desculpar, mas não é preciso. Essa é a atitude. Não vejo isso de forma negativa".

Nos meses seguintes, além de dar mais chances ao brasileiro, Xavi teve papel fundamental para que ele não fosse negociado pelo Barcelona. O treinador disse ao presidente Joan Laporta que manter o jogador no elenco deveria ser uma das prioridades.

Raphinha homenageou Vini Jr em Valladolid x Barcelona
Raphinha homenageou Vini Jr em Valladolid x Barcelona Imagem: Jose Breton/Pics Action/NurPhoto via Getty Images

Apoio a Vini Jr., expulsão e banco

Além da conquista do título da Liga Espanhola, ele destacou-se por uma atitude pouco comum na rivalidade entre Real Madrid e Barcelona: a solidariedade com um jogador do rival.

Em maio, depois que Vini Jr. foi vítima de ataques racistas no Estádio Mestalla, em Valência, o colega de seleção uniu-se aos protestos. Durante o duelo do Barcelona contra o Valladolid, usou uma camisa com a mensagem "Enquanto a cor da pele foi mais importante que o brilho dos olhos, haverá guerra".

Na atual temporada, a posição de protagonista no clube foi prejudicada já no primeiro jogo: Raphinha era um dos destaques do Barcelona contra o Getafe, quando foi expulso por agredir um rival, ainda no primeiro tempo.

O cartão vermelho rendeu dois jogos de suspensão e fez o brasileiro perder espaço na equipe. Ele voltou a ser relacionado para o duelo contra o Osasuna, mas começou o duelo no banco - o jovem Lamine Yamal, de 16 anos, ganhou a vaga de titular. O atacante só entrou em campo aos 46min do segundo tempo, substituindo Lewandowski.

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