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Sampaoli? Técnico da Fiorentina joga há dois anos sem repetir uma escalação

A demissão de Jorge Sampaoli do Flamengo foi acompanhada de uma avalanche de críticas. A falta de resultados era um dos motivos da fúria de torcedores e imprensa; a relação ruim com o elenco, também. O estilo de jogo era outro problema apontado, e um número foi usado para ilustrar o caos na gestão do argentino: 39 escalações diferentes em 39 jogos.

Na contramão do que aconteceu com Sampaoli no Brasil, há na Europa um técnico que tem sido elogiado pelo trabalho, conseguiu resultados melhores do que o esperado e chegou a duas finais sem repetir escalações: Vincenzo Italiano, comandante da Fiorentina.

Quando a Viola divulga os titulares para seu próximo jogo, há apenas uma certeza: nada será como antes. No cargo desde agosto de 2021, o técnico é dono de um recorde curioso: ele nunca escalou times iguais. São 115 jogos disputados e 115 equipes diferentes.

Os motivos que levam Italiano a mudar tanto o time são os mesmos que forçam outros treinadores a fazerem revezamentos em seus elencos: prevenção de desgaste físico, suspensões e lesões, como a do lateral-direito brasileiro Dodô, que perderá toda a temporada devido a uma ruptura de ligamento do joelho.

Mas, para chegar a mais de dois anos sem nunca escalar um time igual, é preciso um pouco mais do que isso.

"Mudar o time frequentemente é parte da filosofia dele. Agora, com a saída de Amrabat para o Manchester United, ele tem mais motivos ainda para mexer na escalação", afirma o jornalista Alain Valnegri, comentarista de futebol italiano da Movistar, na Espanha.

A partida 115 da lista de Italiano foi o empate por 2 a 2 contra o Ferencvaros, da Hungria, na Conference League. Foram cinco mudanças com relação à vitória por 3 a 0 sobre o Cagliari, pela Série A italiana, incluindo a dupla de volantes: o brasileiro Arthur e o ganês Duncan ficaram no banco; Maxime López e Rolando Mandragora foram os titulares.

Base forte e ajustes

Apesar da incrível marca de 115 escalações diferentes, Italiano costuma manter uma base no time titular, com um sistema táctico que varia entre o 4-3-3 e o 4-2-3-1. A ideia é adaptar-se de acordo com o adversário e o momento da temporada — a Fiorentina costuma disputar três campeonatos por ano: a Série A, a Coppa Italia e, nos últimos anos, a Conference League, terceiro torneio de clubes da Europa.

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Na temporada atual, por exemplo, a espinha dorsal do time tem nomes como o goleiro Pietro Terracciano, o zagueiro sérvio Milenkovic, e o lateral-esquerdo e capitão Cristiano Biraghi.

No meio, as variações são mais frequentes, mas quem mais jogou até agora foram Mandragora (16 jogos na temporada), Bonaventura (15), Arthur (14) e Duncan (14); sem Sofiane Amrabat, negociado com o Manchester United, Maxime López deve ganhar mais chances.

O ataque é o setor em que a briga é mais intensa. Dos oito atacantes do elenco, sete participaram de pelo menos oito das 18 partidas da atual temporada — incluindo amistosos. O único com vaga (quase) cativa é o argentino Nicolás González, que jogou em 12 confrontos, 11 deles como titular. O sul-americano também é o artilheiro da equipe, com seis gols marcados.

Sem improviso, com resultado

Ao contrário de Sampaoli e de outros treinadores que costumam acumular jogos sem repetir escalações, o comandante da Fiorentina não é adepto de improvisos. A partir de uma base titular, ele vai usando as opções que tem para cada posição.

Nos bastidores do clube, a atitude é vista como uma forma de valorizar o elenco e de ganhar poder ao negociar novas contratações, porque mostra que todos os contratados terão chances de mostrar serviço. Com isso, ele consegue persuadir a diretoria a reforçar a equipe.

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Um bom exemplo é o brasileiro Arthur, que passou as últimas temporadas sem oportunidades na Juventus e no Liverpool, para onde foi emprestado e jogou apenas 13 minutos na equipe principal.

Com sua política de "rodar" o elenco, o treinador vem dando frequentes oportunidades ao ex-jogador do Grêmio, que tem voltado a ganhar ritmo de jogo. Ele é o líder de assistências do time na temporada.

Os resultados da gestão de elenco de Italiano têm sido considerados bons: ele tem 57 vitórias, 23 empates e 35 derrotas à frente da Fiorentina. Nas duas temporadas desde que chegou ao clube, conquistou vagas na Conference League (foi 7º em 2021-22 e 8º em 22-23), foi finalista da competição europeia na temporada passada e também fez boas campanhas na Coppa Italia, com uma semifinal e um vice-campeonato.

É pouco provável que, com tais resultados, o treinador deixe o comando da Fiorentina antes do fim do contrato, que termina no fim da temporada atual. Mais improvável ainda é que alguém consiga adivinhar qual será o time titular contra o Napoli, às 15h45 deste domingo, pela oitava rodada da Série A.

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