Futebol pelo mundo

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Ele foi capitão de Israel sub-21, mas trocou a seleção pela Palestina

O meio-campista Ataa Jaber, de 29 anos, tem uma história única no futebol mundial. Trata-se do primeiro jogador a disputar partidas pelas seleções de Israel e da Palestina. A vida de Jaber é uma prova de que futebol e política não apenas se misturam, mas que às vezes é impossível analisar o primeiro sem considerar o outro.

Nascido em Majd al-Krum, cidade de maioria árabe no norte de Israel, Jaber começou a carreira no base do Maccabi Haifa, segundo maior vencedor da Liga nacional. Em 2015, ele foi convocado para a seleção sub-21.

Foram 8 partidas e, na metade delas, Jaber foi o capitão. Aqui, ele já havia feito história: foi o primeiro árabe a usar a braçadeira em qualquer seleção israelense. Na época, o tema causou polêmica no país.

A carreira de Ataa Jaber na seleção israelense parou por ali. Ele nunca chegou a ter oportunidades na equipe principal. À falta de chances, uniu-se o contexto político.

Futebol e política se misturam

Apesar de ter nascido em território israelense, Jaber é parte do que se convencionou chamar "Palestinos de 48" — membros ou descendentes de famílias árabes que viviam em territórios que foram delimitados como Israel no Plano de Partição da Palestina, aprovado pela ONU em 1947 e executado no ano seguinte.

"Em Israel, eles alimentam a narrativa que esporte e política não devem se misturar. Dizem que você representa sua comunidade, que terá a sua voz, e que não precisa cantar o hino nacional", disse Jaber em entrevista ao site Arab News, em setembro, três semanas antes do início do conflito atual entre Israel e o Hamas.

Foi outro conflito, em 2021, que fez com que o meio-campista tomasse uma decisão: as disputas no bairro de Sheikh Jarrah, em Jerusalém; na época, a Suprema Corte de Israel ordenou a retirada de famílias palestinas que viviam na região. Em resposta à decisão, o conflito escalou com ataques e bombardeios dos dois lados.

"Depois do que aconteceu em Shaikh Jarrah, percebi que era impossível separar política e esporte. Mesmo que eu quisesse representar os Palestinos de 48, havia melhores formas de fazê-lo", afirmou Jaber ao Arab News.

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Ataa Jaber comemora durante jogo do Neftçi: mudança incomum de Israel para Palestina
Ataa Jaber comemora durante jogo do Neftçi: mudança incomum de Israel para Palestina Imagem: Reprodução/Instagram

Um novo caminho

Na época, decidido a não jogar mais por Israel, o meio-campista já tinha se conformado em nunca mais disputar uma partida de seleções. Mas um colega, o goleiro Rami Hamadi, abriu o caminho e a mente de Jaber: comentou que, pelas raízes palestinas, ele poderia tentar uma mudança de nacionalidade na Fifa. Poderia jogar pela seleção da Palestina.

Teve início, então, um processo que levou quase dois anos. Os poucos jornalistas e dirigentes que sabiam do trâmite ficaram calados, a fim de evitar possíveis represálias.

Em junho deste ano, a Fifa confirmou que Ataa Jaber poderia defender a seleção da Palestina — a estreia aconteceu dias depois, num empate por 0 a 0 em amistoso contra a Indonésia. Desde então, ele já disputou outras três partidas; nos quatro jogos até aqui, esteve em campo nos 90 minutos.

Jaber defende atualmente o Neftçi, do Azerbaijão, terceiro colocado na última edição da liga nacional. Na temporada passada, ele foi o terceiro maior goleador do clube, com seis gols, além de ter distribuído mais seis assistências.

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Wang Shangyuan, da China, sofre marcação de Ataa Jaber, camisa 23 da Palestina
Wang Shangyuan, da China, sofre marcação de Ataa Jaber, camisa 23 da Palestina Imagem: Wu Zhizhao/VCG via Getty Images

Duelo impossível

Se a naturalização de Ataa Jaber é algo que se pode chamar de improvável, um duelo com a seleção israelense é virtualmente impossível. Devido à tensão de Israel com outros países do Oriente Médio, o país faz parte da Uefa e disputa as fases eliminatórias de Eurocopa e Copa do Mundo com equipes europeias.

O futebol de clubes de Israel também está atrelado às competições europeias, para evitar encontros com rivais da geopolítica nos campos dos torneios asiáticos.

A Palestina, por sua vez, sofre com a dificuldade para reunir sua seleção. Mais de uma vez, a equipe não conseguiu jogar por falta de vistos para deixar Israel, o que acaba transformando a seleção em uma reunião de jogadores que atuam em outros países.

Enquanto Israel luta para participar pela primeira vez da Eurocopa em 2024 — ainda tem chances de classificação no seu grupo e via playoffs —, a Palestina disputou a Copa da Ásia pela primeira vez em 2015, repetiu o feito em 2019 e está classificada para a edição de 2024, que será disputada no Qatar.

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O sonho palestino de uma Copa do Mundo ainda é distante, mas já tem data para recomeçar. Em 16 de novembro, a seleção tem marcada a estreia nas Eliminatórias do Mundial de 2026, contra o Líbano. Ainda é difícil saber se o jogo poderá acontecer na data; o que se sabe é que, se a bola rolar, Ataa Jaber estará em campo.

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